Vandré Fernandes: Saindo do “Aquarius”

Estreou nesta quinta-feira (1º/9) o filme de Kleber Mendonça, Aquarius, que retrata a especulação imobiliária e o ato de “Ocupar e Resistir”, uma bela obra cinematográfica. Mas, além do cineasta já ter feito o ótimo filme Som ao Redor, o que o colocou em evidencia no cenário da cultura brasileira foi o ato contra o golpe no Brasil realizado sobre o tapete vermelho em Cannes.
Por Vandré Fernandes*

Aquarius - Divulgação

A manifestação da equipe fez Kleber e o filme Aquarius viverem um momento ímpar no Brasil e no mundo. Para um leigo, o cinema pode ser apenas um entretenimento. Na visão do cineasta americano George Lucas (Star Wars) não: Desde o início do cinema falado, Hollywood influência enormemente o resto do mundo. E um dos percussores do cinema, D. W. Griffity (Nascimento de uma Nação) dizia algo parecido. Para ele, o país que dominasse a linguagem cinematográfica, dominaria o mundo. Ou seja, o poder da sétima arte está muito acima das alianças parlamentares para compor uma maioria e/ou “canetar” suas leis e suas Constituições. O cinema age no imaginário, na cultura de um povo, independente de sua religião ou ideologia.

Glauber Rocha, um dos maiores expoentes do cinema brasileiro, perseguia uma nova estética atrelada aos assuntos sociais/políticos/culturais. O seu engajamento nos deu o Cinema Novo, ao lado de muitos cineastas brasileiros importantes. Seu cinema falava diretamente para o público. Isto está bem frisado na fala de Corisco em sua morte em Deus e o Diabo na Terra do Sol: Maiores são os poderes do povo. Algo não bem visto, nem quisto para os censores da época da Ditadura Militar, e talvez nem aos dias atuais.

Um dos filmes que causou o furor do Estado e da sociedade foi Rio 40 graus, de Nelson Pereira dos Santos. Na época, o filme foi censurado por mostrar a favela real nas telas, que a elite e o governo de Café Filho tentavam esconder. Chegou a constar no documento da censura que o filme era uma farsa, referindo-se aos 40º, pois segundo eles o Rio nunca tinha atingido uma temperatura tão alta. O filme foi liberado depois de muita mobilização da classe artística e intelectual.

E se o gesto de Kleber em Cannes expõe o filme, é no festival que ele encontra uma brecha para denunciar o golpe, num momento em que, se o cinema brasileiro não influência culturalmente como disse George Lucas ou Griffth, ele ecoa como Glauber.

Porém, a reação do governo golpista será a mesma de Café Filho, já que não pode censurar, tenta proibir para menores de 18 anos. Uma tentativa de enfraquecê-lo na bilheteria brasileira. Além disso, o filme ainda sofreu ataques de um dos membros da comissão que avaliará as obras para o Oscar, Marcos Petrucelli, que desqualificou o filme nas redes sociais. Sua atitude fez com que a classe cinematográfica saísse em defesa de Kleber.

Chegou às telas do Brasil inteiro Aquarius. O público, nas pré-estreias, entrou na sala gritando “Fora Temer”.

A televisão não mostrou, mas também não mostra as várias pessoas que saíram e estão saindo às ruas para gritar “Fora Temer”. Não mostrou a repressão feroz da polícia, sendo registrada apenas pelas lentes dos celulares e do revolucionário MídiaNinja, pois se não podemos ocupar as telonas como “Aquarius” e nem as TV’s dos Marinho, ainda temos a internet livre (mas não sabemos até quando).

O audiovisual é uma arma poderosa!

O cinema que denuncia, cinema que mobiliza, um Cinema Brasileiro altivo! Com lentes que falam e com a voz que pode tudo! Seja com cartazes num tapete vermelho ou com máscaras e barricadas nas avenidas, o que importa é sair do lugar comum! Nesse sentido: Fora Temer!