“Triste é viver em um país que não pode se manifestar”, diz juiz

“Vivemos dias tristes para nossa democracia. Triste do país que seus cidadãos precisam aguentar tudo de boca fechada. Triste é viver em um país que a gente não pode se manifestar”, declarou o juiz Rodrigo Tellini, do Foro Central Criminal da Barra Funda, na decisão que liberou 16 das 26 pessoas detidas pela polícia de São Paulo durante os atos pelo Fora Temer do último domingo (4). O juiz considerou as prisões ilegais e lamentou o atual momento político.

Juiz que liberou jovens em protesto - Reprodução Brasil 247

Após serem libertados, os jovens presos ilegalmente entoaram em alto e bom som: “Fora, Temer”.

O grupo ficou mais de 24 horas detido sob a acusação de “associação criminosa e corrupção de menores”. Outros 10 adolescentes, que também passaram a noite na carceragem, foram acusados por ato infracional.

A Defensoria Pública e o Ministério Público solicitaram a apuração de violência policial. Duas pessoas relatam que policiais forjaram a apreensão de objetos, o que também deverá ser investigado. Foram liberados hoje 19 adultos do total de 27 manifestantes detidos antes do protesto. Outros oito menores de idade detidos irão responder por ato infracional. Eles serão ouvidos pela Justiça no Fórum do Brás.

Em entrevista ao Jornalistas Livres, o defensor público Marcelo Carneiro Novaes disse que “em mais de 30 anos de advocacia, foi a primeira vez que vi um defensor público ou um advogado não conseguir ingressar num prédio público onde são exercidas as atividades da polícia judiciária”.

Em coletiva de imprensa, o coronel Dimitrios Fiskatoris, responsável pela operação, afirmou que os jovens “declararam que estavam reunidos para praticar atos de desordem na cidade”. Disse ainda ter o registro da declaração deles dizendo que faziam parte de “um grupo que estava reunido para praticar atos de desordem na cidade e que eram parte de várias células que estavam espalhadas pela cidade”, no entanto não apresentou as ditas provas.

A única “provas” apresentadas pela Secretaria de Segurança Pública do Estado foram de supostos pertences dos manifestantes como estilingue, pedras, garrafas com líquido não identificado (a mãe de um deles afirmou ser vinagre, para se proteger do gás da PM), celulares e chaves. Há ainda máscaras e kit de primeiros socorros. A PM afirmou haver também uma barra de ferro, que não foi mostrada nas fotos.