Mandetta no Fantástico?

A guerra fria entre Bolsonaro e Mandetta escalou mais um degrau.

Nunca vi entrevista de ministro sobre uma crise sanitária grave começar com com fotos de sua “família feliz”. Muitas câmeras. Planos bem escolhidos. Pareceu mais inicio de campanha eleitoral, aquele famoso primeiro programa onde a biografia do candidato é apresentada. 

Mandetta não sabe que Bolsonaro e a Globo são  inimigos mortais? Pouco provável. Deu um pito público no presidente ao dizer que espera que o discurso do governo seja um só. Não citou concentrações indesejadas em padarias por acaso. Sabe das consequências.

Bolsonaro vai demitir Mandetta? Talvez não. O Capitão está fazendo conta. O ministro será demitido. Quando é a questão. Deixá-lo sangrar durante a crise e demiti-lo depois como incompetente ou radicalizar e trocar o comando desde já? Manter uma porta aberta e um ministro trabalhando para reduzir a tragédia humanitária pode interessar ao presidente.

 A estratégia de Bolsonaro já está definida. Vão morrer quantos? 100 mil? 50 mil? 20 mil? Quantos ficarão desempregados? Ele está entregando uma ajuda emergencial a cerca de 60 milhões de pessoas. Em qualquer hipótese vai minimizar as perdas, dizer que na guerra sempre morrem pessoas, e que a histeria afundou a economia nacional. Seu foco são os que permanecerão vivos, e votando. 

 Este jogo interessa a Mandetta? Não, para o ministro é muito melhor ser demitido agora do que depois. Sai como injustiçado, com a popularidade no teto, com poucos cadáveres no colo e colocando a culpa da tragédia em Bolsonaro. Será absorvido por um governo onde continuará a ter visibilidade e a chance de provar que estava certo. Num universo menor, a possibilidade das coisas funcionarem é maior. Não deu a entrevista na sede do governo de Goiás por acaso.

Se o jogo de Bolsonaro vai dar certo é outro papo. O mundo inteiro caminha em outra direção. O povo vai ficar mais sensível às mortes ou ao desemprego? É uma aposta macabra, só o futuro dirá se vai funcionar politicamente.

A guerra fria entre Bolsonaro e Mandetta escalou mais um degrau. Ao presidente pode interessar manter a ambiguidade. Mas o projeto político dos dois é cada vez mais contraditório.

3 comentários para "Mandetta no Fantástico?"

  1. Candido Luiz Santos Malta disse:

    Toda concessão para banco no Brasil à partir de agora deveria ter uma cláusula que disponibilizasse todo o lucro da entidade para que o governo
    pudesse repassassar às empresas empréstimos a juros zero em caso de pandemias como essa que está ocorrendo atualmente no Brasil e no mundo.

  2. Darcy Brasil disse:

    Há alguns dias atrás, em um comentário por aqui (não tenho conta em redes sociais, restando dois ou três espaços,como esse, que utilizo, de vez em quando, para manifestar minhas opiniões) afirmei que os intelectuais orgânicos da plutocracia financeira que arquitetaram o processo que resultou no golpe contra a democracia em 2016 estavam empenhados em substituir a “gambiarra miliciana-neopentecostal” – que tiveram que utilizar por não contar em 2018 com um quadro de sua confiança, como fora um dia FHC, em condições de derrotar um candidato da esquerda – pelo general Mourão. A permanência de Bolsonaro no Palácio do Planalto não convém ao projeto de poder da plutocracia financeira, que pressupõe uma democracia de fechada, de baixissima intensidade, com eleições regulares que, como sempre ocorreu desde a inauguração da chamada Nova República, levam inevitavelmente à hegemonia por parte de representantes das oligarquias da maioria esmagadora dos poderes, sejam os que se disputam pelo voto, sejam os que se ocupam por indicação ou concurso público. Naquela ocasião, sugeri que, momentaneamente, Mandetta despontava como um nome inesperado, mas interessante ao projeto de poder da plutocracia financeira, que sempre teve as organizações Globo como o seu porta-voz não-oficial de absoluta confiança (esse é outro ponto que me faz discordar daqueles que acreditam na bancarrota da Globo: a sua ligação orgânica com a plutocracia financeira e com o imperialismo estadunidense. É muito mais conveniente ao capital financeiro, ao imperialismo, salvar a Globo da crise do que deixá-la falir como empresa e substituí-la por outros grupos midiáticos sem a confiabilidade construída pelas organizações Globo desde, pelo menos, 1965). Por outro lado, Bolsonaro se apresenta sem interesses eleitorais em 2022, como acreditam as análises de Flavio Dino, Ciro Gomes, Lula e, aqui, a do Capelli. Bolsonaro não tem a mínima possibilidade de vencer as eleições de 2022. A base política que se constituiu para lhe assegurar os votos em 2018 derreteu, desfez-se irreversivelmente. Não contará jamais com os votos que lhe foram dados pelos que atualmente atuam como paneleiros nas janelas dos prédios de classe média, grupo social que, na luta institucional, sempre representará o fiel da balança. Sem estes votos, o quase inevitável 2° turno tenderia para aquele que viesse a disputar com ele, Bolsonaro, supondo que os milicianos e pastores vigaristas evangélicos conseguiriam cambalar votos suficientes no 1° turno das eleições em 2022 para levar o fascista novamente à segunda volta. Se Bolsonaro, se o Estado Maior bolsonarista, não alimentam a ilusão de vencer as eleições em 2022, o seu projeto de poder não as pressupõem. Desse modo, o único meio de manter Bolsonaro e os bolsonaristas no comando do Brasil é o golpe de estado.

    PS: Deixo no ar uma pergunta:e nós, do campo democrático e popular, que podemos fazer para frustrar os dois projetos que envolvem a disputa de Bolsonaro com Mandetta? Pelo andar da nossa carruagem, ou levamos um golpe de estado, ou, se houver eleições em 2022, e em 2022 estivéssemos hoje, alguém como Mandetta teria grandes chances de vencer,chances melhores até que as que teve Bolsonaro em 2018.

  3. Olá aqui é a Roberta Vasconcellos, eu gostei muito do seu artigo seu conteúdo vem me ajudando bastante, muito obrigada.

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