Papel do jornalismo em tempos de pandemia e desinformação é debatido

A pandemia propiciou o retorno triunfal do jornalismo, depois de um longo inverno de descredibilidade e previsões apocalípticas. Com a consolidação de um campo democrático de comunicação, debate procurou compreender os rumos da imprensa profissional.

Renata Mielli, Sérgio Denicoli, Leonardo Attuchi e Renato Rovai

Nesta quinta-feira (28), o Observatório da Democracia promoveu mais um debate do ciclo Diálogos, Vida e Democracia, sob o tema Jornalismo, Comunicação e Política nas Redes Sociais. O Observatório da Democracia reúne as fundações Maurício Grabois, Perseu Abramo, Leonel Brizola-Alberto Paschoalini, João Mangabeira, Lauro Campos e Marielle Franco, Claudio Campos, Ordem Social e Astrojildo Pereira.

A jornalista Renata Mielli, coordenadora geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, estabeleceu os parâmetros do debate, feito com convidados como Sergio Denicoli, diretor da AP Exata – Inteligência em Comunicação Digital, Leonardo Attuch, jornalista e diretor do portal Brasil 247 e Renato Rovai, jornalista e diretor de redação da Revista Forum.

Renata observou a importância da valorização do jornalismo neste momento. Ela pontuou que a internet representou, de fato, uma ampliação da diversidade de vozes no espaço público de debates, que antes era monopolizado pela mídia hegemônica. “Vozes silenciadas historicamente puderam ter seu espaço de expressão a partir da internet, numa primeira fase”.

Logo depois, lembra ela que surgiram as redes sociais, permitindo conexão entre as pessoas, grupos sociais, impulsionando essa conexões, criando nós e grupos por afinidade. “Alguns setores consideraram isso um ápice da liberdade de expressão. Diziam que nem precisava mais discutir esse negócio de democratização de comunicação. Já era”.

Todos poderiam falar sem intermediários, quando surgiu a dúvida se as redes sociais não cumpririam, na verdade, um papel de intermediárias, com os perigos advindos disso.

Por outro lado, a internet e as redes tiveram um impacto para que se pudesse ter espaço de contranarrativa e evoluir. Foi o surgimento dos chamados jornalismo alternativo, contra-hegemônico, comunitário, popular, colaborativo, fora das empresas e corporações consolidadas no país.

Outro tema tratado por sugestão de Renato foi que a mídia hegemônica sempre prezou por uma suposta neutralidade política ideológica que nunca existiu. Mas a audiência se acostumou com esse discurso de neutralidade e estranhou quando a imprensa de esquerda surgiu sem fingir que era neutra, mas assumindo o discurso político. Renata se questiona se não haveria, eventualmente, uma perseguição nas redes sociais a veículos que adotam uma posição política clara na sociedade.

Embora possa existir jornalismo correto na ultradireita, as redes bolsonaristas se descolaram da ideia de produzir conteúdo sério, pra espalhar mentiras, com base em discurso de ódio e voltado a atacar segmentos sociais para causar danos. O encontro indagou os debatedores sobre a possibilidade de existir alguma avaliação do mecanismo das redes sociais de monetização e alcances automatizados, com recursos vultosos por trás. “Essas plataformas poderiam estar beneficiando esse conteúdo bolsonarista em detrimento de outros?”

Outra polêmica que sempre aparece no debate desse tema é se o campo progressista não soube realmente usar as redes sociais nas eleições ou seria uma ilusão, dado que há muito dinheiro em jogo do outro lado.

Com o surgimento da pandemia, que piora uma situação já conturbada, a desinformação num contexto tão sensível de saúde pública acaba provocando as pessoas a se informar em fontes mais sérias e confiáveis. “Qual a possibilidade da imprensa independente aumentar sua relevância nesse contexto?”, questionou Renata.

O debate encerrou-se propositivo na medida em que, conforme as redes sociais se tornaram intermediários da informação, ganharam um poder que não tem qualquer regulação. Renata observa que parece crescer o clamou por regulação, mas o modelo que surge é o que dá mais poder ainda às plataformas, quando passam a rotular o que é informação é o que é desinformação. O outro modelo seria o da governança de algoritmos, em que se busca um controle mais transparente do usuário sobre os algoritmos.

Ela diz que é inegável que algum tipo de “controle social” vai ter que haver sobre estes espaços privados. A pergunta é: “Que tipo de regulação é possível fazer para reduzir os vieses, sem implicar na redução da liberdade de expressão?”

O próximo debate ocorre na segunda-feira, 1o.  de junho, às 14h30, sob o tema: Democracia, Sociedade Civil e Estado Democrático de Direito. Os convidados são Luiza Ferreira, diretora presidente da Secretaria de Desenvolvimento Social e Segurança Alimentar de Contagem (MG); Gilson Dipp, ex-ministro do STJ e do TSE; Fernando Haddad, ex-ministro da Educação, ex-prefeito de São Paulo; Paulo Jeronimo Pajé, presidente da ABIA e a advogada Carol Proner, professora da UFRJ e membro da ABJD.

O debate poderá ser assistindo no canal do Observatório da Democracia no Youtube.

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