Regina Ribeiro: Dúvida

“Sinto uma certa fragilidade em torno das denúncias contra Lula. Não entendo por que os aspectos legais comprobatórios tão fartos com outros personagens são escassos quando se referem ao ex-presidente. Se espremer a verborragia judiciária, não encontro depósitos bancários com alguns milhões, a descoberta de um trust, milhões em imóveis próprios espalhados pela orla das principais cidades brasileiras ou no Exterior, carros de luxo, joias, malas cheios de dólares e euros”.

Por * Regina Ribeiro

Lula El Pais - GERALDO BUBNIAK/EFE

Para começo de conversa, sempre considerei que o ex-presidente Lula foi conivente com o que estava em sua volta. Escrevi isso aqui quando o ex-presidente insistia em manter o ex-ministro José Dirceu na sua equipe de governo, mesmo depois das denúncias do Mensalão. Mais tarde, afirmei considerar que o ex-presidente foi relapso quanto aos atos de corrupção que apanharam seu governo e o PT. Hoje, eu considero que o PT contribuiu para derrubar uma presidente eleita e está, aos poucos, acabando com a imagem da sua principal liderança e implodindo a si mesmo. Ninguém tira a responsabilidade desse partido e de seus membros com a forma desabonadora com a qual avançou sobre o dinheiro público.

Para completar, se ficar provado que o ex-presidente Lula foi beneficiado com essa roubalheira toda, que devolva até último centavo e vá a pé para a cadeia. Sua história pela luta democrática neste país, o fato de ter tirado milhões de pessoas da miséria, o fato de ter construído uma nova classe média – que, por sinal, está voltando a ser pobre –, de ter sido chamado de “o cara” por aí afora; de ter elevado a imagem do Brasil no Exterior, nada, nada disso lhe dá o direito de agir de forma desonesta e de se apropriar de recursos públicos.

Agora, é importante dizer que, até o momento, sinto uma certa fragilidade em torno das denúncias contra Lula. Não entendo por que os aspectos legais comprobatórios tão fartos com outros personagens são escassos quando se referem ao ex-presidente. Se espremer a verborragia judiciária, não encontro depósitos bancários com alguns milhões, a descoberta de um trust, milhões em imóveis próprios espalhados pela orla das principais cidades brasileiras ou no Exterior, carros de luxo, joias, malas e baús cheios de dólares e euros, obras de arte do Damien Hirst.

Isso me deixa com dúvida sobre a Justiça, algo muito difícil, porque a Justiça deveria esclarecer, desanuviar as querelas. E a sensação mais triste que eu tenho é a de que o Judiciário brasileiro talvez esteja se afastando da Justiça e decidindo fazer política. E da pior espécie. E eu não sei o que é pior: se a judicialização da política ou a politização da Justiça.


*Regina Ribeiro é jornalista.

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