Por um resgate de princípios, minha solidariedade a Jean Wyllys
Empatia, Solidariedade, Empatia, Solidariedade, Empatia, Solidariedade, Empatia, Solidariedade. Tornar estas palavras nosso mantra e nossa prática deveria ser a meta.
Por Leci Brandão
Publicado 25/01/2019 17:37 | Editado 04/03/2020 17:15

Desde ontem, corações brasileiros têm demonstrado gentileza e compreensão com a decisão do deputado federal Jean Wyllys, reeleito pelo Rio de Janeiro para seu terceiro mandato. Jean renuncia ao seu mandato por temer por sua vida e de sua família. Nós também nos manifestamos não somente por ser nossa obrigação publicizar nossos posicionamentos, uma vez eleitos para representar o povo de São Paulo na ALESP, mas principalmente por convicção política e cidadã.
Jean Wyllys provou ser um grande representante público e, mais importante, um grande ser humano que expôs sua vida e de sua família para defender os grupos vulnerabilizados da sociedade brasileira, em especial, a população LGBT vítimas diárias da homofobia. Por buscar sempre praticar a empatia, eu não sei o que seria de mim se eu fosse atacada publicamente (como já fui algumas vezes) e difamada com notícias falsas e inescrupulosas por anos. Não sei como agiria, o que sentiria? Certamente seria uma dor profunda… E você?
Independentemente de divergências políticas que se possa ter com outra pessoa, é possível, civilizado e fundamental separarmos estes entendimentos sobre a vida coletiva. Certa vez ouvi uma frase de um professor que admiro muito e que venho repetindo: "quem pensa diferente de mim não é meu inimigo". Podemos discordar uns dos outros, podemos não aprovar a forma como representantes eleitos conduzem seus mandatos parlamentares. Ora, se suas ações não destroem direitos constitucionais, não causam desvios de recursos ou de influência política, não acarretam em crimes contra quem quer que seja, é correto e imprescindível para a democracia que o parlamentar defenda o seu ponto de vista, uma vez que se trata de um ponto se vista da coletividade que o elegeu.
Ou seja, quando somos eleitos, não falamos mais somente por nós mesmos, mas por diversos grupos sociais que reivindicam que suas bandeiras sejam defendidas no debate público e inseridas nas políticas públicas. Neste sentido, não cabem demonstrações de puro ódio, sarcasmos, ironias e risadas, de quem quer que seja, diante da renúncia de um deputado eleito por ser ameaçado de morte! O autoritarismo não se legitima somente por governos, mas pelo apoio de uma sociedade civil desatenta aos sinais de fascismo. O autoritarismo não comunica sua chegada no plantão de notícias, ele vai se impondo no dia a dia até que toma proporções grandes demais para que esta mesma sociedade possa controlá-lo. E perdemos o controle, todos sofremos, uns muito mais que outros, mas todos estariam expostos à sanha dos que querem impor suas crenças, costumes e convicções políticas.
Ontem, para a infelicidade do país, apesar de haver muitos solidários, o ódio prevaleceu contra quem decidiu pela sua segurança diante de ameaças reais de morte. Ameaças estas acompanhadas de falsas notícias, calúnias e difamação pública. Quando foi que parte do povo brasileiro abandonou sua humanidade para aplaudir rompantes fascistas? É preciso que retomemos a política como mediadora das diferenças com urgência! Fazer política, diferentemente do que está posto hoje pelo senso comum, é, justamente, nos entendermos nas nossas diferenças. Fascismo é a simples eliminação do outro, daquilo que diverge. A democracia pressupõe a política como mediadora dos interesses da sociedade, não existe uma sem a outra. O fascismo impõe que todos sejam iguais nos costumes, crenças e convicções políticas, geralmente mesquinhas, e que os diferentes sejam eliminados.
Fazer política não é praticar corrupção, mas levar para a mesa de discussões e decisões todas as demandas da sociedade, com suas ideologias, tradições, culturas, princípios e interesses diversos. Nós estamos na mesa de defesa daqueles que não dispõem de poder financeiro e político para viver. Outros representam aqueles providos de mais recursos. É muito difícil, é muito complexo e nunca agrada a todos. Mas é a melhor forma de nos entendermos enquanto sociedade até este tempo histórico. Nós ainda não inventamos outra forma de mediar interesses da sociedade. Precisamos ter maturidade para assimilar estas contradições o quanto antes sob o risco de nos enrolarmos ainda mais nesta armadilha. Afinal, já caímos nela.
Todos nós somos ideológicos. A Escola Sem Partido é uma demanda sobretudo ideológica que não se assume como tal, por isso mesmo, uma bandeira hipócrita e cínica por natureza. Assim como também o é acreditar que o país vai bem, automaticamente, quando os pontos da Bolsa de Valores sobem e o dólar cai. Ou como quando se acredita que meninas vestem rosa e meninos vestem azul. Todas estas sentenças são extremamente ideológicas e seria mais respeitável assumi-las como tal. As ideologias se diferem, fundamentalmente, por serem excludentes ou inclusivas, como já refletiu o grande Paulo Freire, outra personalidade hoje atacada pelo ódio fundamentalista e ignorante. Não é preciso amá-lo ou odiá-lo, somente compreendê-lo por sua relevância teórica, concordar ou discordar com argumentos e nunca com ataques pessoais. Paulo Freire é um teórico brasileiro importante no mundo, quer queiramos ou não.
A tão alardeada corrupção é um conjunto de práticas imorais, criminosas e antiéticas que precisam ser combatidas como tal, seja no setor público ou no setor privado. Afinal, no setor privado também há corrupção e muita! Muitas vezes o setor privado é o próprio corruptor do Estado. É preciso acalmar os corações e avaliar caso a caso sempre, além de, claro, atentar para as pequenas corrupções cotidianas. Podemos começar por ler, ouvir e buscar conteúdos mais profundos, completos e diversos, e não parar somente nos títulos. É preciso romper a bolha dos algoritmos! Se não resgatarmos estes conceitos, vamos perder de vez a oportunidade de fazer do Brasil um país de todas e todos de verdade.
Redobro a minha solidariedade ao Jean Wyllys, que ele possa resgatar seu bem-estar e felicidade, que um dia o tenhamos de volta para construirmos juntos esse país que sonhamos. Que Oxalá nos proteja destes tempos de ódio e que a Empatia e a Solidariedade sejam nossos valores num futuro próximo.
