Estudante de baixa renda já é maioria em universidades federais

As universidades federais brasileiras estão se tornando mais populares. Essa é a conclusão da pesquisa lançada nesta quinta-feira (18)  pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). Segundo a consulta, as políticas de expansão e inclusão implementadas nos últimos anos foram fundamentais para que as classes classes D e E sejam hoje a maioria dos estudantes no ensino superior público.

Estudante pobre já é maoiria em universidades federais, diz pesquisa - Agência Senado

Segundo dados da pesquisa, 66,19%  do quadro de alunos, ou seja dois terços, têm origem em famílias com renda média de 1,5 salário mínimo, o que caracteriza uma alteração radical no perfil dos estudantes. Se consideradas apenas as regiões Norte e Nordeste, o percentual de estudantes com perfil Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes) atinge 76,09% e 76,66%, respectivamente. À época da primeira pesquisa, o total de estudantes com até 1,5 salário mínimo era de 44%, o que significa em um aumento de 50% de estudantes com perfil Pnaes.

Outro elemento importante é a renda per capita das famílias dos graduandos por região do país. No Nordeste, eles têm renda de R$ 710,00 em média. No Norte, R$ 716,00. No Sul, R$ 1.032,00. No Sudeste, R$ 1.050,00, e no Centro-Oeste, R$ 1.132,00. Média de R$ 916,00 por discente. Sendo o 1,5 salário mínimo (R$ 1.086,00) em 2014, quando este estudo foi realizado, os estudantes das universidades federais têm, em média, uma renda inferior ao teto do Pnaes. Destes, percebe-se que os estudantes com maior vulnerabilidade são os da área de Ciências Biológicas, enquanto os estudantes das áreas de Ciências Sociais Aplicadas e Engenharias, são os de maior renda.

No quesito cor e raça, o relatório evidencia o impacto das ações afirmativas por meio da reserva de vagas  nas universidades federais. O destaque é o percentual de 47,57% de autodeclarados pretos e pardos, que mostra que a Lei das Cotas, cumpre bem o seu objetivo. De acordo com dados do MEC, em 1997 o percentual de jovens pretos, entre 18 e 24 anos, que cursavam ou haviam concluído o ensino superior era de 1,8%; o de pardos, 2,2%. O baixo índice indicava que algo precisava ser feito.

Em números absolutos, de 2003 a 2014, os brancos eram em torno de 278 mil nas Universidades, hoje são 429 mil. Os autodeclarados pardos eram 132 mil e, atualmente são 354 mil. Já os pretos que eram 27 mil, hoje são 92 mil, o que representa que o número de negros nas universidades brasileiras triplicou, nos últimos anos.

Políticas de inclusão dos governos Lula e Dilma

No início dos anos 2000 o Brasil vivia uma realidade muito diferente da atual. Os oito anos de políticas neoliberais implementadas pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) promoveram o desmonte da educação pública brasileira. A falta de verbas chegou ao limite de universidades ficarem sem luz, além da baixa remuneração dos professores, não investimento em pesquisa e extensão, oferta ínfima de bolsas e as constantes greves que reivindicavam condições dignas de trabalho.

Quando o assunto é acesso ao ensino superior os números eram alarmantes: Entre 1998 e 2001, durante o segundo mandato do tucano, foram abertas 158.461 novas matrículas em Instituições Federais de Ensino Superior. Já no segundo mandato do presidente Lula, entre 2007 e 2010, foram 478.857 novas matrículas em universidades federais.

Esses números comprovam que o início da popularização do acesso ao ensino superior é algo recente na história do Brasil.

Reuni: Pintando a universidade com a cara do povo

Criado em 2007 pelo ex-presidente Lula, o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), provocou o início da democratização do acesso ao ensino superior no Brasil. O plano tinha como objetivo a construção de novos polos universitários no interior do Brasil, ampliação da oferta de vagas noturnas, contratação de professores e técnicos administrativos, além de novas propostas pedagógicas.

Presidenta da Andifes, a reitora Ângela Paiva Cruz, reitora da UFRN, considera importante a mudança de perfil apresentada na pesquisa, "a cara da universidade está cada vez mais a cara da sociedade brasileira. Uma universidade com maioria feminina e presença popular e negra”.

Inclusão em risco

Apesar dos números positivos, as ações do governo interino Michel Temer pode colocar em cheque os anos de esforço para promover o início da democratização do acesso ao ensino superior. O ministro da Educação Mendonça Filho (DEM-PE) sinalizou que irá cortar em 45% o orçamento das universidades federais, o equivalente a R$ 350 milhões a menos que o orçamento de 2016. Reitores já declaram dificuldades para administrar os recursos com o orçamento reduzido.