Sindicalistas e antigos aliados questionam postura “estreita” de Lula

Lideranças sindicais que participaram do movimento Lula Livre e líderes de partidos historicamente alinhados ao PT demonstram descontentamento com a atuação de Lula

Centrais sindicais que participaram do movimento Lula Livre e líderes de partidos historicamente alinhados ao PT têm demonstrado descontentamento com a atuação de Luiz Inácio Lula da Silva desde que o ex-presidente deixou a cadeia, em novembro. Segundo eles, Lula tem feito uma política muito “estreita”.

Um exemplo: a Força Sindical, a CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) e a UGT (União Geral dos Trabalhadores) não foram convidadas para reunião nacional da campanha Lula Livre marcada para este sábado, em São Paulo. Em 2018 essas centrais (e outras quatro) transferiram o centro da comemoração do 1º de Maio, Dia do Trabalhador, de São Paulo para Curitiba, num gesto de solidariedade a Lula. Alguns dirigentes se engajaram pessoalmente na campanha pela libertação do petista.

Agora, reclamam que Lula só recebe dirigentes da Central Única dos Trabalhadores (CUT, ligada ao PT). “Depois da saída da prisão, Lula só se encontrou com CUT. Não recebeu nenhuma outra central. A política dele está estreita. Lula só chegou à presidência quando se aplicou com empresários”, disse o secretário-geral da Força, João Carlos Gonçalves, o Juruna.

“Queremos ir lá para mostrar nossa opinião. O mundo não gira em torno do Lula. O PT e a esquerda foram derrotados e construir a possibilidade de um retorno terá que fazer um movimento mais amplo”, disse o presidente da CTB, Adilson Araújo, do PCdoB.

Nesta quinta-feira (16), o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) publicou um texto no qual critica Lula por ter dito em uma entrevista que dificilmente alguém se elege presidente por um partido comunista. O ex-presidente também exalta o tamanho do PT em comparação com outros partidos de esquerda.

“Lula considerar difícil a eleição de um comunista para presidente não surpreende, afinal, ele considerava impossível uma vitória para o governo do Maranhão. Flávio Dino foi eleito e reeleito governador sem seu apoio. Mas qual a utilidade de reforçar a retórica anticomunista?”, questiona Orlando, que citou trecho da música Demorô, de Criolo para demonstrar seu descontentamento. “Onde falta respeito / A amizade vai pro lixo / Muda essa roupa, corta esse cabelo”.

Na entrevista à TVT veiculada quarta-feira (15), Lula afirmou que o PT tem mais estrutura e que povo brasileiro rejeita a palavra “comunista”. Orlando classificou os poucos elogios a Dino como um “abraço de urso”. “Anote aí, o elogio de Lula a Flávio Dino é como um ‘abraço de urso’, daí ser adequado Flávio saber o ponto exato de proximidade – ou será esmagado”, escreveu o deputado.

Segundo o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, as centrais não foram convidadas porque a reunião do Lula Livre é restrita às entidades que participaram organicamente do movimento. “É uma reunião mais organizativa. O objetivo é discutir o fato de que Lula está solto mas não teve reconhecida sua inocência nem teve de volta seus direitos políticos”, disse ele.

Orlando Silva não foi o primeiro a questionar Lula publicamente depois que o ex-presidente foi solto. No início do ano, o presidente do PSOL, Juliano Medeiros, criticou nas redes sociais o fato de o petista ter dito em entrevistas que os EUA e a CIA estariam por trás das manifestações de junho de 2013.

O isolamento petista teve outro desdobramento nesta semana, com a notícia de que PDT e DEM selaram alianças para as eleições municipais em pelo menos três capitais no Nordeste, região que é o principal reduto eleitoral do PT no país. A articulação, comandada pelos diretórios nacionais dos partidos, possui o aval do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e de Ciro Gomes (PDT), presidenciável na eleição de 2018.

A estratégia de apoio mútuo tem como objetivo forçar um redesenho da divisão de forças políticas da região a partir das capitais e grandes cidades. A aliança não ficará restrita ao Nordeste, mas é onde houve mais avanços até o momento.

“É uma parceria que pode dar frutos. A eleição municipal será uma boa preliminar para sabermos qual será o ambiente para 2022”, afirma o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi. Ele confirma a estratégia de ganhar terreno na região onde o PT comanda os governos da Bahia, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte: “Estamos cutucando a onça”.

Da Redação, com informações da Folha e do Estadão