Guadalupe Carniel: Invasão Pirata

Competições internacionais são um charme. Não só por termos times curiosos, mas também para reforçar ideias, como por exemplo, que times argentinos são pura raça e aguante. Pela primeira vez na história, Belgrano jogou uma partida internacional. E não foi como visitante. Claro, geograficamente até foi, mas eles foram locales: dentro de campo com o resultado de 2 a 1 em cima do Coritiba em pleno Couto Pereira e fora, com a torcida fazendo uma belíssima festa.

Por Guadalupe Carniel*

Torcedores do Belgrano, da Argentina, no Couto Pereira, em Curitiba

A simpática equipe cordobesa, nascida em 1903, albiceleste que demorou para entrar no cenário nacional, já que a AFA sempre deu importância apenas aos clubes da Capital Federal, sendo que outros clubes como os sanfezinos, rosarinos ou cordobeses só apareceram mesmo para o grande público no final de 1960. E só agora, em 2016 pela primeira vez, jogou uma partida oficial internacional.

Existem equipes que sabem jogar bem fora. E o Belgrano fez uma excelente estreia: com cinco minutos de jogo abriu o placar com Bieler. A partir daí ditou o ritmo de jogo. No início do segundo tempo, Luján fez o segundo da albiceleste. No final, de penal, Leandro diminuiu para o Coxa.

Quanto à torcida, não tem como negar: ontem ficamos felizes por ainda existirem torcidas que fazem a arquibancada pulsar. Segundo o livro, Un Siglo de Pasión, de Carlo Alberto Juri Nam, a equipe foi a primeira a ter uma barra que literalmente seguia o clube para todos os lados, coisa que passou a ser copiada por outras torcidas. Em dois dias, os piratas, como a torcida é conhecida, coparam Curitiba.

Cerca de 4 mil torcedores se empolgaram ao eliminar o Estudiantes e se mobilizaram para vir ao Brasil em carros, alguns de avião e 28 ônibus em cerca de 2 mil quilômetros de viagem. Por falar em ônibus, um motorista da empresa que alugou os veículos que era hincha do Talleres postou uma foto no facebook com a camisa do time com a legenda “los lleva papá”, acirrando assim a rivalidade. Para evitar problemas, a empresa teve que trocar o motorista. E eles fizeram valer a viagem: abriram faixas, cantaram sem parar, como se estivessem em casa.

Soma-se a isso, o fato do clube não se desligar da parte política e histórica: entrar no dia que faz 40 anos do golpe de Estado na Argentina com faixas relembrando os mortos e desaparecidos. E não apenas a torcida, os jogadores também.

Enfim, voltando à Sudamericana, com o resultado la B pode perder até por um a zero em casa. E claro, a torcida promete fazer uma festa maior na terra do fernet, Córdoba.

Nem todos os piratas bebem rum, alguns bebem fernet! Salud Belgrano por su debut!