Arruda Bastos: Tchau queridos, ratos da montanha

"Agora só resta a mobilização do povo, as ruas e o nosso papel de senhor da democracia. Vamos pressionar de forma eficaz e eficiente esse governo ilegítimo, a classe política, a impressa, o empresariado e os golpistas de plantão. Não podemos admitir a permanência do usurpador Temer e nem retrocessos”.

Por *Arruda Bastos

Opiniao

O dia 17 de maio definitivamente vai ficar marcado na história como aquele em que foi revelado os bastidores das ações golpistas palacianas para se perpetuarem no poder. os responsáveis pelo “tchau, querida” às figuras ilustres do golpe e aos atos produzidos por eles foram as delações dos donos da empresa JBS. Elas demonstram cabalmente que Temer, seus apoiadores, os financiadores do golpe, a FIESP, os políticos reacionários, parte do judiciário e a mídia entreguista vão muito além do que imaginávamos.

O “Tchau, querida” foi o cumprimento carinhoso que ficou famoso quando da liberação de escuta telefônica entre os ex-presidentes Lula e Dilma, no ano passado, quando se articulava a nomeação dele para o Ministério. Na época, com grande estardalhaço, a Rede Globo e seus asseclas golpistas aproveitaram uma decisão do Juiz Moro, até hoje contestada, de liberar áudio do grampo telefônico depois de não existir mais autorização legal para sua realização. O fato foi decisivo para empurrar o governo para o impeachment.

Com as revelações dos delatores da JBS, outros personagens passam a receber o sonoro “Tchau, Querida”, agora não com carinho, mas sim com a indignação da nossa população. Patos e não Patos, agora juntos, solicitam a renúncia imediata de Temer, a prisão do ex-presidente do PSDB e Senador afastado, Aécio Neves, de todos os envolvidos nas denúncias. É necessária também uma apuração e explicação do Juiz Moro que, mesmo mantendo o ex-deputado Eduardo Cunha preso e querendo delatar, não avançou um centímetro.

As malfazejas reformas de Temer como a trabalhista, a da previdência e outras devem ter suas tramitações suspensas de imediato e as já aprovadas, de pronto, revogadas por outras medidas. Quanto ao nosso Senado e Câmara, não apresentam a mínima condição de conduzir o processo de transição e o máximo que podem fazer é votar de imediato as alterações constitucionais que viabilizem a eleição direta já. Só a democracia e o voto popular podem pacificar o país.

Em pronunciamento patético e típico de quem não está à altura do cargo, Temer disse que não renuncia. A atitude contraria, segundo as últimas pesquisas, mais de 88 % da nossa população, que solicita a sua saída imediata. Não foi surpresa para quem tem um currículo de traição e falcatruas como comprovada nos áudios e fotos da delação dos irmãos Batistas da JBS.

A liberação de todas as provas e o seu conteúdo é estarrecedor. Como conceber um Presidente recepcionar no Palácio a altas horas da noite, fora da agenda e de forma marginal um empresário envolvido em diversas investigações da Lava Jato e outras operações policiais?

O mais grave é que para o governo golpista as denúncias se assemelham a uma montanha que pariu um rato, expressão utilizada para designar alguma coisa que após expectativa é algo insignificante. Para Temer e sua cambada, receber marginal no palácio, dar aval para compra do silêncio de Cunha, ouvir que um investigado tem no bolso juízes e procuradores e responder “ótimo”, indicar um deputado para resolver pendências da JBS e depois ele ser flagrado recebendo 500 mil em dinheiro vivo como parte de um acordo de mensalão por 20 anos e muito mais. Se são irrelevantes e apenas ratos da montanha esses fatos, imaginem o que não acontece de grave nos porões do golpe.

Agora só resta a mobilização do povo, as ruas e o nosso papel de senhor da democracia. Vamos pressionar de forma eficaz e eficiente esse governo ilegítimo, a classe política, a impressa, o empresariado e os golpistas de plantão. Não podemos admitir a permanência do usurpador Temer e nem retrocessos. Está nas mãos dos movimentos sociais, sindicatos, associações, trabalhadores, juventude, políticos progressistas e de todos aqueles que desejam o bem do Brasil retirar o presidente. Tchau, Querido! Diretas já!


*Arruda Bastos é médico, professor universitário, membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, radialista e um dos coordenadores do Movimento Médicos pela Democracia.

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