A quem servem o conflito, o medo e a ignorância?

por Rodrigo Fernandes More e Sidnei Aranha*

Autoritarismo e sustentabilidade são dois termos que se repelem. Aliás, aquele que julga os demais como menores, incapazes e por isso procura dominá-los pelo medo, impondo-lhes a canga da subserviência não serve ao bem público, tampouco à transparência e ao respeito ao coletivo. Assim, enquanto o autoritarismo se farta na ignorância, a sustentabilidade se apoia no conhecimento.

O conhecimento é libertador e a ciência é um de seus instrumentos. O conceito de sustentabilidade, da preservação do meio ambiente para as futuras gerações tornaram-se base para o desenvolvimento econômico baseado não apenas nos interesses da produção, mas do bem estar coletivo orientado por um ciclo de virtudes. É o que recentemente pontuaram no jornal A Tribuna (Santos/SP) os professores Ozires Silva e Thais Cruz A. Santos: “a consciência do mundo moderno hoje é o de olhar o meio ambiente como algo fundamental para nós e para nossos descendentes” (edição 27/08/2017. p.2).

Não há desenvolvimento econômico sustentável quando se alija a população, os cientistas, as organizações sociais e mesmo entes públicos dos temas ambientais que a todos tocam. Isso é autoritário, no sentido mais pernicioso do termo, e ilegal. Infelizmente é isso que tem ocorrido na Baixada em questões ambientais: não há transparência, não há respeito ao coletivo e, consequentemente, não há respeito à lei, senão um autoritarismo que precisa ser superado urgentemente.

Vejam-se os casos dos cilindros de gases tóxicos. Não fosse a firme atuação do COMDEMA do Guarujá, um crime ambiental teria se perpetrado na Base Aérea de Santos. Não bastasse isso, os resíduos tóxicos, inflamáveis e explosivos seguiram para serem queimados no mar, também sem qualquer estudo de impacto ambiental. O medo foi incutido na população sem que fosse prestado qualquer esclarecimento, de forma transparente como exige a lei, tampouco exigidos estudos de impacto ambiental. Sequer foram consultados os conselhos de meio ambiente da Baixada, cuja população e meio ambiente podem ser afetados caso o descarte no mar sofra algum imprevisto.

Medo, ignorância e autoritarismo. Tudo isso atenta contra o desenvolvimento econômico sustentável, na contramão da ciência ambiental que, no fundo, é a ciência de vida do Homem. A questão dos 46 contêineres caídos e afundados no Guarujá segue o mesmo caminho obscuro dos cilindros.

Em ambos os casos, como exemplos mais recentes, as autoridades fecharam-se em suas competências legais para defender o privado em detrimento do público. Apostaram no silêncio para impor à sociedade a ignorância, ao mesmo tempo que essas autoridades “acusam" a sociedade, os cientistas e os agentes sociais de “não saberem o que falam”. Essa é a mais perniciosa vertente do autoritarismo: a ideia de que só poucos ilustrados (eles) sabem o que é o melhor para muitos obtusos (nós).

O meio ambiente é de todos. O porto é de todos da Baixada Santista, na medida não apenas de sua influência econômica e política, mas dos efeitos deletérios que suas atividades causam na vida e no meio ambiente de milhões de pessoas na região.

A se perpetuar essa falta de bom senso e de espírito público, de desrespeito à lei, de autoritarismo, de falta de diálogo com a sociedade e com a ciência, o horizonte que de vislumbra não é da prosperidade e do desenvolvimento econômico sustentável, mas da judicialização e do conflito.

A quem serve o conflito, o medo a a ignorância? Não ao público, nem ao meio ambiente.