Um país em busca de justiça enfrenta juízes medievais

O julgamento já foi feito e a condenação já foi dada: nove anos e meio de cadeia. Porque? O réu praticou “atos de ofício indefinidos” favorecendo determinada empresa em licitações, obtendo como pagamento um triplex que tem escritura em nome de outro.

Lula depoimento Moro - Reprodução

É absurdo. Mas no Brasil recente tem acontecido muitas coisas absurdas.

Apenas o grupamento protofascista denominado MBL foi sincero em relação ao caso: “culpado ou inocente, exigimos Lula na cadeia”.

Os demais opositores à Lula, sedentos de vingança e desejando tirá-lo da disputa eleitoral, torcem envergonhados pela sua condenação.

Trata-se, então, de um caso típico de utilização da justiça para fins de perseguição política. Sem crime e sem provas.

Muitos tem apontado semelhanças com um outro caso ocorrido na França, que se tornou um dos mais famosos episódios de fraude jurídica e de perseguição política: o Caso Dreyfus.

Dreyfus foi condenado a partir de uma denúncia e provas falsas, em uma França dividida entre monarquistas e republicanos, em final do século XIX.

Anos depois, descoberta a fraude e com Dreyfus condenado a prisão perpétua na Ilha do Diabo, cresce um movimento popular em defesa da anulação da sentença e da libertação do condenado.

Nessa luta, uma voz se destacou na denúncia da fraude jurídica: o escritor Emile Zola, ao lado de outros intelectuais, como o escritor Anatole France.

Zola escreveu um artigo intitulado “J’Accuse”. Esse artigo teve grande repercussão na Franca e animou expressivas manifestações populares, forçando a justiça a reverter a decisão e inocentar Dreyfus.

O movimento gerado a partir daí fortaleceu a luta democrática e progressista na França. O dia 24 de janeiro próximo nos reserva uma batalha semelhante.

O Brasil do atraso, utilizando-se do trabalho de um juiz de métodos jurídicos medievais, patrocinado por agentes externos, condenou Lula por crimes não cometidos.

Cabe agora a três juízes julgar o recurso do condenado. O presidente desse tribunal já declarou que a sentença do tal juiz medieval é irretocável.

Parece, então, que caminhamos para a confirmação de uma condenação fraudulenta e a inviabilização da candidatura do maior líder popular do país.

O que acontecerá depois? Se não reagirmos, certamente a democracia e a justiça do país estarão irremediavelmente comprometidas. Nesse ínterim, o juiz medieval manda acorrentar condenados pelo simples prazer da vingança. A barbárie se aproxima perigosamente de nossa sociedade. Que faremos, então?

Nos dias que antecedem e que sucederão a Batalha de Porto Alegre, só nos resta a mais ampla denúncia da fraude e a defesa da absolvição de Lula.

Ir às ruas, participar dos atos públicos, defender a democracia nas redes sociais, denunciar as tentativas de manutenção dessa fraude.

Não há outra alternativa: sejamos todos Emile Zola!