Cumplicidade árabe dá fôlego aos EUA

A decisão da administração norte-americana de mudar, em maio, a sua embaixada de Israel para Jerusalém resulta da "cumplicidade" de vários países árabes com Washington e constitui mais um passo para "liquidar a causa do povo palestino", denunciou o movimento de resistência libanês Hezbollah

Jerusalém - EPA

Em um comunicado emitido na segunda-feira (26), o Hezbollah condenou a decisão dos EUA de abrirem a sua embaixada em Jerusalém no próximo dia 14 de maio, para coincidir com o 70.º aniversário da independência de Israel.

No dia seguinte, 15 de maio, assinalam-se os 70 anos da Nakba – a catástrofe que se abateu sobre o povo palestino desde a criação do Estado de Israel, com a expulsão de centenas de milhares de palestinos das suas terras em 1948 e a limpeza étnica que, iniciada nesse ano, se prolongou até aos dias de hoje.

A medida anunciada pelo Departamento de Estado no dia 23 deste mês enquadra-se na agressão da administração norte-americana iniciada em 6 de dezembro de 2017, quando Donald Trump afirmou reconhecer Jerusalém como capital de Israel, visando aprofundar a judaização da futura capital da Palestina e liquidar a justa causa do seu povo, refere a nota divulgada na Prensa Latina e na PressTV.

Para o movimento de resistência libanês, o anúncio representa "mais uma tentativa de humilhar árabes e muçulmanos", e constitui uma "demonstração do desprezo da administração norte-americana pelos países muçulmanos e pela comunidade internacional".

A decisão, a que não é alheia a "cumplicidade de vários países árabes" com Washington, merece a condenação do Hezbollah, que exorta os povos "a entenderem a necessidade da resistência e da Intifada (rebelião)" na Palestina, bem como "a denunciarem a agressão e a apoiarem o povo palestino", para que recupere a terra ocupada por Israel e concretize o sonho de Jerusalém [Al Quds, em árabe] como capital do seu Estado.

Repúdio internacional

Desde que a intenção da administração norte-americana foi revelada, o repúdio internacional foi grande e, no dia 21 de dezembro, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou, por esmagadora maioria, uma resolução que repudia a decisão dos EUA e insta todos os estados-membros a não estabelecerem missões diplomáticas em Jerusalém, de acordo com a resolução 478 do Conselho de Segurança, de 1980.

Na visita que efectuou em janeiro a Israel, o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, tinha afirmado que a mudança de embaixada de Tel Aviv para Jerusalém deveria ocorrer no final de 2019. O anúncio da antecipação foi encarado pelos palestinos como mais uma "provocação".

Dez membros da família Tamimi presos na segunda-feira

Forças israelitas prenderam pelo menos 19 palestinos em operações feitas na madrugada de segunda-feira (26) na Margem Ocidental ocupada, revelou a agência Ma'an.

De acordo com a Sociedade de Prisioneiros Palestinos (SPP), dez dos presos pertencem à família Tamimi, tendo as detenções ocorrido nas aldeias de Deir Nitham e Nabi Saleh.

Muhammad al-Tamimi, de 15 anos, que foi atingido com um tiro na cabeça por soldados israelenses durante protestos contra a administração norte-americana em dezembro, também foi preso na operação de ontem, mas viria a ser libertado quatro horas após a detenção. A sua família revelou que tem agendada para dia 5 de março uma cirurgia de reconstrução do crânio.

A família Tamimi, conhecida pelo seu ativismo em prol da causa palestina, ganhou uma projeção midiática bastante intensa na sequência dos protestos de dezembro em Nabi Saleh. Depois de Muhammad al-Tamimi ser atingido, a sua prima Ahed Tamimi, de 17 anos, foi filmada dando chutes e a esbofetear soldados israelenses na localidade.

Ahed encontra-se presa há dois meses e aguarda por um julgamento à portas fechadas em um tribunal militar israelense. Existe atualmente uma intensa campanha internacional em prol da sua libertação.

De acordo com a Ma'an, foram ainda detidos, na madrugada de segunda-feira (26), dois palestinos na cidade de Ramallah, cinco na região de Nablus e dois na região de Hebron.