Brasil tem a sorte de ter o SUS, avalia diretor-geral do Sírio-Libanês

Ao longo do mês de março, o Brasil passou de um observador da crise do coronavírus a um país com mais de 4.000 casos confirmados. E, agora, tem cerca de duas semanas para agir antes que se veja o pico dos casos por aqui.

A avaliação é do cirurgião Paulo Chapchap, diretor-geral do Sírio-Libanês, um dos hospitais mais renomados do país e que, ao lado de outras instituições, pesquisa soluções médicas e políticas de saúde contra a Covid-19, em entrevista ao site da Exame.

“O Brasil tem a sorte de ter um sistema universal de saúde. Embora tenha todas as dificuldades”, diz Chapchap. “Com ele [o SUS], podemos cuidar de todos que precisam.”

Para o médico, que está na linha de frente do combate ao vírus muito antes de o primeiro caso confirmado chegar ao Brasil, o isolamento social é ainda a medida mais efetiva contra a pandemia, e sua implementação ao longo das próximas semanas será crucial.

“Se não praticarmos o isolamento social em sua intensidade máxima, vamos viver o mesmo problema que estão vivendo Espanha, Itália e Estados Unidos”, diz Chapchap, citando os países com maior número recente de pacientes infectados.

Perguntado sobre a possibilidade de um isolamento vertical, ou seja, somente parte da população se recolher, o médico não acredita que essa opção seja viável. “Não existe nenhuma chance de o chamado isolamento vertical funcionar no Brasil”, diz.

O diretor do Sírio afirma que a única chance de isolar somente parte da população é se o Brasil conseguisse testar em massa, o que não é possível. “Não temos acesso a teste em massa de alta sensibilidade em nenhum país do mundo.”

Chapchap cita países como a Alemanha, que tem baixa taxa de mortalidade, como exemplos da eficácia do isolamento social. Mesmo a Coreia do Sul, considerada modelo de plano de combate ao coronavírus e que testou um grande contingente de sua população, usou políticas de isolamento.

Apesar de alguns bons exemplos internacionais, o cirurgião afirma que nenhum sistema de saúde no mundo tem capacidade ociosa suficiente para lidar com uma pandemia dessa dimensão, mesmo em países desenvolvidos. Por isso, é importante que os países ajam para “achatar a curva”, isto é, evitar que o sistema de saúde fique sobrecarregado, mesmo no setor privado.

Neste cenário, o diretor do Sírio elogiou as medidas de isolamento tomadas até agora em estados e municípios do Brasil. Um dos principais desafios da pandemia para os brasileiros será cuidar para que a população socioeconomicamente vulnerável não se contamine, sobretudo em lugares onde há pouco espaço nas casas e poucas possibilidades de isolamento social.

Sobre as pesquisas de remédios contra a Covid-19, o cirurgião diz que substâncias não devem ser usadas sem receita médica. Substâncias como a cloroquina vêm sendo testadas no combate ao coronavírus nas últimas semanas, o que levou a uma corrida por medicamentos nas farmácias. “Há pessoas tomando remédio preventivamente. Não há absolutamente nenhum sentido. A droga é tóxica”, diz. “O pânico pode nos levar a efeitos colaterais que são muito maiores do que o risco da doença para a grande maioria da população brasileira.”

Aos empresários, Chapchap pediu apoio para conter a disseminação do vírus. “Não adianta fazer somente na sua empresa. Mostrem-se publicamente exercendo sua responsabilidade social”, diz.

O médico elogiou ainda o que chamou de comportamento exemplar da população e voltou a pedir aos brasileiros que evitem sair às ruas. “Sejam agentes do seu próprio cuidado e do cuidado das pessoas que vocês amam. Isolamento social é fundamental. A parte econômica nós vamos resolver”, diz.

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