Jesualdo Farias: Um País (In)visível

“Este é um retrato superficial de um País onde, os cinco homens mais ricos concentram a mesma riqueza que os 100 milhões de pessoas mais pobres e onde o rendimento médio do 1,0% mais rico é 36,3 vezes maior que o dos 50% mais pobres. Combater esse quadro não é ‘coisa de comunista’, é sim, uma questão de justiça social”.

Por Jesualdo Farias*

miséria rua

As crises política e econômica, que causaram o mais acirrado dualismo da história recente do Brasil, não param de alargar o fosso social. Esse quadro passou ao largo dos debates, por ocasião das eleições, e parece continuar sendo minimizado. Para a elite brasileira, a desgraça acumulada em séculos de exploração e de exclusão da pobreza, não importa. A exposição do drama social e a cobrança da responsabilidade do Estado, por uma correção de rumos, é "coisa de comunista". Assim, a elite trata as cotas, as bolsas e programas assistenciais como o Mais Médicos.

De acordo com a organização não governamental Oxfam, de 2016 para 2017, houve um crescimento de 11% na quantidade de pobres no Brasil. Somos um País de 15 milhões de pessoas que sobrevivem com uma renda equivalente a US$ 1,90 por dia. No mesmo período, de acordo com a Unicef, 32 milhões de crianças e adolescentes de 0 a 18 anos sofrem com carência de recursos financeiros, de educação, de informação, de moradia, de saneamento básico, de água potável ou com a exploração do trabalho infantil.

Essa "degradação social" coloca o Brasil como o nono País mais desigual do mundo na avaliação da Oxfam. Esse é o corolário de políticas econômicas equivocadas, que priorizam apenas o combate ao déficit fiscal. Dois marcos dessas políticas são a reforma trabalhista e a EC95 de 2016. Associadas a essas medidas, houve a redução drástica do volume de gastos sociais, que retrocederam ao patamar de 2001 e, paradoxalmente, generosas isenções fiscais como aquelas inseridas na entrega do pré-sal ao capital estrangeiro.

Apesar de todo o sacrifício imposto pelo governo aos trabalhadores brasileiros, o déficit fiscal cresce e ficará em torno de R$ 140 bilhões em 2018. Este é um retrato superficial de um País onde, os cinco homens mais ricos concentram a mesma riqueza que os 100 milhões de pessoas mais pobres e onde o rendimento médio do 1,0% mais rico é 36,3 vezes maior que o dos 50% mais pobres. Combater esse quadro não é "coisa de comunista", é sim, uma questão de justiça social.

*Jesualdo Farias é professor titular da Universidade Federal do Ceará – UFC.

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