Convergir e repactuar

Por Sidnei Aranha, Mauricio Brusadin e Erick Willy Weissenberg*

Os eventos ambientais não respeitam fronteiras! Os fenômenos extremos do clima não selecionam sistemas de governo ou ideologia. Os impactos das mudanças climáticas não escolhem nações, tampouco etnias. Há apenas um único planeta para abrigar a espécie humana e toda a diversidade de vida que insiste em se perpetuar, apesar do iminente risco de esgotamento dos recursos naturais e da ameaça de elevação da temperatura, que pode exterminar regiões. Entretanto, não se trata de um viés catastrófico de visão de futuro, mas de um sinal de atenção para as escolhas que faremos daqui para frente.

A despeito das diferenças e das divergências políticas, ideológicas e partidárias na disputa pelo poder, estamos todos igualmente à mercê dos riscos e das ameaças de uma era marcada pelas mudanças climáticas no planeta. E, justamente, é na variável ambiental que podemos encontrar pontos de convergência para avançarmos na direção de um desenvolvimento que contemple a preservação e a utilização racional e responsável dos recursos naturais, com respeito às espécies e com o necessário equilíbrio nos aspectos econômico, social e ambiental.

Tamanha é a importância do tema que, no Brasil, a agenda está contemplada em nossa Carta Magna, que considera o meio ambiente equilibrado um direito do cidadão atual e das futuras gerações. Assim o país traz em seu centro legal a questão ambiental como um importante ponto a unir a sociedade, independente da etnia, da ideologia política, do credo religioso ou do gênero.
Como não considerar o direito daqueles que ainda vão nascer, sem levarem conta as condições em que estamos deixando nosso pais? Como pensar no futuro, diante do consumismo irresponsável, do extrativismo desenfreado, dos abusos de poder, da corrupção sem precedentes e da destruição de florestas, nascentes, rios e mares? O momento é, ao mesmo tempo, de atenção e de vislumbrar a oportunidade de repactuar a sociedade exatamente a partir de uma agenda ambiental.

Exemplo recente de que esta tese é perfeitamente factível foi dado pelo Programa Verão no Clima, que teve como eixo central a não geração de resíduos e promoveu uma grande ação de educação ambiental simultaneamente nos dezesseis municípios do Litoral Paulista, envolvendo governo estadual, prefeituras, iniciativa privada, terceiro setor e sociedade, demonstrando assim a capacidade realizadora e transformadora que a convergência pelo interesse público pode resultar.
A parceria com os secretários de meio ambiente de todo Litoral Paulista promoveu uma série de diálogos em torno de aspectos comuns que pudessem dar origem a políticas públicas mais amplas, ultrapassando as fronteiras municipais.

Essa aproximação, que tende a crescer para o estado todo, deixou de lado questões políticas-ideológicas e reuniu secretários no melhor espírito republicano, formando um fórum para trocar experiências e buscar soluções conjuntas para as prementes questões ambientais que já se fazem sentir nas regiões costeiras.

Em nome desse caminho colocamos toda a nossa energia, pois é a partir da agenda ambiental que se faz a transversalidade de todas as áreas da gestão pública, é nessa seara que nos igualamos todos, habitantes de um planeta único que nos nutre devida e nos concede infinitas possibilidades para repactuarmos nossa relação e acertarmos o passo da humanidade daqui para a frente.