Jesualdo Farias: Adeus, querida

“Mais uma vez, somos jogados no abismo. Quantos anos serão necessários para que o País acorde e perceba os enormes prejuízos sociais decorrentes desta hipocrisia?”

Por * Jesualdo Farias
 

Bandeira do Brasil Branca e Preta - Reprodução

No auge das movimentações políticas que antecederam e sucederam o golpe parlamentar, não vi ao longo do País mobilizações populares à altura de tão grave acinte à democracia. De repente, mergulho numa reflexão oportuna sobre este processo. Muitos brasileiros perderam as suas vidas na luta contra a ditadura militar. Muitas mães morreram sem velar seus filhos. São corpos, jamais encontrados, de nomes jamais esquecidos.

Muitos resistiram mesmo sob tortura. Outros fugiram do País, viveram na clandestinidade e continuaram lutando. Não tinham dinheiro nem projetos pessoais. O que os moviam era a sede de justiça e de liberdade. Queriam apenas falar, sonhar, viver. Queriam o direito de votar e escolher seus representantes. Jamais aceitaram os fuzis como faróis para iluminar os destinos da nossa Pátria.

O Brasil acordou em 1985 e, após 21 anos de trevas, reconquistou a liberdade. Com a redemocratização, avanços sociais importantes projetaram o Brasil como uma nação mais justa e internacionalmente respeitada. Especialmente nos últimos 13 anos, intensificaram-se conquistas sociais que ajudaram a tirar o Brasil do mapa da fome e a conquistar a maior ascensão social já vista desde o seu descobrimento.

O que antes era privilégio das elites econômicas passou a fazer parte do cotidiano de milhões de brasileiros. Trata-se da conquista da moradia, da educação, do emprego, da saúde, do lazer e da cultura como valores indissociáveis da cidadania. Pouco mais de 30 anos nos separam do fim do pesadelo. Agora, atônitos, assistimos a um hediondo assalto a estas conquistas. Uma presidente eleita é apeada do poder, sem que se comprove, no âmbito do processo, um único crime de responsabilidade por ela cometido, ferindo de morte a Constituição Cidadã.

Mais uma vez, somos jogados no abismo. Quantos anos serão necessários para que o País acorde e perceba os enormes prejuízos sociais decorrentes desta hipocrisia? Enquanto isso, sem nenhum voto popular, a Agremiação do Cunha assume o poder. Resta-nos tão somente gritar para a nossa jovem e já agonizante Democracia: adeus, querida!


*Jesualdo Farias é professor titular da UFC

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