Conselho Nacional Palestino realiza primeira reunião desde 1996

O Parlamento da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) se reunirá nessa segunda-feira (30) pela primeira vez em mais de 20 anos, no momento em que o presidente Mahmud Abbas tenta consolidar sua posição em meio a tensões com Washington. A comunidade palestino-brasileira, o FEPAL, comemorou o anúncio.

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A reunião do Conselho Nacional Palestino (CNP) será organizada em Ramallah, na Cisjordânia ocupada, e deve resultar na eleição de 18 membros do comitê executivo da OLP.

Mais de 100 dos 740 membros do CNP anunciaram em uma carta que pretendem boicotar a reunião, incluindo dezenas de aliados do grupo islamita Hamas, o maior partido palestino depois do Fatah de Abbas. O presidente palestino recebeu pedidos para adiar a assembleia até uma reconciliação entre as facções rivais.

O CNP, que representa os moradores dos territórios palestinos e da diáspora, não celebra uma sessão ordinária desde 1996, embora tenha organizado uma reunião de emergência em 2009 em Ramallah.

A sessão, que deve começar nessa segunda-feira (30) e prosseguir por três dias, acontece no momento em que a relação de Abbas com o governo do presidente norte-americano Donald Trump passa por uma grave crise, em função da transferência, em 14 de maio, da embaixada dos Estados Unidos de Tel Aviv para Jerusalém.

Também acontece em meio ao grande movimento de protesto para exigir o “direito ao retorno” dos palestinos às regiões das quais foram expulsos ou fugiram após a criação do Estado de Israel em 1948. Mais de 40 palestinos foram assassinados em operações do Exército israelense desde o início, em 30 de março, das grandes manifestações ao longo da fronteira entre Gaza e Israel.

“O momento histórico vivido pelo povo palestino é grave, de risco existencial como, talvez, jamais havido em nossa tragédia, de limpeza étnica, genocídio, exílio e ocupação. Os desafios que nos são impostos, inclusive na diáspora, obedecem ao principal risco que sobre nós paira, que é existencial, qual seja, de fazer desaparecer das agendas internacional e regional a Questão Palestina e, de consequência, a desaparição mesma de nosso direito à existência enquanto povo e Estado” esclareceu em nota a Federação Árabe Palestina no Brasil (FEPAL), responsável por representar a comunidade palestino-brasileira, uma das mais importantes da diáspora global palestina.

A Federação comemorou o anúncio, afirmando que recebeu a notícia da reunião com “alegria e renovada esperança”. ”Seguimos depositando máxima confiança neste CNP, especialmente em sua capacidade de se renovar em busca de nossos objetivos mais concretos, todos baseados nos direitos nacionais, civis e humanitários de nosso povo, sempre ancorados no Direito Internacional Humanitário e contando com o apoio da quase totalidade da Comunidade Internacional e seus organismos, dentre eles a ONU, para culminar com a criação e o reconhecimento do Estado Palestino, com Jerusalém sua capital”, reiteraram.

As renovações deste Conselho, bem como da direção e da política da “única e máxima” OLP, são vistas como de extrema importância para a FEPAL, uma vez que essas entidades são cruciais para defender a existência da Palestina como Estado diante da atual conjuntura.

O início da sessão está programado para essa segunda-feira (30) à noite com um discurso de Abbas, de 82 anos. Trump reconheceu unilateralmente Jerusalém como capital de Israel, rompendo décadas de consenso internacional de que o estatuto da cidade deveria ser estabelecido com um acordo entre israelenses e palestinos e rompendo, inclusive, determinações da ONU.

A Federação lembra ainda os principais desafios postos para essa reunião: a organização do Estado, a unidade nacional e a derrota de todas as “ingerências externas” nos assuntos internos, “seja como povo, seja como resistência”.