Lu Castro: Libertadores quae sera tamen

Conseguir me sentar diante do computador nesta segunda-feira para escrever não foi tarefa fácil. Entre a tristeza ao saber de agressões e mortes em razão das eleições e a busca de forças pra seguir na luta e fortalecer minha prole, uma necessidade de transmutação.

Por Lu Castro*

Bandeiras América do Sul - Ilustração: Guilherme Arruda

É preciso pegar todo esse sentimento de horror que costuma invadir as pessoas ao toque do fascismo e fazer algo de útil. Bem, diante disso, tenho o futebol e todos os que comungam da minha paixão pelo jogo e pela liberdade/coletivo.

Enquanto o país se mobilizava para acompanhar o último debate dos presidenciáveis – com a ausência do candidato do regime fascista, rolava Cruzeiro x Boca Juniors, jogo valendo vaga nas semifinais da Libertadores da América.

Nos dois dias imediatamente anteriores ao último jogo decisivo entre Cruzeiro e Boca, Palmeiras ratificou a vaga diante do Colo-Colo, River Plate passou diante do Independiente e o Grêmio avançou despachando o Tucumán.

Enquanto o país assistia ao debate e me presenteava com memes desopiladores nas redes sociais, acompanhava a tentativa do Cruzeiro de suplantar a derrota por 2 gols a 0 em La Bombonera. Chuvinha, rede e comentários dirigidos à minha gata Raposinha foram salutares.

Antes de falar o que todo apaixonado por futebol sabe de cor e salteado, convém falar um pouco sobre a melhor competição do mundo: a Libertadores da América. E seu nome trata de figuras, em sua maioria de formação militar, que levaram alguns países sul-americanos à independência.

Os homenageados da competição sob égide da Conmebol são: José Artigas, Simón Bolívar, José de San Martín, José Bonifácio de Andrada e Silva, Pedro I, Antonio José de Sucre e Bernardo O’Higgins.

Não estou aqui pra contar a história de cada um deles e o que mudou na disposição político/geográfica da América do Sul após suas ações. Pretendo apenas fazer um link bem fuleiro sobre liberdades, futebol e o momento de risco tão iminente à nossa frágil democracia.

É interessante observar a guerra de argumentos – partidos de poucos dispostos a argumentar contra os que se utilizam de memes e frases vazias – na tentativa de elucidar o que significa liberdade no contexto atual.

E mais interessante ainda é perceber, que no meio de todo esse rebuliço e com pouca atenção dada, os jogos da semifinal da Libertadores de 2018 será uma das melhores dos últimos anos. Teremos o confronto entre River Plate x Grêmio e Boca Juniors x Palmeiras e, em nome do bom futebol, daquele que eu gosto de assistir independente do meu time de coração, acompanharei com outro espírito: o da liberdade!

A primeira partida está prevista para o dia 23 de outubro, cinco dias antes do pleito fatal. Período em que seguiremos lutando pela manutenção de nossas liberdades. A segunda partida está prevista para o dia 1º de novembro, quando já conheceremos se seguiremos como um país democrático ou se cedemos, por obra da ignorância e maldade, ao fascismo.

Nossa liberdade está em jogo. Tardia ou não, é preciso lutar diariamente por ela. E que o futebol nos ajude sempre a compreender o seu valor.

E viva a Libertadores da América, o melhor campeonato do mundo!