Lu Castro: O futebol feminino e a eterna forçada de barra

A notícia foi requentada na semana passada, mas desde setembro o cenário já acenava para a obrigatoriedade: os clubes que não tiverem uma equipe feminina, não poderão participar da tão amada Libertadores da América.

Futebol feminino vetor

Puxa, agora a coisa ficou séria, né, gente? Pois é! Mas é rotina da modalidade essa forçada na barra para que as coisas aconteçam.

Comecemos pelas alterações no quadro de executivos da FIFA com a presença de lideranças femininas e o aporte necessário para que as mulheres do futebol sejam devidamente respeitadas e amparadas. Daí iniciou-se um movimento de valorização ~forçada~ do futebol feminino de dentro da entidade para as confederações e federações.

Quem não esperou por ordens da FIFA, adiantou o processo e tem mostrado o amadurecimento das competições e do nível do futebol praticado pelas mulheres de seu país. É o caso da UEFA. A injeção de recursos nas federações tem se traduzido no fortalecimento da modalidade na Europa, ainda que nem todos os países estejam nos mesmos passos.

Por aqui, a determinação – com a ameaça de não liberação do dinheiro do legado da Copa embutida – chegou para o Brasil e todos os clubes sul americanos: ou os senhores comecem a pensar no futebol feminino ou não terão vez na Libertadores.

Há aplausos e comemorações efusivas diante da determinação, entretanto, mantenho uma certa distância da festa, já que a circunspeção tem me visitado com certa frequência. Explico o motivo que me leva a um nível meio hard de desconfiança.

A primeira forçada de barra foi com a Lei do Profut. Gosto de citá-la como engodo no que diz respeito ao futebol feminino, porque ela vai do nada para lugar algum sobre este assunto, tendo a palavra “futebol feminino” citada apenas uma vez e sem aprofundamento.

O investimento mínimo no futebol feminino pode ser qualquer coisa, até menos do que o resto do uniforme da equipe masculina. Portanto, não traduz em desenvolvimento da modalidade.

Pegando carona neste “detalhe”, é fácil o clube que não está afins de investir no futebol das mulheres, alugar algum projeto sem estrutura suficiente para competir em alto rendimento, chamar a imprensa local para fazer um barulhinho, pagar de apoiador da modalidade e apresentar um futebol na tv que nem um completo ignorante no assunto vai se dar ao trabalho de assistir.

Ora ora…em nome dos “clubes de camisa”, já fomos obrigados a acompanhar jogos horrorosos. Sim, surtei de sinceridade. Jogos HORRÍVEIS! E isso detona toda e qualquer tentativa de mostrar àqueles mais resistentes ao futebol das mulheres, que SIM, nós temos boas jogadoras, temos jogos bons para mostrar e temos todo direito de ocupar os campos.

Quero queimar minha língua, de verdade, mas tenho sérias restrições às imposições. Não basta o estado de exceção que vivemos?

Obrigar um clube a manter uma equipe feminina – o que acaba alterando o ranking todo santo ano – em detrimento de uma equipe que, independente de camisa de “clube grande”, mantém, desenvolve e luta diariamente para fazer o futebol feminino acontecer para milhares de meninas, não é apenas injusto, reforça o estigma de modalidade non grata. Ou seja, totalmente desnecessário.

Faço uma confissão neste momento, em nome da honestidade: Já fui entusiasta de clube de camisa no futebol feminino, mas foram e são raros os que abraçaram o assunto com a seriedade necessária. Diante de tanta falta de responsabilidade, me abstenho de apoiar ou ressaltar uma obrigação disfarçada de importância.