Jornalistas repudiam divulgação de conversas de Reinaldo Azevedo

Assim que o site Buzzfeed Brasil tornou públicas as transcrições de áudios das conversas entre o jornalista Reinaldo Azevedo e Andrea Neves, irmã do senador Aécio Neves, um intenso debate tomou dos sites e das redes sociais, a polêmica entre defender a profissão ou comemorar o dano causado ao jornalista pelo vazamento das conversas.

Segundo o Buuzzfeed, áudios foram gravados pela Polícia Federa e as transcrições, anexadas pela Procuradoria Geral da República (PGR) ao inquérito que provocou o afastamento de Aécio do Senado e a prisão de sua irmã. O site Consultor Jurídico divulgou nota da PGR, onde ela esclarece “que a informação veiculada na matéria do Buzzfeed ‘PGR anexa grampos de Reinaldo Azevedo com Andrea Neves em inquérito e colunista anuncia demissão da Veja’ está errada”. A nota afirma que a PGR não anexou, não divulgou, não transcreveu, não utilizou como fundamento de nenhum pedido, nem juntou o referido diálogo aos autos da Ação Cautelar 4316, na qual Andrea Neves figura como investigada”, e que “a Ação Cautelar 4316 ainda não deu a primeira entrada na PGR, tendo sido aberta vista pelo ministro Edson Fachin apenas nesta terça-feira, 23 de maio, com chegada prevista para quarta-feira, 24 de maio".

Estudo da Federação Nacional dos Jornalistas e da Federação Internacional dos Jornalistas aponta que os profissionais brasileiros são vítimas de dois tipos de violência no seu exercício profissional: a violência interna das redações e a violência de atores externos praticada por agentes públicos. O Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais divulgou nota repudiando a divulgação da conversa. A nota afirma que é mais um sinal do estado de exceção em que vive o Brasil. Diz ainda que, “trata-se de um jornalista grampeado no exercício da sua profissão que teve uma conversa privada tornada pública por uma das mais altas autoridades da República”. O Sindicato lembra que há dois meses, o blogueiro Eduardo Guimarães teve equipamentos apreendidos e foi conduzido coercitivamente pela Polícia Federal para revelar fonte de notícia que publicou”.

Reinaldo foi o primeiro a se manifestar sobre o tema. Soltou uma nota onde afirma que não é investigado e que a transcrição da conversa não guarda relação com o objeto da investigação. Para ele, tornar público esse tipo de conversa é só uma maneira de intimidar jornalistas. Por fim, ele considera que foi vítima de agressão, pois “a menos que um crime esteja sendo cometido, o sigilo da conversa de um jornalista com sua fonte é um dos pilares do jornalismo".

E aí se instala a polêmica. O blog do jornalista no portal da revista Veja é uma referência à defesa de uma ética que privilegia um setor da sociedade ou a defesa de um partido político. Ele é acusado de incitar o ódio, já ironizou o cartunista Laerte e comemorou quando gravações entre os ex-presidentes Lula e Dilma também foram divulgadas. A jornalista Laura Capriglione, do site Jornalistas Livres, vai ao centro da polêmica: “Reinaldo Azevedo é um colunista preconceituoso, violento e, certamente, um dos artífices da mentalidade fascista e intolerante que vem tomando conta do Brasil”. Ela também afirma que ele “viu sua conversa vazar pela imprensa, sem que crime algum tenha sido rastreado no diálogo ameno, até desinteressante, posto que mera fofoca”. Para a Laura, trata-se de óbvio atentado ao princípio constitucional do “Sigilo da Fonte”, base do melhor jornalismo. Ela também considera que é uma “tentativa de intimidação do jornalista que, nos últimos tempos tem-se mostrado crítico aos rumos seguidos pela Lava-Jato. Por fim, é causa de constrangimento ilegal, já que Reinaldo é flagrado em críticas à direção de Veja”. Este último ponto levou Reinaldo a romper seu contrato com a revista.

Ao comentar que Reinaldo tornou-se alvo do Estado de Exceção que ele ajudou a construir, a jornalista e blogueira Renata Mieli, também defende a profissão: “o vazamento de áudios de conversas telefônicas entre ele e Andrea Neves é um atentado à liberdade de imprensa. Todo jornalista tem protegido o sigilo da fonte. Divulgar conversas entre um jornalista e sua fonte é uma grave ameaça ao trabalho dos jornalistas, é uma forma de intimidação, é uma forma de calar as vozes dissonantes. É uma violação à liberdade de expressão. Por mais que eu não cultive nenhuma simpatia por Reinaldo Azevedo, por mais que eu divirja em praticamente tudo com ele, por mais que eu condene suas práticas, por mais que eu o considere um abutre dos jornalistas, não posso me calar diante do crime que foi cometido contra ele”.

No site Diário do Centro do Mundo, o jornalista Joaquim de Carvalho diz que Reinaldo provou do próprio veneno, porém avalia que “quem atentou contra Reinaldo Azevedo merece punição. Não por ele, mas por nós. A serpente se alimenta da liberdade e do direito de todos. O mínimo que devemos fazer é denunciá-la”. O professor e jornalista Luiz Roberto Saviani Rey usou sua página no facebook para entrar na polêmica: “não gosto do jornalismo praticado pela Veja e deploro certos argumentos de Reinaldo Azevedo. Entendo a ideologia daqueles que se sentem prejudicados por seus artigos e comentários e pelo tipo de jornalismo que pratica, mas sou defensor do sigilo da fonte”.

Nas redes sociais prevaleceram as críticas ao trabalho do jornalista e a comemoração com o dano que o vazamento lhe causou, o que está longe de representar o retorno à normalidade jurídica que o Brasil precisa neste momento. O blog O Sensacionalista demonstra que a polêmica ainda não tem um desfecho racional ao publicar um texto com o seguinte título: Pessoas sãs querem processar Fachin por lhes fazer defender Reinaldo Azevedo.

Agildo Nogueira Junior