Apoiadores de Bolsonaro atacam nordestinos após eleição

Intolerância, ódio e preconceito têm permeado as eleições de 2018 e não foi diferente após a apuração dos votos do primeiro turno. No último domingo (07), nordestinos foram atacados nas redes sociais, reduto eleitoral do Partido dos Trabalhadores (PT) e onde Fernando Haddad conseguiu seu melhor resultado.

Por Verônica Lugarini

mapa eleição 2018 - primeiro turno

Neste domingo (07), confirmou-se o segundo turno das eleições presidenciais no Brasil e, em meio a notícia, começaram as postagens preconceituosas contra os nordestinos. As mensagens iam desde xingamentos até a pedidos para que os estados do Nordeste fossem separados do Brasil. A região foi a única do país em que o candidato Jair Bolsonaro (PSL) não ganhou, ele teve 46% dos votos e Fernando Haddad (PT) teve 29%.

Apesar da lei 7.716, criada em 1989, determinar que ações preconceituosas como essas pós-eleições são consideradas crime racial – como discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional – internautas continuaram fazendo postagens:

"Haddad no segundo turno, vocês tão de sacanagem. Alguém tira o nordeste aí, por favor", disse um usuário das redes sociais.

Outro disse que o "povo nordestino votou em Haddad só por causa do Bolsa Família. Ninguém quer trabalhar". " Nordestino vota no PT, mas depois vem pro Sul procurar emprego", comentou outro internauta.

"Pelo amor de Deus, vamos separar o nordeste do resto do Brasil", postou ainda outro usuário. "Nordestino não é gente. Essa eleição foi só mais uma prova disso", escreveu um homem.

As postagens foram feitas por apoiadores de Bolsonaro, que não aceitaram a derrota na região e o próprio candidato incentiva esse discurso de ódio. Em suas declarações, Bolsonaro afirmou que negros de quilombos não servem nem para a procriação, que mulheres nascem porque são fruto de uma fraquejada do homem, que é melhor ter um filho morto num acidente de trânsito do que namorando ‘um bigodudo’, que é a favor da tortura e que a ditadura civil-militar deveria ter matado pelo menos uns 30 mil e que não haveria problema se inocentes morressem.

"Se o nordestino tivesse a cabeça redonda pensaria melhor", constava de uma das mensagens publicadas no Twitter. Essa não é a primeira vez que a disputa política gerou xingamentos aos nordestinos. Em 2014, quando Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) se enfrentaram, apoiadores do tucano postaram diversas mensagens contra os nordestinos. Foi nesta eleição que a polarização entre os dois campos, esquerda e direita, se acirrou, levando a troca de ofensas entre brasileiros.

Em 2014, eleitores mais radicais do PSDB chegaram a pedir a separação dos estados do Nordeste, o que aconteceu novamente em 2018.

Ódio e intolerância nas ruas

A intolerância e o ódio não se restringem às redes sociais. Na madrugada do último domingo, o mestre de capoeira Moa do Katende foi morto por um eleitor de Bolsonaro após dizer que votou em Fernando Haddad. No mesmo dia, o jornalista Guilherme Daldin vestia uma camiseta com a imagem do ex-presidente Lula quando foi atropelado por um carro que pertencia a um homem que fazia postagens de ódio e intolerância nas redes.