Venezuela vai apelar a Comitê de Controvérsias do Mercosul

A Argentina tomou posse da presidência rotativa do Mercosul nesta quarta-feira (14) durante reunião do bloco convocada por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, sem a presença oficial da Venezuela.

Delcy Rodriguez - Jorge Saenz/AP

A Argentina permanecerá na presidência até o final do primeiro semestre de 2017, quando deverá ser substituída pelo Brasil. Ignorando a suspensão da Venezuela do bloco, determinada pelos quatro países no último dia 2, por descumprimento de cláusulas de adesão, a chanceler venezuelana Delcy Rodriguez desembarcou em Buenos Aires, criticando o que chamou de golpe da Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai), e repetiu frase do presidente Nicolás Maduro: "Se nos tirarem pela porta, entraremos pela janela."

A representante venezuelana afirmou também que nesta quinta-feira (15), o país vai recorrer ao Comitê de Resolução de Controvérisas do bloco. O processo começará em Montevidéu e, segundo Malcorra, deverá durar 15 dias, período que, se encerrado sem acordo, permitiria a abertura de arbitragem.

O governo venezuelano alega ter incorporado 1.479 normas do Mercosul a sua legislação, o que equivale a 95% do conjunto de leis que os países devem cumprir para adesão ao bloco. Na reunião desta quarta-feira, os quatro países discutiram a agenda de negociações de 2017, nas quais a prioridade será a busca por um acordo comercial com a União Europeia (UE), em suspensão há duas décadas.

O deputado federal Saguas Moraes (PT-MT), integrante da bancada brasileira no Parlamento do Mercosul (Parlasul), diz que a posição dos países membros do Mercosul é equivocada e mostra uma guinada de 180 graus no diálogo que era mantido com o governo venezuelano.

"Desde que houve o golpe aqui no Brasil, a eleição do Macri na Argentina e com o novo presidente do Paraguai, eles articularam o tempo todo para excluir a Venezuela alegando que ela não cumpre com todas suas obrigações. Eles tinham medo que o Estado bolivariano tomasse conta de todo o mundo, aquela coisa maluca que pasa na cabeça da extrema-direita que hoje governa Brasil, Argentina e Paraguai. Isso é um absurdo, a Venezuela vem cumprindo suas obrigações."

Saguas diz que o Cone Sul tem que ampliar o mercado para a Colômbia, Peru, Equador para que a toda a América do Sul passe a fazer parte do Mercosul. "O esforço que é feito é muito pequeno no sentido de manter os atuais membros. É uma política caolha que prejudica o Mercosul. Não podemos permitir essa possibilidade. A Venezuela tem que resistir. A embaixadora venezuelana esteve na última reunião do Parlasul dizendo que a Venezuela vem tentando cumprir 100% do protocolo e que não tem por que estar fora. Precisamos ampliar a participação de outros países, porque é um mercado interessante e que corresponde a cerca de 400 milhões de pessoas."