A indicada por Trump para ser nova diretora da CIA já chefiou tortura 

A indicada para ser nova diretora da CIA (falta a aprovação do senado), Gina Haspel, já supervisionou torturas de suspeitos de terrorismo em uma prisão secreta dos Estados Unidos na Tailândia em 2002 – e depois destruiu fitas de vídeo com o registro dos interrogatórios

Gina Haspel

O presidente dos EUA, Donald Trump, indicou Gina Haspel como nova diretora da CIA e deu a notícia no Twitter. Mike Pompeo, o antigo diretor, foi indicado para substituir Rex Tillerson, demitido do Departamento de Estado. As nomeações de Haspel e Pompeo ainda precisam ser aprovadas pelo Senado.

Em maio de 2013, Greg Miller, do Washington Post, noticiou que a chefia do serviço clandestino da CIA estaria sendo afastada do cargo em decorrência de uma “reestruturação gerencial” feita pelo então diretor John Brennan. Miller documentou que essa agente – cujo nome não foi mencionado no jornal por atuar, à época, como agente infiltrada – teria um papel central em algumas das piores violações cometidas pelo regime de tortura da CIA durante o governo Bush.

Nas palavras de Miller, ela estaria “diretamente envolvida no mais controverso programa de interrogatório da agência” e teria um “importante papel” na tortura dos prisioneiros. De forma ainda mais preocupante, ela “teria dirigido uma prisão secreta na Tailândia” – parte da rede de locais clandestinos da CIA (black sites) – “onde dois prisioneiros teriam sofrido técnicas cruéis de tortura como o afogamento simulado [waterboarding]”. O relatório do Comitê de Inteligência do Senado sobre a prática de tortura também detalhou sua participação direta na tortura especialmente repulsiva do prisioneiro Abu Zubaydah.

Além disso, ela teve um papel crucial na destruição de fitas de vídeo dos interrogatórios que mostravam a tortura de prisioneiros, tanto na prisão que ela dirigiu, quanto em outras localidades secretas da agência. A ocultação dessas fitas de interrogatório, em violação a diversos mandados judiciais, bem como aos requerimentos da comissão do 11 de setembro e às recomendações dos advogados da Casa Branca, foi considerada uma “obstrução” pelos líderes da comissão, Lee Hamilton e Thomas Keane. Um promotor especial e um júri investigaram as ações, mas, ao final, decidiram não prosseguir com a acusação.

O nome dessa agente da CIA é Gina Haspel.

Não é de se surpreender, considerando que o próprio Mike Pompeo já disse estar disposto a ressuscitar as técnicas de tortura da época do governo Bush (o diretor da CIA indicado por Obama, John Brennan, foi forçado a se retirar da disputa no final de 2008 em razão do seu apoio a algumas daquelas táticas, o que não impediu que, em 2013, fosse confirmado no cargo). Em parte por isso, é bastante controverso que 14 representantes do Partido Democrata – incluindo o líder do partido no Senado, Chuck Schumer, além de Dianne Feinstein, Sheldon Whitehouse e Tim Kaine – tenham votado a favor da confirmação de Pompeo.

Não era segredo para ninguém que Haspel era a agente descrita na matéria de 2013 do Post. Depois que fiz a revelação pelo Twitter, Jason Leopold, um repórter investigativo do Buzzfeed, comentou: “todos nós que cobríamos as notícias da CIA sabíamos. Ela estava infiltrada, e a agência nos pediu para não divulgar seu nome.”

Gina Haspel agora está cotada para se tornar a maior autoridade da CIA, a despeito de seu protagonismo agressivo e duradouro em algumas das mais aterrorizantes e vergonhosas violações praticadas durante a guerra ao terror – ou talvez exatamente por esse motivo.