“Não há crise humanitária na Venezuela”, garante relator da ONU
O advogado e historiador norte-americano, Alfred de Zayas, especialista da ONU sobre Promoção da Ordem Internacional Democrática e Equitativa, concluiu, depois de uma visita à Venezuela, que o país não sofre uma crise humanitária, diferente do que a grande imprensa vem tentando retratar nos últimos dias.
Publicado 21/02/2018 12:24
O especialista acompanhou episódios recentes de crises humanitárias na África e na Ásia, onde há conflitos bélicos, e, sem titubear, afirmou que esta qualificação de “crise humanitária” não pode ser aplicada ao país latino-americano.
“Comparei as estatísticas da Venezuela com a de outros países e não há crise humanitária. Há escassez, ansiedade e desabastecimento, mas quem trabalha há décadas nas Nações Unidas e conhece a situação de países da Ásia, da África e até alguns da América, sabe que a situação da Venezuela não é uma crise humanitária”, disse Zayas em entrevista à imprensa venezuelana.
Zayas esteve na Venezuela em novembro, quando manteve conversas oficiais com membros do governo, além de vítimas de violações dos direitos humanos e da violência das chamadas guarimbas (manifestações violentas promovidas pela direita para tentar desestabilizar o governo de Nicolás Maduro). O objetivo da visita foi conhecer a real situação política, econômica e social do país.
Zayas é secretário do Comitê de Direitos Humanos e chefe do departamento de queixas do Alto Comissionado da ONU
Segundo Zayas, ainda que muitos pensem que o país está à beira de um desastre, como diz a grande imprensa no exterior, “a Venezuela sofre uma guerra econômica, um bloqueio financeiro, sofre um alto nível de contrabando e precisa da solidariedade internacional para resolver estes problemas”.
Além disso, o especialista considera que a comunidade internacional deve trabalhar a
solidariedade com a Venezuela para levantar as sanções impostas pelos Estados Unidos “porque são elas que pioram o desabastecimento de alimentos e medicamentos, é insuportável pensar que tendo uma crise de malária na Amazônia venezuelana, a Colômbia tenha bloqueado a venda de medicamentos e a Venezuela precise recorrer à Índia para obtê-los”.
Ele afirma ainda que o discurso atual de que há uma crise humanitárias no país, por parte dos porta-vozes dos Estados Unidos, além de não ser válido, só buscam, na verdade, mudar o regime político da Venezuela. “Desde 1999, uma série de Estados quer a mudança do regime da Venezuela, desejam de destruir a Revolução Bolivariana e anular as leis sociais adotadas nos mandatos de Hugo Chávez e Nicolás Maduro”.
“É como se eu não tivesse visitado a Venezuela”
Zayas denunciou a invisibilização de sua visita à Venezuela nos meios de comunicação dominantes, que a seu ver, não estão interessados em disseminar uma imagem completa da situação do país.
O especialista disse que, por ser um funcionário antigo das Nações Unidas, secretário do Comitê de Direitos Humanos e chefe do departamento de queixas do Alto Comissionado da ONU, quando se pronuncia sobre um tema, o normal seria que meios como a BBC e The New York Times tratassem de publicar suas declarações. Mas o que aconteceu depois de sua visita ao país, foi justamente o contrário.
Durante sua passagem pela Venezuela, o especialista conversou com o governo e a oposição, setores da sociedade civil organizada e com a igreja
“No caso da Venezuela, tanto a CNN, como a BBC, me ignoraram, é como se minha visita à Venezuela não tivesse existido, como se eu não tivesse visitado o país”, disse ao qualificar tal ação dos grandes meios como manipulação pública.
Zayas também denunciou as ações de ONGs cuja “lealdade é duvidosa” e rejeitam a fiscalização de especialistas. “Desejam a presença de especialistas que estejam dispostos a condenar o país [Venezuela], por isso, quando fui nomeado [para a missão], e minha postura é reconhecida internacionalmente, disseram que eu não era um relator pertinente para falar da Venezuela”.
Depois de anunciada a visita de Zayas a Venezuela, o escritório da ONU passou a receber cartas com insultos e exigências que o especialista considerou uma ingerência. “Eu sou relator, eu determino meu programa, eu sei que informações são pertinentes para fazer meu relatório, portanto, não quero que me ditem o informe e algumas organizações não governamentais me sugeriram de forma pouco cortês com cartas e insultos, dizendo o que eu deveria fazer quando estivesse na Venezuela”.
Para elaborar um relatório sobre a situação da Venezuela, Zayas viajou pelo país e visitou setores da oposição, organizações da sociedade civil e a igreja. Falou com 16 ministros do governo, visitou as Missões Sociais e os mercados populares, a fim de “ter uma impressão completa e de boa fé”.
Permaneceu oito dias no país e constatou que há sim problema de abastecimento e distribuição de alimentos e medicamentos, mas o mais grave são as sanções e a guerra econômica contra porque pioram o contrabando e acirram a já delicada situação na fronteira com a Colômbia.