Bolsonaro: Ruralistas não devem ser punidos por trabalho escravo
Em entrevista à rádio Jovem Pan nesta segunda-feira (8), Jair Bolsonaro, candidato do PSL à Presidência da República, demonstrou que em apenas três dias sua recuperação foi inexplicável. Isso porque no dia 4 de outubro ele não compareceu ao debate na Globo sob a justificativa de que os médicos o proibiram, já que se recupera de um ataque a faca.
Por Dayane Santos
Publicado 08/10/2018 14:53
Apesar disso, concedeu entrevista à Rede Record e, com a voz trêmula e contida, Bolsonaro parou a gravação por diversas vezes. Mas nesta segunda, Bolsonaro esqueceu dos pontos que tem na barriga e voltou a falar normalmente, chamando a atenção até de Marco Antônio Villas, um dos participantes do programa Jornal da Manhã.
O clima de cordialidade dos apresentadores não escondia a satisfação com o resultado das urnas. Ao ser questionado se participaria de um debate com Fernando Haddad (PT), seu adversário no segundo turno, Bolsonaro disse: “Acho que dá para participar, estou me sentindo bem, fiquei 20 dias meio alienado do mundo, mas estou me inteirando”.
Apesar de ter fugido de todos os debates desde o início da campanha, sob o argumento de que só seria atacado, Bolsonaro diz que não vai fugir do enfrentamento com Haddad: “Afinal de contas, debater com o PT não tem dificuldade. O que o PT fez ao longo de 13 anos acredito que está vivo na memória de todo mundo, não queremos isso de volta. Eu represento, com quem está do meu lado, uma oposição”.
Ao ser questionado sobre quais são os seus planos, ele disse que seu objetivo é pacificar o Brasil, mas afirmou que não vai mudar o discurso de ódio praticado há 30 anos de vida pública.
Segundo ele, não pode se transformar em “Jairzinho paz e amor” para tentar angariar votos no segundo turno. “Olha só, eu não posso virar o ‘Jairzinho Paz e Amor’ e me violentar. Eu tenho que continuar sendo a mesma pessoa. É lógico que a gente usa sinônimos, de vez em quando eu falava palavrões, eu não falo mais”, amenizou Bolsonaro.
Na linha de “pacificar”, Bolsonaro disse que a primeira coisa que pretende fazer se for eleito, é uma “devassa” nos ministérios e no BNDES para ver ser encontra alguma falha para acusar o PT.
Ele disse ainda que vai “dar uma certa desintoxicada” nos ministérios e vai viajar para “fazer negócio com o mundo”, mas citou apenas três países onde pretende fazer negócios. “Pretendo, caso eleito, viajar para Israel, EUA e para o Japão”, afirmou.
Bolsonaro declarou que ao visitar outros países foi “recebido pelo manto da desconfiança”, mas não admite que seja por conta do seu discurso fascista, mas ao que chamou de “política brasileira com viés ideológico”, novamente acusando os governos de Lula e Dilma.
Quando questionado sobre como pretende governar com o parlamento eleito, Bolsonaro aproveitou para atacar os órgãos de fiscalização do trabalho que ele diz praticar “ativismo judicial”.
Colocando os ruralistas como vítimas da voraz ação da fiscalização, Bolsonaro diz que os agentes do Ministério Público do Trabalho “chegam na propriedade e acham problema”. Ora, se a lei fosse cumprida e os direitos respeitados, nada poderia ser “achado”.
Citando a Emenda Constitucional 81, que determina que aquele que pratica trabalho escravo poderá ter a sua propriedade expropriada, Bolsonaro defendeu que o fazendeiro não devia perder o seu imóvel só porque impôs aos seus trabalhadores condições análogas à escravidão.
Marco Antônio Villas bem que tentou interromper o candidato, mas sem sucesso. Ele resolveu detalhar a questão, citando o exemplo de uma trabalhadora rural que utilizando agrotóxico para combater pulgão é alvo da fiscalização.
Mas o exemplo que na tese de Bolsonaro demonstraria o suposto abuso da fiscalização, só evidenciou de que lado ele está. A trabalhadora que estava exposta ao agrotóxico foi submetida a um exame pela fiscalização em que se verificou que está grávida, portanto não poderia estar exposta ao produto, pois além de doenças como câncer, distúrbios endócrinos, os bebês podem ser gerados com má formação congênita, produzindo aborto.
Vale lembrar que, antes de expor a trabalhadora ao agrotóxico, o patrão deve por lei tomar todas as medidas que assegurem a sua proteção e a saúde física e psiquica. Enquanto faz discurso em defesa da família e dos bons costumes, Bolsonaro sequer se importa com a vida da trabalhadora, muito menos com a do bebê que ela espera.
“Por aí só já é uma injustiça. Não pode o Marco Antônio Villa, com 90 anos de idade, que praticou o trabalho escravo, punir a sua esposa, filhos e netos, isso não pode acontecer”, disse ele, esquecendo dos trabalhadores e trabalhadoras que também tiveram suas famílias punidas pela condição degradante de trabalho que lhe foi imposta. “Tem que combater o trabalho escravo, mas não dessa forma”, completou.
Silêncio de Guedes
Uma das jornalistas questionou Bolsonaro sobre o silêncio estabelecido ao seu guru econômico, Paulo Guedes, depois que ele adiantou medidas de um eventual governo como a CPMF e o aumento de impostos para os mais pobres.
Bolsonaro disse que Guedes e eles estão unidos e que a decisão de calar o economista era apenas uma estratégia para não criar polêmicas sobre as medidas econômicas que pretende adotar. Mas deixou escapar algumas, ao ser indagado novamente: “Privatiza muita coisa e extinguir outras estatais”, disse.
A narrativa de Bolsonaro é a de desqualificar o adversário, imputando as suas teses. Apesar de sempre criticar o Bolsa Família e dizer que o programa devia ser extinto, Bolsonaro disse na entrevista que o Haddad estava “levando terror” para o Nordeste ao denunciar as suas intenções.
“A questão do Bolsa Família é atacar a fraude e não deixar que seja um programa para captar voto”, disse.