Penélope Toledo: Sobre juízes, regras e Poder

O juiz é a autoridade máxima dentro de campo, o homem do poder. Raramente volta atrás quando apita e não adianta contestar, senão leva cartão. Mas a sua autoridade é exercida com base nas regras futebolísticas, não pode ser segundo suas próprias conveniências.

Por Penélope Toledo*

Árbitro de futebol português, Artur Soares Dias

Como todo ser humano, o árbitro é falível. Só nas últimas rodadas deste Brasileirão, Atlético-PR x Internacional, Internacional x Santos, Palmeiras x São Paulo, Santos x Figueirense, Fluminense x América-MG e Corinthians x Cruzeiro tiveram suas arbitragens questionadas. Foram pênaltis claros não marcados e duvidosos marcados, gols ilegais validados e legais anulados, expulsões injustas.

Há o erro não acidental. O caso mais famoso foi na Itália, em 2004-05, com a divulgação de escutas telefônicas envolvendo a Juventus e membros da Comissão de Arbitragem, que culminou no rebaixamento do clube.

No Brasil, em 2005, um esquema de manipulação de resultados pela da “máfia do apito” foi revelado, as partidas apitadas por Edilson Pereira de Carvalho foram repetidas e o título do Corinthians é até hoje controverso.

Os “menores” são os mais prejudicados. Em seus 116 anos, a Ponte Preta nunca foi campeã, mas poderia ter sido em 1977, se o lateral Odirley não estivesse suspenso e o atacante Rui Rei não fosse injustamente expulso. Quase 40 anos depois, os pontepretanos ainda acusam a “armação” para o Corinthians ser campeão e quebrar o jejum de 22 anos.

Como se vê, erros de arbitragem ou manipulação de resultados podem ser determinantes, decidindo títulos e/ou mudando o rumo das competições. Portanto, é imprescindível que os juízes de futebol compreendam que em suas mãos está o poder de interferir diretamente na vida dos clubes e de mudar a História do futebol.

Fora de campo

Fora de campo, na sociedade, acontece igual. Os juízes também são o poder e também devem exercê-lo com base nas regras legais, não segundo suas próprias conveniências. Também erram, também se envolvem em esquemas de corrupção, também prejudicam os “menores” e também podem mudar a História.

Por isto, as suas decisões têm que ser embasadas estritamente nas regras/leis. Não se deve julgar com base em “convicções”, sem provas, ou em suposições de “domínio do fato”, assim como as vontades particulares têm que ficar fora dos campos e tribunais.

No vôlei e no tênis há o “desafio”, recurso implementado a partir de 2012 e 2007, respectivamente, em que os jogadores pedem à arbitragem para rever o lance em que se acham injustiçados e caso o tenham sido de fato, o juiz volta atrás. No futebol e na vida não tem isto. Então, para ser justos, os juízes precisam ter mais apego às regras/leis do que ao Poder.