“Suportei muitas coisas”, diz Dilma com exclusividade a TV baiana

A presidenta Dilma Rousseff concedeu a primeira entrevista após a cassação do mandato à TV Educativa da Bahia, a TVE. Conduzida pelo jornalista Bob Fernandes, a entrevista foi ao ar na noite da última terça-feira (27/09) e trouxe a avaliação de Dilma sobre o processo de impeachment e sobre os últimos acontecimentos políticos.

Em relação as investigações relacionadas a Lula, recentemente denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF), Dilma defendeu a inocência do ex-presidente e disse que, apesar de saber que existe muito interesse na prisão do seu antecessor, não acredita na possibilidade. Segundo ela, aprisionar o seu antecessor seria um ato de “burrice” porque o transformaria em “herói”.

“Não acredito que eles cometam este absurdo, não porque sejam bons, mas acredito que também não são burros. Acho que transformará a prisão de uma pessoa visivelmente injustiçada em um herói. Acho que eles não irão querer. Acho que a estratégia é inviabilizá-lo para 2018. O golpe só se completa com isto”, afirmou.

Sobre o impeachment, a presidenta eleita reafirmou a tese de golpe parlamentar e argumentou que os próprios articuladores da cassação estão confirmando isso. “Eles estão confessando o golpe. A última confissão foi feita pelo presidente ilegítimo e usurpador, atual no cargo, que disse o seguinte: nós fizemos o impeachment para aplicar o programa ‘Uma ponte para o futuro’”.

O fato de ter sido a primeira mulher a ocupar a Presidência da República, em um país de baixa representatividade feminina na política, pesou sobre a decisão da cassação do mandato, na avaliação da presidenta. “Tinha e teve um viés misógino, machista em relação à figura que construíram de mim. Suportei muitas coisas.”

A prisão do ex-ministro Guido Mantega também foi criticada por Dilma, que entendeu o ato como uma afronta à presunção da inocência de Mantega e à dignidade dele. “Prender o Guido Mantega é expô-lo a uma condenação que não existe, é a condenação da mídia, e a distorção que essa publicidade dá. Lamento imensamente a prisão dele dentro de um hospital. A senhora dele está lutando contra um câncer desde o final de 2013.”

Dilma ainda questionou o fato do deputado cassado Eduardo Cunha, acusado de corrupção, não ter sido preso. “Por que prender o Mantega e deixar o Eduardo Cunha solto?”

De Salvador,
Erikson Walla