Ato reúne multidão em Porto Alegre contra PEC 241/55 

No carro de som tiveram espaço para falar: servidores estaduais ligados às fundações cuja extinção foi proposta pelo Governo do Rio Grande do Sul esta semana, estudantes das ocupações universitárias e secundaristas, centrais sindicais e mulheres. Todos unidos – cerca de 15 mil pessoas – no ato desta sexta-feira (25), em Porto Alegre (RS), contra as medidas de austeridade do governador Ivo Sartori (PMDB) e do governo Michel Temer. 

Com 15 mil pessoas, ato reúne ocupações, servidores e mulheres contra PEC 241/55 - Sul 21

Na Esquina Democrática, onde ocorreu a concentração para o ato, vários estudantes ligados às ocupações da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) se revezaram no microfone para levantar pautas e demandas. “Um recado, para os economistas que não estão na ocupação: o conhecimento serve para mudar a realidade. Um dia a história vai cobrar de que lado vocês ficaram. Nós queremos fazer da educação um processo de transformação da sociedade”, disse uma estudante da Ocupação de Ciências Econômicas e Relações Internacionais.

O professor Mathias Luce, ligado ao Comando Geral de Greve da UFRGS, também falou ao microfone em nome do grupo. Os docentes da UFRGS entraram em greve na última terça (22), em apoio aos estudantes das ocupações. “Nós não aceitamos o sucateamento da universidade pública, não aceitamos que se formem seres humanos mutilados de pensamento com essa aberração da MP 746”, declarou.

Uma estudante ligada ao Comitê de Escolas Independentes (CEI), contrário à UBES e à UNE, trouxe a questão de gênero para as reivindicações: “No ambiente escolar sofremos com diretores machistas, professores machistas e queremos dizer que agora não vamos mais deixar passar em branco”. A fala foi outra lembrança ao 25 de novembro, data da morte das irmãs Mirabal, na República Dominicana.

#NenhumaAMenos

Marcando o Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher, mulheres de movimentos e coletivos que passaram o dia em atividade para marcar o #NenhumaAMenos, se concentraram a princípio no Largo Glênio Peres. Depois, elas foram chamadas para subir à Esquina e puxar o ato – com cerca de 15 mil pessoas – na linha de frente.

A faixa que era carregada pelas mulheres que conduziam a manifestação dizia: “Mulherada na luta contra o ajuste e a repressão”. Um resumo da pauta. Pelo caminho, elas ficavam nas primeiras fileiras da manifestação e não permitiam intrusos. Era dia oficial de dizer chega à violência de gênero que mata uma mulher a cada 6 horas no Brasil.

O ato seguiu pela Avenida Júlio de Castilhos até o Terminal de Ônibus do Camelódromo. Ali, os manifestantes pararam por alguns minutos puxando gritos contrários à PEC 241/55 diante de trabalhadores e trabalhadoras que esperavam o ônibus para voltar para casa. As pessoas paradas nas filas de ônibus filmavam o ato.

Ato pacífico até a dispersão

Em seguida, o ato subiu a Rua Senhor dos Passos, em direção à Santa Casa. Porém, no entorno da Praça Dom Feliciano, o Batalhão de Choque da Brigada Militar estava posicionado fechando a passagem e deixando como única via aberta para o protesto seguir a Rua dos Andradas.
Enquanto os manifestantes entravam na Salgado Filho e depois na Avenida Borges de Medeiros, micro-ônibus com mais policiais do Batalhão de Operações Especiais da BM entravam na Rua Jerônimo Coelho, para impedir que a marcha tomasse o rumo da Praça da Matriz.

A praça está ocupada com vigília de servidores estaduais desde o anúncio do pacote de Sartori, que trouxe nele a extinção de 9 fundações estaduais e a previsão de 1.200 funcionários demitidos.

Os manifestantes seguiram pela Avenida Borges de Medeiros até o Tribunal de Justiça. Em frente ao TJ, puxaram uma vaia coletiva, lembrando aumentos recentes aprovados para o Judiciário.

Em seguida, o ato entrou na Avenida Praia de Belas e seguiu para o Largo Zumbi dos Palmares, já no início da Cidade Baixa. Até esse momento, apesar da presença ostensiva da Brigada Militar marcada nas ruas laterais, com a cavalaria colocada a postos quase no final e o helicóptero – já tradicional em protestos contra o governo Temer – sobrevoando a região, o ato seguiu pacífico. Foram mais de 15 mil pessoas marchando contra a reforma que ameaça direitos.

Com o Choque fechando o final da Loureiro da Silva, em direção a Avenida João Pessoa, o ato dispersou no Largo Zumbi dos Palmares. Estudantes das Ocupas ainda aproveitaram o momento para se reunir em rodas de conversa no local.

Ainda assim, houve conflito com a PM. Um grupo de mascarados que acompanhava o ato – responsáveis por quebrar as janelas do banco Santander, ainda na Borges – decidiu insistir em seguir pela João Pessoa. Com o bloqueio do Choque, eles passaram a atirar foguetes, bombinhas e sinalizadores na direção dos policiais. Houve tentativa de quebrar vidros de um hotel localizado na Loureiro.

Os policiais reagiram atirando bombas de gás lacrimogêneo. Pessoas que estavam em bares pela região, tiveram de se abrigar para escapar da fumaça.

Não houve feridos, mas no dia em que o governo Michel Temer pode ter começado sua contagem regressiva, com a demissão de um dos homens de confiança do presidente, Geddel Vieira Lima, e as gravações do ex-ministro Marcelo Calero, um ato marcado por apoio popular, terminou em fumaça mais uma vez.