Entrevista: Gilvan Paiva assume Secretaria da Cultura de Fortaleza

O sociólogo Gilvan Paiva assume o cargo de secretário da Cultura de Fortaleza, após um ano de gestão do professor Evaldo Lima (PCdoB), que deixou a função para se candidatar a um mandato como deputado estadual na Assembleia Legislativa do Ceará. Gilvan já participava da gestão da Secretaria da Cultura do município (Secultfor), como Assessor Especial de Políticas Culturais. No último sábado (07), terminou o prazo para que secretários deixassem seus cargos, a fim de concorrer às eleições em 2018.

Gilvan Paiva

Não é a primeira vez que Gilvan Paiva assume a gestão de uma secretaria municipal. Ele foi secretário de Esporte e Juventude, em Sobral (CE); de Educação em Maranguape (CE); e Habitação em Fortaleza. Filiado ao PCdoB, o sociólogo também ocupou o cargo de gestor da Secretaria de Esporte do Estado, além da secretaria-executiva da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Ceará.

Em entrevista, Gilvan fala sobre dar continuidade à gestão que começou com Evaldo Lima; sobre a retomada do Salão de Abril de Artes Visuais; a visão sobre a pasta da cultura; a integração com outras secretarias municipais; a realização e pagamento do edital de Incentivo às Artes; além da previsão de entrega da obra de restauração do Teatro São José.

"Tenho uma visão de que a gestão pública é uma escola extraordinária de aprendizados. Toda vida que você assume uma pasta dessas, você passa por uma imersão profunda em novos conceitos, acessa novos diálogos", observa o novo secretário.

Sobre sua expectativa para o cargo, Gilvan Paiva complementa: "Fico muito feliz de dar essa contribuição na cultura. É um espaço extraordinário, de uma percepção mais fina sobre o ser humano, de maior sensibilidade. E se une à minha formação de sociólogo. Nosso olhar é preparado para o estranhamento do real. E a cultura envolve enxergar essas conexões o tempo inteiro".

Gilvan Paiva é o terceiro secretário de cultura das gestões de Roberto Cláudio. Além de Evaldo Lima, em 2017, o jornalista Magela Lima ocupou a função de 2013 a 2016, durante o primeiro mandato do prefeito reeleito.

Você ocupou o cargo de Assessor de Políticas Culturais no último ano. Então sua gestão será de continuidade?

Sim, eu já estava inserido na gestão. Também integrava o Conselho Municipal de Cultura, então já estava acompanhando os debates todos. É uma gestão de continuidade porque, primeiro, nós estamos dentro do mesmo governo municipal, do prefeito Roberto Cláudio. E da mesma estratégia de gestão.

O Salão de Abril foi retomado pela Prefeitura de Fortaleza este ano, após a classe artística tomar a iniciativa de realizar o evento em 2017. Como tem visto essa retomada, ao assumir a Secultfor?

Se a gente observar a história do Salão, ela é bem mais ampla do que a própria ação do poder público. Nós reconhecemos o Salão de Abril e ficamos felizes que (o evento) seja retomado nesse momento. E estamos esperançosos que possamos construir agora uma dinâmica mais permanente, para que o Salão possa ter continuidade. E também apontando outras formas de participação da sociedade, dentro desse processo. A gente retoma o Salão de Abril agora dentro de uma nova visão, mais ampla. (Além da abertura da mostra no dia 26 de abril) haverá uma série de atividades de formação, oficinas, workshops, paralelas à exibição das obras. Vamos fazer uma imersão no universo da produção da obra artística.

Quando da divulgação de alguns eventos da Secultfor no último ano, a gestão sofreu críticas, como, por exemplo, a respeito da inclusão da zumba (uma atividade esportiva) dentro da programação cultural. Como vê o papel da pasta da cultura hoje?

Acho que a cultura é uma categoria absolutamente estratégica. Se a gente observar o que vivemos hoje no Brasil, com um quadro de muita instabilidade institucional e política, isso produz uma onda grande de falta de valores, e de referências culturais inclusive. Nesse turbilhão recente, quase que se perde o Ministério da Cultura. O ministério quase desaparece, e era uma conquista histórica do País. Nós pensamos que a cultura precisa se fortalecer sim, como uma política de Estado. Seja no âmbito nacional, com toda a tradição que seguimos nos últimos 10, 15 anos, de fortalecimento da política pública de cultura. Então, vemos como uma grande estratégia de realização do direito cultural das pessoas. De direito à cidade, ao lazer, e à cultura também. Tem um valor estratégico amplo, que vai para além do fazer cultural. Numa cidade complexa como a nossa, com mais de 2,5 milhões de habitantes, e a profunda desigualdade social entranhada aqui e em todo o Brasil, você olha para a cultura e percebe que é uma ferramenta estratégica de diálogo com a sociedade. É uma estratégia nossa, de gestão, a ocupação democrática dos territórios, dos espaços públicos. Porque a gente não pode ver a cultura só encastelada nos equipamentos tradicionais. Não posso ter uma ação cultural concentrada numa única região. Isso vai além da atividade cultural, a estratégia é a série de intervenções pela cidade. E a articulação transdisciplinar que a cultura tem, a relação com a própria educação, com a segurança pública, saúde. A cultura é um vetor transversal, e nós temos essa visão com clareza aqui na Secultfor. Nós queremos fazer uma gestão que sempre se articule mais com as demais secretarias.

Uma das marcas da gestão do Evaldo Lima foi a proximidade com a pasta do Turismo. Como você vê essa aproximação? E com outras pastas?

Acho que a Secretaria de Cultura precisa dessa integração, precisa se relacionar com outras secretarias.

É uma saída também para o orçamento baixo que vocês têm à disposição?

É fundamental. A questão da transversalidade se articula, na gestão municipal, com a Secretaria de Educação, com os Institutos Cucas. Isso potencializa a ação cultural, porque se você imaginar que só a Secultfor for vista como (responsável pela) cultura, acaba sendo limitado. Mas se você passa a ver ações culturais, que existem em projetos da Secretaria da Educação, por exemplo, a integração é absolutamente importante.

Outra questão de orçamento é que a Secultfor tem sido cobrada sobre a regularidade dos pagamentos dos projetos de editais. Como está a situação da pasta nesse ponto?

Nós estamos vivendo uma nova fase. E tem dois momentos: o primeiro deles é a questão da quitação das dívidas com os projetos. Encerramos 2017 conseguindo pagar as dívidas com os editais. Isso foi uma coisa muito positiva. Havia uma grande inquietação, foi feito muito barulho em torno dessa questão, mas resolvemos. Felizmente, este ano, com a presença do prefeito Roberto Cláudio no Teatro Antonieta Noronha (sede da Secultfor), nós anunciamos a regularização do calendário dos editais e do pagamento dos projetos. Então, a gente está com esse compromisso de regularização, porque daí criamos condições para pagar em tempo hábil.

Já existe uma previsão sobre o lançamento do edital de Incentivo às Artes deste ano?

O edital é extremamente importante para a cidade. E ele segue um ritual de implementação. No final de dezembro, nós fizemos uma consulta pública sobre o edital. E ficamos até o final de fevereiro, foram dois meses de consulta. Depois apresentamos o projeto no Conselho Municipal de Cultura. No conselho, foi criada uma comissão para analisar as diversas sugestões. E o trabalho dessa comissão será apresentado na próxima reunião do Conselho Municipal de Cultura. O debate deverá ser finalizado nessa ocasião e vai ser aprovada a minuta do edital. A partir dessa aprovação, vai ser encaminhada para a CLFor (Comissão de Licitação da Prefeitura), daí teremos noção dos prazos de inscrições e das outras datas. Creio que abriremos as inscrições do Edital ainda nesse primeiro semestre. São 13 linguagens artísticas envolvidas no edital, então são muitos debates, e o processo exige esse tempo de maturação.

O prefeito anunciou, no mês passado, que a obra de restauração do Teatro São José seria entregue até junho deste ano. Confirma essa previsão?

A gente falou da regularização dos editais, e também há a questão das inaugurações, das entregas. Nesse último ano de gestão, nós entregamos à cidade o próprio Centro Cultural Belchior, a Biblioteca Infantil Herbênia Gurgel, e vamos ter agora, a entrega da Biblioteca Cristina Poeta (no bairro Autran Nunes), isso dentro do hall de atividades do aniversário da cidade, nesta sexta (13). O cronograma de entrega do Teatro São José está mantido. E também queremos entregar, ainda este ano, o centro cultural da Casa do Barão de Camocim (Centro), articulado a Vila das Artes.