Plínio Bortolotti: Antes, falha era de Dilma; agora a culpa é coletiva
“A corrupção – junto com a urdida trama das pedaladas, motivos reivindicados para afastar a presidente Dilma – tornou-se epidêmica entre os auxiliares de Temer, enlaçando o próprio presidente. A elite esqueceu-se da indignação e o pato da Fiesp foi recolhido ao depósito das coisas inservíveis”.
Por *Plínio Bortolotti
Publicado 19/01/2018 13:00 | Editado 04/03/2020 16:23

Seria piada, caso fosse possível achar graça do governo Michel Temer. O economista-chefe do Banco Itaú, Mario Mequita, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo (14/1/2017) afirmou ser “coletiva” a responsabilidade pelo rebaixamento da nota do Brasil pela agência avaliação de risco Standard & Poor’s . Ora, mas a culpa pelas desgraças na economia não estavam personalizadas em Dilma Rousseff? Por que, de repente, a culpa se generaliza e Temer é poupado?
Esses sujeitos deveriam poupar o distinto público de tanta desfaçatez. Faz pouco tempo cacarejam o “fora Dilma”, apresentando a mágica “solução Temer” para resolver problemas de unha encravada a tumor no cérebro. O resultado da pajelança é um governo que esfrega na cara dos brasileiros o uso descarado do poder como escudo de proteção aos seus associados.
A corrupção – junto com a urdida trama das “pedaladas, motivos reivindicados para afastar a presidente Dilma – tornou-se epidêmica entre os auxiliares de Temer, enlaçando o próprio presidente. A elite esqueceu-se da indignação e o pato da Fiesp foi recolhido ao depósito das coisas inservíveis.
Querem agora transferir a responsabilidade da desordem para um sujeito indeterminado. Mas os responsáveis têm nome e sobrenome. E podem ser encontrados entre aqueles que, mesmo pondo em risco a institucionalidade, instigaram o impeachment de Dilma.
Mesquita agora finge que o negócio não é com ele, nem com presidente, muito menos como o “mercado”, uma espécie de deus, que ninguém vê, porém, onipresente, onisciente e onipotente. O banqueiro diz ter faltado a Temer “apoio no Congresso”. O mesmo Congresso que aprovou o teto de gastos e a reforma trabalhista, mas cuja “precificação” parece ter sido mal calculada, pois está exigindo mais para entregar a mercadoria.
Na hora de prestar contas, os responsáveis pelo desacerto começam a tirar o corpo fora e – preservando o “mordomo de filme de terror” -, querem, sem mais nem porquê, tornar a culpa “coletiva”.
*Plínio Bortolotti é jornalista.
Opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as opiniões do site.