Dilma: O fiador de Temer está preso em Curitiba e chama-se Cunha
Em entrevista ao editor do site Nocaute, Fernando Morais, e pelos cinegrafistas Mauricio Dias e Paulo Seabra, da Grifa Filmes, a presidenta Dilma Rousseff falou sobre a conjuntura política e a votação da denúncia contra Michel Temer, marcada para esta terça-feira (2), na Câmara dos Deputados.
Publicado 01/08/2017 14:03

"Vamos ver se o Planalto conseguiu ou não comprar um número suficiente de deputados e se vai conseguir com esses deputados barrar a denúncia de seu Procurador. É isso que nós vamos ver. Agora, não sei como está, eu não controlo isso e não me interessa o controle disso. Eu acho que o povo tem que saber que existe isso e que não é possível continuar assim. Então, é isso que vai haver daqui a dois dias", afirmou.
Segundo Dilma, as razões que levaram o golpe contra o seu mandato ainda permanecem . "O que houve no Brasil? Houve que o centro democrático, que lá atrás fez a Constituinte de 1988, atualmente (eu acho que isso começa no final do governo Lula e se aprofunda no meu primeiro e fica claro no segundo), passou a ter hegemonia de extrema direita. Essa hegemonia de extrema direita foi construída por um senhor chamado Eduardo Cunha, que hoje cumpre pena lá em Curitiba", afirmou.
Para a presidenta, Cunha criou o método da compra de deputados através de métodos institucionais. "Você vende emendas, você dá vantagens pro deputado. Era essa a prática que ele instituiu. Uma prática com a qual nós tínhamos extrema dificuldade, porque a gente não cumpria esse modelo", frisou ela, reforçando a denúncia que fez durante o seu segundo mandato, de que Cunha e o grupo ligado a ele, chantageava o seu governo.
"E ele é hoje ainda o grande fiador do governo Temer. Essa é a verdade. Talvez quem tenha falado mais claramente isso foi o senador Renan Calheiros que disse que este governo dirigido de Curitiba por um preso chamado Eduardo Cunha. E isso é importante para se saber o que aconteceu politicamente no Brasil. Isso é o que chamam de governabilidade", completou.
Sobre as críticas ao seu governo por ter feito um governo de coalizão,Dilma rebate afirmando que, no Brasil para não ter governo de coalizão, tem de ter outra composição no Congresso.
"Não pode ser essa. Porque você não escolhe se tem governo de coalizão ou não. Você vê a possibilidade de não ter governo de coalização. O que fizeram o Macron e o establishment francês? Fizeram eleição presidencial e depois faz eleição parlamentar. Com isso ele força uma maioria parlamentar próxima à maioria presidencial anteriormente eleita", completou.
Dilma afirma que uma das saídas para essa crise política é uma reforma política, mas destacou dois institutos democráticos em vigo atualmente.
"Tempo de televisão é democrático para os partidos e o povo brasileiro não ficarem sujeitos à TV Globo. Portanto, ultra justo que haja tempo de televisão, que cada partido tenha tempo de televisão pelo seu volume de deputados. O Fundo Partidário também é altamente democrático. Porque é melhor ter um fundo partidário do que ficar sujeito a negociações financeiras", frisou.
Fernando Morais perguntou se será candidata a algum cargo político no ano que vem, e ela respondeu: "Ainda não. Eu nunca achei, viu Fernando, e acho que você também não, que a minha participação política decorresse do fato de eu ser candidata a alguma coisa. Eu posso vir a ser candidata caso interesse a qualquer processo de transformação do Brasil. Mas te digo com sinceridade, hoje não é a minha pauta. Não estou nessa pauta".