BR Distribuidora adota 'prática suicida' de privilegiar acionistas

Apesar da gestão que minimiza os investimentos e levam distribuidora a perder mercado para importadores, governo não teve condições políticas de privatizar companhia e optou por abrir o capital.

BR Distribuidora

 O governo Michel Temer e o ex-presidente da Petrobras Pedro Parente não conseguiram concretizar suas intenções de vender a BR Distribuidora, a gigante de distribuição de combustíveis da Petrobras. Os gestores e o governo não tiveram apoio suficiente, mas a atuação da subsidiária, hoje, se insere no contexto da atuação que privilegia os negócios e o mercado.

Como não conseguiu privatizar, a estratégia foi abrir o capital da empresa, com autorização para vender 25% das ações da Petrobras na BR. O Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Minérios e Derivados de Petróleo do Rio de Janeiro (Sitramico) solicitou, por ofício, informações sobre a mudança no estatuto da empresa que permitiu a venda das ações.

“A Petrobras não respondeu e a BR respondeu, mas de forma evasiva”, afirma a presidenta da entidade, Ligia Deslandes. O sindicato tem várias ações tramitando na Justiça contra a privatização da BR.

Em dezembro, a BR Distribuidora teve seu capital aberto num IPO (oferta pública inicial, na sigla em inglês). Foram vendidas 27,85% das ações pertencentes à Petrobras (60% para investidores estrangeiros). A empresa conseguiu R$ 5 bilhões com a abertura de capital e começou a operar ações na bolsa de São Paulo em 15 de dezembro.

“A BR Distribuidora tem priorizado ao máximo o pagamento de dividendos aos acionistas.Transfere quase todo o resultado operacional para os acionistas e minimiza os investimentos”, diz o presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), Felipe Coutinho. “A prática é suicida, compromete o futuro da companhia em gestão típica de companhias controladas por agentes do capital financeiro e transnacional. Ao mesmo tempo, aprova a elevação dos proventos dos executivos com programa de distribuição milionária de renda variável.”

Em abril, os acionistas da BR aprovaram em assembleia pagamento de R$ 442,5 milhões em dividendos “adicionais” referentes ao ano de 2017, segundo o Valor Econômico. O pagamento total dos dividendos seria de R$ 1,09 bilhão em proventos, dos quais R$ 658,5 milhões na forma de juros sobre o capital próprio já haviam sido aprovados em janeiro, ainda de acordo com o jornal.

“Entre a garantia do suprimento aos menores custos para a sociedade e o máximo lucro para acionistas estrangeiros, a atual direção fica com a segunda opção e demonstra sua ideologia antinacional”, diz Coutinho. Para ele, o futuro depende das próximas eleições. “A maioria da população é contra as privatizações. Espero que os eleitores encontrem candidatos que pensem da mesma maneira.”

Como consequência da gestão da Petrobras hoje, a participação da BR no mercado de derivados tem se reduzido, e a importação é estimulada. Na avaliação do presidente da Aepet, a Petrobras e suas refinarias perdem mercado como consequência da política de preços da estatal. Por essa política, preços altos arbitrados pela estatal tornam lucrativas as operações de importação de derivados por concorrentes.

“As refinarias da Petrobras alcançam 28% de ociosidade, a importação de combustíveis e a exportação de petróleo cru disparam. Perdem os brasileiros e a Petrobras, ganham os agentes privados da cadeia de importação de derivados, em especial os refinadores dos Estados Unidos”, aponta Coutinho.

Segundo a Petrobras, a BR Distribuidora, constituída em 1971, é a maior distribuidora de combustíveis e lubrificantes do Brasil em volume de vendas. No período de nove meses encerrado em 30 de setembro de 2017, sua participação nesse mercado foi de 29,9%. Ela serve mais de 8 mil postos de serviço com bandeira BR e foi líder no segmento rede de postos, com 24,5% de participação.