Elias Jabbour: A guerra EUA-China-Rússia e nosso desafio no Brasil
Já no final do mandato do presidente Obama, os Estados Unidos já haviam anunciado a mudança do tom. Àquela época combinavam-se duas formas de tentativa de reenquadramento do mundo – e da China Socialista em particular: 1) a via liberal, com o Tratado TransPacífico (TPP); e 2) o reenquadramento do mercado pelo Estado via proibição privada de emissão do dólar, voltando a ser monopólio exclusivo do FED (o banco central norte-americano).
Por Elias Jabbour*
Publicado 23/06/2019 12:38
Este último alavancou de cinco a dez vezes a capacidade imperialista de massacrar países e povos. Toda uma jurisprudência fora criada em torno do dólar passando a ser passivo de criminalização qualquer pessoa ou empresa que utilizar o dólar como meio de transação com qualquer país inimigo. E todo e qualquer ativo em dólar no mundo estaria livre para “congelamento”. Dezenas de bilhões de dólares foram literalmente roubados, por exemplo, da Venezuela e Irã. Asfixia cambial e crise aguda de abastecimento gerou uma terrível crise humanitária na Venezuela. A mídia venal e seus economistas de aluguel correm para “denunciar” a incapacidade desses países em fazer uma “correta” política econômica e monetária. É a guerra!
O imperialismo foi derrotado na Síria, onde a presença russa virou o jogo de uma fácil vitória da coalizão Estado Islâmico/Al Qaeda/Estados Unidos. A união entre a Federação Russa, a China Socialista, o Irã e o Hezbollah mostrou que o mundo mudou. A derrota dos Estados Unidos na Venezuela é algo provável. O Brasil é o único lugar do mundo em que a estratégia imperialista deu bons frutos, incluindo uma guerra híbrida que destruiu nossas empresas e resultou no encarceramento do maior líder popular da América Latina. Refiro-me a Lula.
A estratégia imperialista é errante, apesar de clara. Alvos seletivos mudam conforme a conjuntura. O alvo agora é o Irã. A guerra parece estar próxima, a depender da vontade de Trump e da extrema-direita que o cerca. O problema está na presença de conselheiros militares com algo na cabeça e, mesmo, gente do “mercado” sabedores dos riscos envolvidos. Seria uma guerra mundial que forçaria um exercício de maior protagonismo que os chineses não estão dispostos. Alimentar 1,3 bilhão de habitantes já é uma grande tarefa aos herdeiros de Mao Tse-Tung. Eles sabem que o alvo a ser atingido são eles. E a noção de tempo histórico dos chineses o impedem de ir além do que Xi Jinping tem ido.
Os chineses se movimentam. Xi Jinping, em sete dias, esteve na Rússia e na Coreia Popular, este último (Coreia Popular) atuando em sintonia perfeita com o governo nacionalista instalado ao sul da península coreana. Kim Jong Un é um hábil jogador de xadrez: ao mesmo tempo que trouxe Trump para seu campo de discussão, mostrou à China a real importância de ter um aliado não tutelável e independente. Voltando, nos dois países a parceria estratégica foi alçada ao maior patamar possível. Investimentos chineses deverão impulsionar a combalida economia norte-coreana – e a colaboração financeira com a Rússia poderá materializar o pior dos mundos aos Estados Unidos: a União Eurasiática.
Em meio a isso, o Brasil segue enredado em uma guerra híbrida iniciada em 2013 com trágicas consequências ao nosso povo. A espinha dorsal, e centro dinâmico, de nossa economia foi destruída, gerando 14 milhões de desempregados e completa perda de soberania. Nosso petróleo está sendo entregue com uma intensa velocidade e a proletarização da classe média é gasolina na fogueira do fascismo hoje representado nos dois chefetes tutelados pelo imperialismo: Jair Bolsonaro e Sérgio Moro. Um é conhecido e reconhecido miliciano com ligações profundas com o crime organizado e esquadrões da morte. O segundo, um preposto do Departamento de Estado norte-americano. Algo cujas provas estarão brevemente ao nosso alcance.
A desintegração do tecido social e da própria unidade nacional é algo muito próximo da realidade. Uma elite intelectual, dentro e fora do aparelho de Estado, está comprometida até a medula com soluções ultraliberais e fascistizantes. São Paulo e Rio de Janeiro são governados por dois psicopatas, miniaturas de Trump.
A luta pela nação brasileira nunca esteve tão difícil quanto renhida. O desafio ao campo nacional e popular é enorme. E passa pela percepção da centralidade da questão nacional. Os desafios, a mim, são evidentes: 1) apresentar um plano e um desafio à direita fascista; 2) gerar 20 milhões de empregos produtivos nos próximos dez anos; e 3) reinserir o Brasil no mapa-múndi de forma soberana e altiva. Que a direita se perca na pauta de costumes. Cabe a nós apresentar um horizonte ao povo. Formar a Frente Ampla Patriótica é o maior desafio de nosso campo político.
* Elias Jabbour, doutor em Geografia Humana (FFLCH/USP), é professor da FCE/UERJ e membro do Comitê Central do PCdoB