Fórum Social Mundial debate futebol brasileiro
Na última quinta, 15, aconteceu, como parte do Fórum Social Mundial, que está sendo realizado em Salvador, a atividade “A luta pelo futebol popular nos clubes e arquibancadas”.
Publicado 19/03/2018 12:05
Em uma sala completamente lotada, com as pessoas ocupando até o chão do local, a primeira mesa teve o tema, “A criminalização da cultura torcedora” e contou com a participação de Adriano Costa (Santa Cruz/PE), Luciano (presidente da BAMOR/Bahia) e Beth (Os Imbatíveis/Vitória-BA) que estava substituindo o espaço de Wagner, que não poder chegar a tempo.
Adriano focou na história da formação das torcidas organizadas, a burocratização da festa, a repressão policial como um processo de criminalização do torcer. Luciano, da BAMOR, abordou as dificuldades na relação com o Estado (PM), a qual impede em grande medida a ação torcedora e a questão da pouca visibilidade dada as ações sociais das torcidas, o que contribui fortemente para reforçar a visão negativa que é atribuída às torcidas organizadas.
Beth, abordou a questão da criminalização das torcidas tal qual ocorre com os movimentos sociais de esquerda, a tentativa de humanização das torcidas, a importância feminina na sua torcida, citando inclusive o Michel Foucault e a Arte da Guerra.
Na segunda mesa, esteve presente para falar sobre “Democratizando clubes e federações” o vice -presidente do E.C. Bahia, Vitor Ferraz, que falou do processo de democratização do clube a partir da modificação estatutária (após intervenção judicial) que permitiu a entrada de novas lideranças na estrutura do clube, contando sua experiência em relação aos caminhos prováveis que os outros clubes devem seguir.
Ao seu lado estava Irlan Simões, falando sobre, elitização e acesso popular aos estádios. Irlan é jornalista e escritor do livro “Cliente versus Rebeldes”, reforçou a necessidade de articulação entre as torcidas organizadas, no sentido de combater a narrativa hegemônica de criminalização das torcidas e da busca pela democratização da estrutura diretiva dos clubes. Usa como exemplo desse processo o ocorrido semana passada na Ilha do Retiro no clássico entre Santa Cruz e Sport, onde um artefato pirotécnico foi utilizado como mote para ação repressiva da polícia. Sobre a necessidade de democratização dos clubes cita como exemplo a resistência dos torcedores argentinos contra a medida do governo Macri que visa tornar os clubes de forma obrigatória em “clubes empresas”, finalizando ele solicita a criação de uma unidade de pensamentos, grupos ou campanhas, para combater e enfrentar as diversas problemáticas da arquibancada.
Nesse momento a sala lotou e foi necessário, transferir para uma sala ao lado para continuar a atividade. Pausa para interatividade entre a plateia e os grupos presentes.
Na volta, com o tema, “A resistência feminina na arquibancada”, que foi mediada por Bia Lopes, do coletivo “Futebol, Mídia e Democracia”, a mesa se iniciou com May Bamor ( EC BAHIA) e Gabriela Gardênia (Brigada Marighella – Vitória/BA) que também representaram o movimento Mulheres de Arquibancada, e Carolina Moraes, pesquisadora sobre o futebol e a participação feminina no esporte. Antes do início das falas, Bia enquanto mediadora lembrou que no dia anterior Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro, foi assassinada a tiros, justamente pelo enfrentamento que ela fazia, contra a intervenção militar e as milícias da capital fluminense. Via de regra no futebol o primeiro minuto de silêncio é um ato simbólico representativo, mas, como disse a mediadora Bia, Marielle não é passiva de silêncio, ela na verdade desejaria um minuto de barulho, e assim foi. Todo os participantes de pé, fazendo barulho e aplaudindo, a mulher negra que resistiu a força do capital, inclusive com a vida! Resistiremos, continuaremos na luta!
O debate se iniciou com Gabi e sua fala sobre o movimento de mulheres de arquibancada, encontros nacionais, importância feminina e o combate a cultura machista no estádio de futebol. May, integrante da Bamor e atleta de futebol, fala da sua trajetória dentro da torcida e do seu papel em aglutinar e empoderar as mulheres no movimento de torcedoras organizadas do EC Bahia.
Posteriormente a pesquisadora Carolina Moraes chamou a atenção para o fato de torcidas "rivais" ocuparem um mesmo espaço no debate sobre a organização dos torcedores e torcedoras de futebol.
A mediadora Bia Lopes, torcedora do Botafogo e membro do FMD, ressaltou o papel do futebol como instrumento de socialização e da dificuldade das mulheres em se inserirem nesse espaço, a partir da perspectiva do papel social a qual as mulheres estão tradicionalmente submetidas e fializou convidando para intervenções rápidas das torcedoras Dadá Ganam (Gaviões), Luane Azambuja (Camisa 12) e Mariana (Dragões da Real).
A mesa quatro, a última, trouxe a discussão: Racismo no Futebol e LGBTfóbia no futebol.
Milton Jordão, advogado e presidente do instituto de direito desportivo da Bahia, explanou sobre o racismo na formação da sociedade brasileira e sua repercussão histórica no futebol do país, alertou acerca dos números negativos de participação negra de presidentes, técnicos e comissão técnica dos clubes.
Para encerrar a atividade, a última fala foi de William de Luca, jornalista e coordenador do Movimento Palmeiras Livre. William comentou sobre a questão da homofobia no futebol, ressaltando a perspectiva que o futebol é um microcosmo da sociedade e dentro de uma sociedade homofóbica, o futebol vai repercutir essa perspectiva. Mais acredita que na construção do debate isso deve ser minimizado em breve.
Para Bia Lopes, do Futebol, Mídia e Democracia a atividade foi importante porque “dessa forma avançamos na luta contra elitização do futebol brasileiro e aprofundamos a consciência de que é necessário democratizar os clubes para que de fato, pertençam aos torcedores, ao povo”.