Intelectuais dos EUA criticam cerco a cursos sobre "golpe de 2016"
Cerca de cem professores das universidades mais importantes dos Estados Unidos, entre elas Brown, Harvard Princeton e Yale, assinaram uma carta de repúdio ao que entendem como tentativa do governo brasileiro de "tolher a liberdade de expressão nas universidades" do país, segundo reportagem da Folha de São Paulo
Publicado 12/03/2018 18:00
O movimento chamado de "Acadêmicos e Ativistas pela Democracia no Brasil" tem como alvo a declaração do ministro da Educação, Mendonça Filho, de que mandaria investigar por improbidade administrativa o professor da Universidade de Brasilia (UnB) que criou o curso em que fala sobre o golpe parlamentar de 2016, responsável pela queda da ex-presidenta Dilma Rouseff (PT).
"O pedido para que investiguem o professor e o seu departamento é uma séria ameaça à democracia no Brasil", afirma a carta do grupo endereçada ao ministro, segundo informa a Folha.
O curso sobre o golpe de 2016 foi criado em outras dez universidades brasileiras. O manifesto foi organizado pelo americano James Green, professor da Universidade de Brown. Ele também assina a carta de diretores da Associação de Estudos Brasileiros, que denúnica a ameaça ao curso e aponta "séria violação de liberdade acadêmica". "Somos todos pessoas que conhecem o Brasil e as ameaças à democracia que estão ocorrendo lá", conclui Green.
Ainda segundo informações da Folha, Green compara a situação com o que houve durante a ditadura. "Esse governo está tomando medidas que vão na mesma direção da lei da ditadura que proibia qualquer atividade política dos estudantes", afirma.
"Se eu der um curso sobre a ditadura militar brasileira, digo que é um curso sobre o golpe militar ou a revolução de 1964? O professor tem todo o direito de dizer que foi um golpe como de dizer que foi impeachment", explica, completando que, nos EUA, caso quisesse, teria o direito de dar um curso sobre Donald Trump, "porque há tradição de liberdade de expressão, e os professores usam rigor acadêmico".