Como o Maranhão se preparou para enfrentar o coronavírus

O médico Rodrigo Lopes, assessor da Secretaria de Saúde do Maranhão fala como o estado se preparou e está enfrentando a pandemia tendo como prioridade salvar vidas e assegurar o tratamento de todos os pacientes que precisam do sistema público de saúde.

Profissionais de saúde do Maranhão dedicam-se a combater a pandemia l Foto: Agência Maranhão de Todos Nós

No dia 16 de março, quando os casos de coronavírus ainda não chegavam a dez, o Governo do Estado do Maranhão inaugurou o primeiro centro público de testagem no Brasil, parte de um conjunto de iniciativas que foram apresentadas preventivamente para auxiliar na preparação do combate à pandemia.

A despeito de produzir grandes quantidades de riquezas e commodities para o mercado mundial desde o século XVII, há 50 anos o Maranhão é o estado mais pobre do Brasil, em parte por conta da má administração e corrupção da máquina política comandada pela família do ex-presidente José Sarney, que controlou o aparato do Estado e centenas de prefeituras dos anos 1960 até 2015. Naquele ano, as coisas mudaram quando Flávio Dino, do Partido Comunista do Brasil, assumiu o posto de governador. Dino elevou os salários dos professores da rede pública à condição de mais altos do país, R$6300,00 – o dobro do que pagam nos muito mais ricos estados do Sudeste. Ele retirou o nome de ditadores militares de escolas públicas que os homenageavam, lutou pela manutenção do orçamento público da Saúde em um cenário de austeridade e cortes impostos pelo governo golpista de Michel Temer, e foi contra a deportação de centenas de médicos cubanos que Jair Bolsonaro impôs. Dino é um dos governadores de esquerda da região Nordeste do Brasil, onde Fernando Haddad derrotou Jair Bolsonaro por 70% a 30% na eleição presidencial de 2018. Os governadores do Nordeste montaram uma parceria de combate à pandemia, para se contrapor às trapalhadas irresponsáveis do presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro, e buscaram a ajuda do governo chinês.

O médico Rodrigo Lopes é uma das pessoas na linha de frente do combate maranhense ao coronavírus. Ex-diretor do sistema de hospitais públicos do Estado, ele hoje é assessor especial do Secretário de Saúde Carlos Lula. Eu o entrevistei pelo telefone na noite do 31 de março.

Como está a situação no Maranhão nesse momento? Existe algum lugar fora da capital São Luís em que o coronavírus esteja se espalhando?

Até o dia 31 de março, confirmamos 52 casos no Maranhão, na capital e na cidade do interior de Imperatriz. Já está em vigência um protocolo para que nossos hospitais públicos possam tratar de pessoas com problemas respiratórios agudos de uma forma que nos permita continuar tratando todos os pacientes que precisam do sistema público de saúde para problemas não relacionados ao COVID-19.

O que o Governo do Estado está fazendo para combater o vírus?

Além das medidas de restrição de circulação de pessoas, como o fechamento de escolas, comércios e serviços não-essenciais, o Governo do Estado está aumentando o número de UTIs na capital e no interior, para tratar especificamente de pacientes com coronavírus. Isso significa que quando a crise chegar ao ponto máximo, teremos a capacidade de tratar os pacientes de casos severos.

De acordo com as recomendações do Ministério da Saúde, estamos testando todos os profissionais da saúde e todos os pacientes internados em nossos hospitais. Também inauguramos um Centro de Testagem de COVID-19 no dia 16 de março que desacelerou a propagação do vírus aqui porque com ele conseguimos identificar todos os casos que estão chegando de outras partes do país, como também estamos fazendo nos postos de controle sanitários que montamos em todos os aeroportos e rodovias no Maranhão.

Em uma entrevista recente, a Dra. Margareth Dalcomo da Fiocruz disse que, por conta do aumento de hospitalizações de pessoas com problemas respiratórios severos no Brazil e da insuficiência de testagem adequada, ela acredita que o número real de casos de coronavírus a nível nacional poderia ser até 10 vezes maior do que dizem as estatísticas oficiais. Você acha que a situação no Maranhão é similar? Como o Governo do Estado está trabalhando para apresentar um número mais preciso de casos?

Os apontamentos dela são relevantes e aqui no Maranhão estamos trabalhando com a mesma lógica. Na Secretaria de Saúde do Estado temos um setor específico que trabalha com Tecnologia da Informação para monitoramento avançado dos indicadores de saúde e, no caso específico dessa pandemia, está produzindo projeções em tempo real sobre os desafios que estão por vir. O CONECTASUS, como é chamado [esse setor], produz estatísticas que ajudam nosso Secretário de Saúde Carlos Lula, a tomar decisões.

Estão se espalhando muitos rumores sobre o coronavírus e, infelizmente, alguns deles são reproduzidos por líderes mundiais como Donald Trump. Um rumor que está circulando é que temperaturas acima de 28°C podem retardar ou parar a propagação do vírus. São Luís tem altas temperaturas médias anuais, entre 30°C e 32°C, e cidades do interior como Imperatriz e Codó são ainda mais quentes. Do seu ponto de vista, da linha de frente do combate ao coronavírus no Maranhão, você percebe fatores climáticos como o calor retardando a propagação do vírus?

Não existem estudos científicos até agora sustentando essa hipótese. Portanto, não a estamos usando como um fator para a tomada de decisões. Todas as 3 macrorregiões do Estado e os 18 distritos de saúde estão aplicando as mesmas políticas públicas de precaução ao coronavírus.

Tem mais algo que você gostaria de dizer?

Tivemos apoio em nosso diálogo com os três níveis do governo. Tanto a Prefeitura de São Luís quanto a Universidade Federal do Maranhão (UFMA) tem sido parceiros importantes na criação de trabalhos conjunto de formação de profissionais de saúde e criação de leitos de UTI específicos para pacientes de coronavírus. Essa estratégia tem sido fundamental para que, juntos, possamos ter mais força para encarar essa batalha.

Entrevista concedida à Brian Mier, do Brazil Wire

Tradução: Guilherme Arruda

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