Força Alternativa Revolucionária do Comum – um novo capítulo das Farc
A palavra “Farc” é reconhecida mundialmente como ícone de resistência na América Latina. Se durante os 53 anos de guerra esta sigla significou Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, agora ganhou um novo sentido, trata-se da Força Alternativa Revolucionária do Comum. Assim vai se chamar o partido da ex-guerrilha que acaba de dar o último passo de transição à vida civil, nesta quinta-feira (31).
Por Mariana Serafini
Publicado 31/08/2017 19:32
Os marquetalianos triunfaram. Passou 53 anos desde que uma operação militar norte-americana tentou exterminar um importante foco de resistência camponesa na região andina colombiana, precisamente no município de Marquetalia. Desta batalha nasceram as Farc, já com a missão de proteger o povo e avançar na luta pelos direitos sociais. O ato da guerrilha de deixar as armas e conquistar um espaço sólido no campo democrático é o triunfo dos marquetalianos.
No final de 2016, quando foi assinado o Acordo de Paz entre a guerrilha e governo da Colômbia, terminou o mais longo conflito armado contemporâneo. Meio século de guerra. Agora, esta quinta-feira (31) entra para a história como o dia que nasceu o partido da guerrilha. O partido dos que deixaram as armas para lutar com as palavras.
Esta é uma vitória não só das Farc, mas do campo progressista, dos que recorrem às bandeiras bolivarianas para lutar por um mundo com paz, justiça social e respeito aos Direitos Humanos. Esta será a missão do novo partido, forjado no calor da luta armada ao longo destas cinco décadas de resistência.
Logo do partido Farc- Força Alternativa Revolucionária do Comum
Entre os dias 27 e 31 de agosto os milhares de membros das Farc debateram o programa do partido, as linhas de atuação, o nome e a logo. Foi um processo amplo e democrático onde todos tiveram voz e voto. Dezenas de organizações e partidos políticos do mundo prestigiaram o evento realizado no coração de Bogotá.
Com o fim da clandestinidade vem também a inserção na sociedade e a disputa pelos espaços nas áreas urbanas. Este, por sinal, é um dos desafios do partido que obviamente não irá abandonar a luta camponesa, mas estará mais presente no cotidiano dos trabalhadores das cidades.
Durante a abertura do Congresso, o comandante Iván Márquez apresentou os principais eixos a serem debatidos, entre eles, a expansão para as áreas urbanas e o desafio de criar um partido-movimento de quadros e massas.
Certo de que veio para alterar o cenário político local, o partido se propõe a ser uma organização que integrará as lutas reais do território colombiano, e defenderá a unidade da esquerda e o fortalecimento do campo progressista.
Com o desafio de desenvolver uma linguagem acessível e clara para se aproximar do povo, os ex-guerrilheiros defendem uma Colômbia onde triunfe a paz, a justiça, o bem-estar social e o respeito aos direitos humanos. Estas devem ser as bandeiras dos candidatos que disputarão vagas no legislativo já nas próximas eleições, em 2018.
Cabe agora à Força Alternativa Revolucionária do Comum se apoiar nas lutas do passado para construir um futuro melhor para o povo colombiano. Um futuro onde a arma será a palavra e a paz a tarefa mais bela.