Diante de petroleiros,Lula afirma que protagonismo da Petrobras é alvo

“Em 1989 eu fui no estaleiro em Angra dos Reis, vi aquele estaleiro fechado e os trabalhadores vendendo cerveja no isopor. E decidi ali que, se um dia eu fosse presidente, ia recuperar a indústria naval do Brasil”, declarou o presidente Lula durante ato organizado pelas entidades de petroleiros, entre elas a Federação Única dos Petroleiros (FUP). Na opinião do ex-presidente, as medidas do governo interino querem liquidar com o protagonismo cnstruído no Brasil e na Petrobras.

Lula em ato dos petroleiros em defesa da petrobras - Cut/RJ

Diante de sindicalistas e representantes da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e Sindicato dos Metalúrgicos de Niterói, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, relembrou das ações do governo dele na recuperação do setor naval.

“Quando eu entrei, disse que o Brasil tinha de pensar com carinho na Petrobrás, mas a Petrobrás também tinha de pensar com carinho no Brasil. A empresa não poderia ficar comprando sondas e navios na Coréia, no Vietnã, onde quer que seja e milhares de trabalhadores ficarem desempregados”, emendou o ex-presidente, lamentando o atual desmonte da política de conteúdo nacional que possibilitou a retomada do setor.
 
Para Lula, o que está em jogo com o golpe e a Lava-Jato é o direito do Brasil e da Petrobrás serem grandes, pois “caindo a Petrobrás, caem uma série de grandes, médias e pequenas indústrias, quebra siderúrgica e é preciso discutir isso a fundo”, alertou o ex-presidente, criticando duramente o governo golpista. “Como eles não sabem governar, vão vendendo o patrimônio nacional e, de repente, esse país vai abrir mão de sua soberania para mendigar favor a outros países ricos. Porque está prevalecendo o complexo de vira-latas de quem está governando. Eles acham que tudo que vem de fora é melhor e eu acho que tudo que vem daqui é que é melhor porque tem o suor e a força do nosso trabalhador”, afirmou Lula.
 
Ele também falou sobre o julgamento do impeachment da presidente Dilma, ressaltando que os senadores não estão só cassando injustamente o mandato dela, mas também o voto de todos que a elegeram. “Hoje a gente pode dizer que está começando a semana da vergonha nacional”, declarou Lula, fazendo um chamado aos trabalhadores: “A partir desse ato, temos que começar a discutir o que cada um de nós faremos daqui para frente”. O ex-presidente enfatizou a disposição de continuar na luta:
 
– Quando deixei a presidência, pensei que fosse me aposentar. Mas a Globo fala de mim todo dia. Não adianta tentar me amedrontar. Já tenho 70 anos, mas enquanto viver vou brigar e defender os interesses de vocês. Se me faltar a voz, falarei pela voz de vocês. Se me faltarem as pernas, andarei pelas pernas de vocês. Se me faltarem as mãos, usarei as mãos de vocês.
 
“A Lava-Jato é uma farsa, que só demite trabalhadores”
 
O presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM), Paulo Cayres, afirmou que os trabalhadores farão quantos atos forem preciso para denunciar a farsa da Lava-Jato. “Mais de 70 mil postos de trabalho já foram destruídos só no setor naval pelo estrago feito pela Lava-Jato, que não quer prender bandido coisa nenhuma, quer destruir a Petrobrás para que o nosso país volte a ser submisso aos estrangeiros e nós não vamos permitir. Não vamos dar trégua aos golpistas. Nossa aliança é camponesa e operária, porque as demissões provocadas pela Lava-Jato prejudicam todos os trabalhadores. Não vamos parar por aqui, faremos muitos outros atos para denunciar a farsa dessa Lava-Jato que só demite trabalhadores”.
 
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Niterói, Edson Carlos Rocha, também criticou Lava-Jato e denunciou os impactos da operação para os estaleiros do município, que estão fechando e com a maioria dos projetos paralisados, em função dos cortes de investimentos da Petrobrás. “A indústria naval está sucumbindo no país inteiro, mas aqui em Niterói estamos com 80% da nossa categoria desempregada”, declarou, ressaltando que o estaleiro onde os trabalhadores realizavam o ato já chegou a empregar mais de 3 mil trabalhadores e hoje tem pouco mais de 300 operários.
 
 “Querem destruir a Petrobrás porque não acreditam no povo brasileiro”
 
O coordenador da FUP, José Maria Rangel, lembrou que, no início do governo Lula, em 2003, a plataforma P-43, que estava sendo construída em Cingapura, foi deslocada para o Brasil “porque um projeto de governo que acredita no povo brasileiro determinou que ela viesse a ser concluída aqui, para gerar emprego e conhecimento em nosso país”
 
– Esse é o grande diferencial que cada brasileiro deve ter em mente, acreditar no povo brasileiro. E não pode acreditar no povo aqueles que não conhecem o povo. E é isso que esses golpistas fazem. Querem destruir a Petrobrás, querem destruir as indústrias que orbitam em torno da Petrobrás porque não acreditam no povo brasileiro.
 
Zé Maria também criticou o modus operandi da Lava-Jato. “Ninguém mais acredita naquela falácia de que a Lava-Jato veio para combater a corrupção. Os grandes corruptores estão em suas mansões, curtindo o benefício da delação premiada, enquanto isso, temos mais de 11 milhões de trabalhadores desempregados, o setor de óleo e gás aos frangalhos, a Petrobrás reduzindo ano após ano os seus investimentos, na ordem de 25%. E não é por acaso que eles fazem isso. Eles sabem que a Petrobrás é o motor da economia nacional e acabando com ela, eles vão ter um clima de insatisfação na sociedade, que está possibilitando o golpe que está aí”, afirmou o coordenador da FUP.
 
Construir a greve geral
 
Todas as lideranças sindicais que participaram do ato desta quinta-feira ressaltaram a importância da resistência ao golpe e da construção de uma grande greve geral para barrar o retrocesso que está em curso no país.  
 
“Nós vamos enfrentar um período muito difícil nos próximos dois anos, mas não esmoreceremos. Essa luta contra os golpistas está apenas começando. E nós devemos selar um compromisso entre a classe trabalhadora de continuar resistindo, lutar contra o desemprego e fazer um acordo entre nós, qualquer categoria que seja afetada pelo golpe, nós vamos nos insurgir, unidos”, declarou João Pedro Stédile, da Coordenação Nacional do MST.
 
O presidente da CTB-RJ, Ronaldo Leite, também convocou os trabalhadores à resistência. “O golpe não é apenas um atentado à democracia, mas também um atentado aos direitos dos trabalhadores. Por isso, mais do que nunca, precisamos resistir e continuar a luta para restabelecer a democracia”, declarou.
 
O presidente da CUT, Vagner Freitas, afirmou que os trabalhadores resistirão até o final contra o golpe. “Começa hoje uma das facetas mais tristes da história desse país”, destacou o sindicalista, referindo-se ao julgamento do impeachment da presidente Dilma Rousseff, que teve início nesta quinta-feira, no Senado Federal. “Não é só ela que está sendo golpeada, são os 54 milhões de brasileiros que a elegeram e os trabalhadores, que estão tendo seus direitos atacados e perdendo os seus empregos. E nós temos de dar uma resposta. Vamos construir a greve geral da classe trabalhadora para impedir esse retrocesso”, afirmou.