Tribalistas lançam novo disco com música sobre refugiados

Na última quinta-feira (10), Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte anunciaram durante um evento surpresa transmitido pelo Facebook a volta dos Tribalistas, com um novo CD de músicas inéditas que será lançado até o final do mês de agosto

Por Alessandra Monterastelli*

Tribalistas

Triade, trinomio, trindade, trimero, triângulo, trio, trinca, tres, terno, triplo, triplice, tripé, tribo…

O trio é responsável por um dos projetos de maior sucesso no mercado da música nacional. Há 15 anos, foi lançado o disco “Tribalistas”, com 14 faixas, que vendeu mais de três milhões de cópias e também foi sucesso em países como França, Itália, Espanha, Portugal e Argentina. Depois disso, apesar do enorme sucesso e aclamação pela crítica, o grupo não lançou mais nenhum trabalho, até agora.

O novo CD possui 10 faixas, entre elas “Aliança”, “Diáspora”, “Fora da Memória” e “Um Só”, que foram lançadas como prévia do álbum (“para dar um gostinho do trabalho”, segundo o trio), tocadas durante a transmissão e já estão disponíveis no Spotify e no Youtube para o público. Pessoas de 102 países acompanharam a transmissão efetuada na quinta-feira (10).

“Essa não é a nossa volta, porque os Tribalistas nunca se foram”, declara Arnaldo Antunes, confirmando que o grupo nunca parou de compor e tocar junto. “Temos outras músicas, mas essas pareciam mais potentes com nós 3 juntos. Elas já pareciam criar uma identidade própria”, completa Marisa Monte. “A gente canta como cantamos em casa, na cozinha. Acho que essas músicas que nos escolheram”, diz Carlinhos Brown.

Meio milhão de pessoas ouvem Tribalistas no Spotify todo mês e só no último mês a música dos Tribalistas foi ouvida em mais de 134mil playlists em todo o mundo. A notícia do novo álbum já foi divulgada no site da Billboard, revista de música famosa dos EUA. Apesar do levantamento de duvidas por parte da imprensa e do público de um possível retorno do trio, a ideia de só divulgar agora teve o intuito de provocar surpresa.

Quando questionados sobre a semelhança do novo trabalho com o primeiro, lançado em 2002, o grupo conta que “há mais semelhanças do que diferenças”: os músicos e a equipe técnica continuam os mesmos. “Gravamos uma música por dia para compor o CD, o que resultou em um processo completamente imersivo”, conta Marisa; tudo foi filmado em audiovisual, para que o público possa escutar e ver como aquilo foi produzido. “Tem também reflexos do contemporâneo na gente, as músicas surgem como um reflexo da nossa vida”, dizem, referindo-se aos temas abordados nas canções do disco.

Os refugiados

Uma das novas composições já divulgada nas plataformas digitais chama-se “Diáspora”, e toca a questão da imigração, principal tema mundial da atualidade. A música sensibiliza para o drama vivido pelos refugiados de maneira simples, até um tanto ingênua, ao narrar as sensações de perda, confusão e desesperança vividas pelas pessoas forçadas a abandonar seu país de origem.

“Eu acho que em algum momento todos nós somos imigrantes, estamos sempre procurando o outro como uma maneira de construirmos algo. Esse coletivo firma que nós não temos fronteiras” começa Brown, que logo é contemplado por Arnaldo Antunes quanto a questão dos limites territoriais: “a gente tá assistindo nesse momento refugiados fugindo de guerras, desastres naturais, entre outras razões, e estamos sempre desejando que não haja mais fronteiras; que as pessoas possam circular pelo planeta livremente”.

“Nós, nordestinos e brasileiros, somos todos um pouco retirantes, então entendemos um pouco essa causa. Portanto devemos receber essas pessoas”, conscientiza Carlinhos quanto a recepção dos refugiados.

Confira abaixo o clipe de "Diáspora": 


O coletivo

Quando questionados sobre o tipo de ritmo presente nas 10 faixas, Carlinhos responde: “o ritmo é Tribalista!”, explicando que o que este se forma a partir do coletivo tocando junto – “o ritmo desses corações que batem juntos”, diz, apontando para os colegas.

“A música fala da convivência com as diferenças” conta Arnaldo, referindo-se a canção “Um Só”. Relembrou o momento vivido no Brasil, em que “há muita polarização e uma guerra entre as diferenças”. “Essa música fala sobre poder viver as próprias contradições; ser uma coisa, mas também ser outra”, completa o cantor.

“O tribalismo é você estar à vontade com você mesmo e com os outros, basta você assumir quem você é” responde Marisa ao ser questionada sobre o significado do tribalismo, ao que Brown completou com uma reflexão que sintetiza a presença da temática social presente nas músicas “Um Só” e “Diáspora”: “ as canções também espelham o desejo de um coletivo. Não tem como não sentir o que acontece no dia a dia e no mundo; um cantor é como um cronista, trazemos para o inconsciente percepções do cotidiano e com certeza há algo no nosso sentimento, que unido a voz e a melodia, usamos para defender os demais”.

“A música popular é coletiva”, continuou Arnaldo. Marisa declarou, com tom de admiração, como a música brasileira é tradicionalmente coletiva, composta, tocada e cantada em conjunto “o estar junto faz parte da nossa tradição, da nossa história, do que a gente sempre viu acontecer. Mas é uma característica brasileira da música, que é muito bonita e muito exemplar para o mundo todo”.

“A solução do país nesse momento vem do povo, vem de nós”, declarou Brown, relacionando a tradição coletiva da música brasileira e os significados da música popular com a crise e as dificuldades vividas no brasil atualmente; “a felicidade não pertence a um só, e sim a um todo”, completa o músico.

As músicas prometem resgatar os Tribalistas de 15 anos atrás, mas com o acréscimo da atualidade, onde tanto o ritmo quanto as palavras são sentidos; as canções conseguem carregar facilmente o ouvinte para o universo sensorial. Quando Arnaldo apontou a semelhança com que o primeiro disco foi gravado, referindo-se à naturalidade de como as músicas surgiram, Marisa completou: “a arte é soberana, as canções acontecem quando elas querem; e nós estamos a serviço disso”.