Penélope Toledo: Respeitem as minas na bancada – e fora dela! 

Alguns homens ainda não entenderam, mas mulher vai ao estádio para torcer pelo seu clube do coração. Vai para assistir ao jogo, vai para empurrar o time, vai para fazer a festa na arquibancada. Ela não vai para ouvir fiu-fius, ser beijada ou tocada. O nome disto é assédio. 

Torcedoras nos estádios

Problema generalizado na sociedade, o assédio se acentua no futebol, afinal, muitos homens acham que a bancada é um território exclusivamente masculino e que a mulher, vista como intrusa, não precisa ser respeitada.

Os constrangimentos vão desde olhares intimidadores e comentários grosseiros, até pedidos insistentes e esbarrões propositais.

Em alguns países, a situação chega a ser repugnante. Na França, torcedores do Olympique de Lyon, no jogo contra o Lille, destilaram o seu machismo exibindo duas bandeiras: uma com o desenho de uma mulher e uma seta indicando a “cozinha” e outra com a imagem de um homem e a seta apontando para o “estádio".

As torcedoras reagem

Mas as torcedoras reagem de múltiplas formas, individual ou coletivamente. Um exemplo é a campanha #EstádioSemAssédio, que começou com a Galo Marx e já está sendo encampana por meninas de diversos clubes de todo o país.

No Remo, as mulheres foram didáticas e distribuíram uma cartilha ensinando o que “pode” e o que não “pode” fazer. De forma pedagógica e ilustrativa, explicam que “conversar”, “perguntar o nome” e “alentar juntos”, pode; mas “empurrar as minas”, “agir com intimidade sem permissão” e “se aproveitar na gora do gol”, não pode!

Houve quem foi além e cobrou do clube que se posicione sobre o machismo nos estádios. O Movimento 1982 deu uma aula de cidadania ao enviar uma carta à diretoria do Flamengo expondo dados oficiais sobre a violência doméstica no Brasil e desafiando a agremiação a usar sua influência para pautar o tema.

Sobre o assédio no Brasil

Assobios, olhares insistentes, comentários de cunho sexual e xingamentos misóginos, estas foram as formas de assédio abordadas na pesquisa da organização internacional de combate à pobreza ActionAid em 2016.

A constatação é alarmante: 86% das mulheres ouvidas sofreram assédio em público. Os dados se equivalem aos da Tailândia e superam os da Índia.

Considerando-se que a pesquisa foi feita com moças acima de 16 anos e que se refere apenas ao assédio em espaços públicos, pode-se deduzir que os números são ainda maiores.

Além disto, metade das mulheres entrevistadas relatou já ter sido seguida nas ruas e metade contou que teve o corpo tocado. Isto em um país em que a cada 11 minutos, uma mulher é estuprada (Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública) e a cada duas horas, uma é assassinada (‘Mapa da Violência – Homicídio de Mulheres’), segundo os registros das ocorrências – fora os casos em que não houve denúncia.

Basta de assédio nos estádios e fora deles!

Logo de saída, é importante que se reforce: comentário sobre a estética da moça, por mais inocente que pareça, não é elogio, é assédio – exceto se ela tenha perguntado. Homem nenhum tem o direito de abordar uma mulher que não lhe deu permissão. Ponto final.

O chocante é perceber que em pleno século 21, em meio a tantos avanços científicos e tecnológicos, ainda haja homens que não entendam ou não respeitem isto.

Assim como chega a ser surreal o fato de que com 12 mil anos de vida inteligente na Terra, mulheres ainda tenham que, didaticamente, ensinar o que pode e o que não pode.

Mas já tem que tem ensinar, então vamos lá: mulher na bancada, pode; homens acharem que a bancada é só deles, não pode. Mulher torcer pelo seu clube do coração, pode; homem assediar a torcedora, não pode. Fazer uma festa linda conjunta com mulheres e homens, pode. E deve.

*Comunista, jornalista com passagem pelo jornal Lance!