Arruda Bastos: Cunha, o malvado favorito finalmente se foi

“Na patética defesa na sessão da sua cassação, Eduardo Cunha, como um catatônico, verbalizou uma série de impropérios. Com argumentos que comprovam seu total desespero, de forma ardilosa, tentou como medida de salvação, vincular a sua cassação ao processo de impeachment de Dilma”.
Por *Arruda Bastos

Eduardo Cunha

“Não viva para que a sua presença seja notada, mas para que a sua falta seja sentida”. Com esta frase de Bob Marley, inicio meu artigo que tem como personagem principal o famigerado cassado Eduardo Cunha. No caso do deputado, podemos dizer que ele é um mortal que vivia para ser notado, principalmente à custa da sua conduta corrupta e marginal, e que terá sua falta sentida apenas pelos seus comparsas dos crimes e pelos que o consideravam seu malvado favorito.

Depois de intermináveis onze meses, Eduardo Cunha foi cassado por 450 votos “Sim”, 10 “Não” e 09 “Abstenções”. Votos de seus pares na Câmara dos Deputados, em número expressivamente superior ao necessário para a sua condenação. Ele parte daquela casa com a consciência do dever cumprido: inviabilizou a presidente Dilma com o boicote às propostas do governo e com as pautas bombas, recebeu o processo de impeachment contra ela sem a ocorrência de qualquer crime de responsabilidade, viabilizou a ascensão de Temer, do seu projeto Golpista e rentista ao Palácio do Planalto e durante seu período de vida política encheu as burras de dinheiro público desviado e propinas de toda espécie.

Em artigo anterior, comparei Eduardo Cunha ao famoso gangster Al Capone, pois ele é portador das mesmas “qualidades” do bandido e um fino psicopata. As coincidências são tantas que ele foi cassado não pelos seus atos de corrupção e crimes “maiores”, que são notórios e do conhecimento público, mas sim como o personagem da série “Os Intocáveis” por um crime "menor". Capone fora preso por sonegar impostos ao tesouro americano e Cunha por mentir a uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Câmara.

Na patética defesa na sessão da sua cassação, Eduardo Cunha, como um catatônico, verbalizou uma série de impropérios. Com argumentos que comprovam seu total desespero, de forma ardilosa, tentou como medida de salvação, vincular a sua cassação ao processo de impeachment de Dilma. Cunha, como Gestas, o mau ladrão do calvário de Cristo, no seu pronunciamento passou a ofender os democratas que lutaram contra o golpe. Visava, com isso, agradar os “judeus” como o personagem bíblico e, assim, talvez salvar a sua vida política. Chegou também a deixar jorrar lágrimas de crocodilo no final do seu pronunciamento. Saiu menor do processo do que entrou, muito diferente de Dilma na sua defesa no Senado.

Bobos os que pensam que o bandido está morto ou saindo de cena de forma definitiva. Como uma visagem do além, ele ainda vai assombrar muitos de seus comparsas de crimes, e olha que não são poucos, e também o governo Temer e sua trupe Golpista. A assepsia com a sua saída é passageira, primeiro pela permanência da sua gangue, ainda com assento na Casa, e segundo por ele ser detentor de informações únicas das tramóias dos maiores corruptos da nossa República. O achaque, que é uma das suas especialidades, vai continuar. Muita água ainda vai correr por baixo da ponte.

“Aqui se faz, aqui se paga” é uma expressão popular da língua portuguesa, utilizada no sentido da obtenção de justiça terrena e não só a Divina. Termino, pois, meu artigo relembrando um trecho da famosa música de Herivelto Martins e Nelson Gonçalves que tem como título a mesma expressão:

“A tanta gente humilhaste
Pra alimentar caprichos teus,
Tens que colher o que plantaste,
É lei divina, é lei de Deus”


 

Cunha cassado. Vitória da democracia. Agora, mais do que nunca, é Fora Temer, Diretas Já e Nenhum Direito a Menos!


*Arruda Bastos é médico, professor universitário, ex-Secretário da Saúde do Estado do Ceará e um dos coordenadores do Movimento "Médicos pela Democracia".

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