Alice Portugal: “Não vamos nos render ao carlismo

A trajetória política de Alice Portugal está, em grande medida, atrelada à luta contra o carlismo na Bahia – movimento liderado pelo já falecido Antônio Carlos Magalhães (ACM), ex-governador do estado, que, durante duas décadas, foi hegemônico. Aproximadamente dez anos após a morte de Antônio Carlos, que coincide com o enfraquecimento do seu grupo político, Alice volta a encarar o carlismo, que tenta sobreviver com uma cara nova, mas com o mesmo DNA.

Alice Portugal

Alice é a candidata a prefeita do PCdoB na capital baiana e a aposta da esquerda para enfrentar nas urnas o mais novo líder carlista na Bahia: Antônio Carlos Magalhães Neto, ou ACM Neto, como é mais conhecido. Em 2012, ele foi eleito prefeito de Salvador e tenta dar uma nova roupagem ao grupo do avô para se livrar da imagem marcada por autoritarismo e desmando. Uma das estratégias foi mudar o nome do partido de maior sustentação do carlismo: o PFL, que agora é DEM.

Quando assumiu a prefeitura, em 2013, ACM Neto recebeu do prefeito antecessor, João Henrique, que registrava altos índices de rejeição, uma cidade totalmente desorganizada. Não foi preciso fazer muito para o novo prefeito ser aclamado por “colocar ordem na casa”. A popularidade evoluiu durante o mandato e, neste último ano de governo, as pesquisas têm apontado liderança de ACM Neto na disputa pela reeleição.

É neste cenário que Alice, apoiada por outros quatro partidos – PT, PTN, PSD e PSB -, encarou a tarefa de enfrentar o prefeito, após uma ampla discussão sobre quem teria mais condições de encará-lo. O que está em jogo não é apenas o resultado da eleição municipal, mas também os impactos que ela poderá ter no pleito de 2018. Há quem garanta que Neto concorrerá ao cargo de governador e, já para isso, deixou de lado a atual vice-prefeita, Célia Sacramento, e escolheu como vice da nova coligação o amigo Bruno Reis. Se for tentar o governo do estado, continuará influente na prefeitura, mantendo o poder do grupo.

Na última segunda-feira (5), durante o lançamento do programa de governo, Alice tratou da questão e garantiu estar otimista, apesar do cenário que está posto. “Nós estamos combatendo o adversário mais cruento aqui na Bahia. É um desafio grande, com uma campanha de recursos esparsos, mas nós temos uma grande unidade, entre os cinco partidos e os candidatos a vereador, que estão caminhando conosco [com ela e a vice, Maria del Carmem, do PT], levando as nossas propostas para a cidade”.

Apesar da grande unidade, a candidata comunista pede aos apoiadores ainda mais força e engajamento na campanha, de modo a conseguir levar o debate para o segundo turno. Isso porque as primeiras pesquisas revelam que, mesmo com o crescimento de Alice nas pesquisas, posicionada em segundo lugar, Neto poderia vencer no primeiro turno. Chegando no segundo turno, a candidata terá mais tempo de televisão e rádio, podendo travar um debate mais qualificado.

“Temos propostas exequíveis, em um programa que está sendo debatido nos quatro cantos da cidade. A felicidade não está chegando na maioria dos bairros da cidade [uma referência à propaganda de ACM Neto, que aposta em dizer que a cidade ‘voltou a sorrir’]”, afirma. Alice explica que, com mais oportunidades de diálogo com a cidade, entre elas os debates na TV [apenas um foi marcado até agora], conseguirá fazer o trabalho de convencimento. “As pessoas estão parando para nos ouvir”, garante.

Como no passado, Alice se coloca diante do clã Magalhães, mas acredita que, por ser esse um novo momento, as condições de enfrentamento e de vitória são melhores. E tem fé. “Não vamos nos render ao carlismo. Não vamos deixar que o ovo da serpente seja chocado”, finalizou.