De Olho no Mundo, por Ana Prestes

A derrota do presidente Macron no segundo turno das eleições municipais da França, com destaque para a reeleição da prefeita da Paris, é um dos temas analisados pela cientista política Ana Prestes nesta segunda-feira (29). A pandemia de Covid-19, que supera 500 mil óbitos no planeta, o avanço do governo de Israel contra a Palestina, a vacina contra o coronavírus e a luta LGBT estão entre os outros assuntos da análise de hoje.

Anne Hidalgo, prefeita de Paris, foi reeleita neste domingo

A França realizou ontem (28) o segundo turno das eleições municipais. O primeiro turno aconteceu em 15 de março, véspera da quarentena pela pandemia do novo coronavírus. Ambos os turnos tiveram queda de participação da população, principalmente porque o voto não é obrigatório e a pandemia gerou muitos debates sobre a conveniência ou não de se realizar as eleições com altas taxas neste momento delicado da saúde pública mundial. A França perdeu mais de 30 mil pessoas para a Covid-19. No primeiro turno faltaram às urnas 55% dos votantes e no segundo turno 60%. Lideranças como o próprio presidente Macron, o líder da esquerda Jean-Luc Mélenchon e a líder da ultra direita Marine Le Pen, todos se disseram muito preocupados com a altíssima abstenção. A votação não foi eletrônica, mas com o tradicional papel na urna, o que gerou um rígido protocolo para a acolhida dos votos. A eleição foi marcada por uma “onda verde” e uma derrota de Macron. Os Verdes venceram em Lyon, Bordeaux, Marselha e outras cidades de grande e médio porte. Seu partido é o EELV – Europa Ecologia Os Verdes. Em Paris foi reeleita a socialista Anne Hidalgo com mais de 50% dos votos. Sua adversária foi a ex-ministra da Justiça, Rachida Dati, candidata pelo partido conservador e ficou com 32% dos votos. A ultradireita alcançou a prefeitura de Perpignan, com mais de 100 mil habitantes, na fronteira com a Espanha. Há previsão de que Macron se pronuncie hoje (29) à nação, não tanto sobre as eleições, mas de forma indireta, pois vai falar sobre a Convenção Cidadã sobre o Clima que seu governo promoveu com 150 cidadãos eleitos por sorteio, para tratar de mudanças climáticas. O tema ambiental anda literalmente quente por lá (AFP, RFI).

Segundo a OMS, somente ontem (28) cerca de 190 mil pessoas entraram para a estatística de infectados pelo novo coronavírus, um número recorde. Na liderança dos casos novos e também do número de mortes está o Brasil. Esta semana completa-se meio ano de surto mundial pelo coronavírus com 10 milhões de casos registrados e mais de 500 mil mortes. E ainda não há sinais de arrefecimento da crise. Segundo a OMS, o mundo precisou de dois meses para chegar aos primeiros 100 mil casos e hoje bate esse número em doze horas. Segundo a coluna do jornalista Jamil Chade, que cobre as reuniões da ONU em Genebra, com 200 milhões de habitantes e sem controle sobre a pandemia, o Brasil se transformou em uma ameaça global para a luta contra a Covid junto com os EUA, mesmo que isso só seja tratado a portas fechadas. A exclusão do Brasil da lista de países cujos cidadãos serão autorizados a voar para a Europa a partir de 1º. de julho é apenas um dos sinais desta percepção.

E o Brasil segue passando vergonha internacional. Pelo menos duas universidades no exterior, a Universidade de Rosário, da Argentina, e a Universidade de Wuppertal, na Alemanha, já precisaram se pronunciar para desmentir títulos de pós-graduação que o novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, se atribui sem a chancela das respectivas instituições de ensino e pesquisa.

Israel avança com os EUA em seu plano de anexação de territórios da Palestina. A decisão é de anexar o Vale do Rio Jordão, uma ampla faixa de terra fértil contígua com cerca 100 mil colônias judaicas da Cisjordânia, além do deslocamento de palestinos para uma área nos arredores de Jerusalém, “liberando” Jerusalém Oriental. Em uma estratégia baixa, Netanyahu vem chamando as colônias da Cisjordânia de Judeia-Samaria em uma alusão ao nome bíblico do território. A Cisjordânia possui 2,8 milhões de residentes palestinos e 450 mil israelenses colonos em assentamentos ilegais. O Conselho de Segurança da ONU, com exceção do voto dos EUA, considerou o projeto como uma tentativa de “acabar com os esforços internacionais a favor da criação de um Estado palestino viável”. Segundo pesquisas de opinião divulgadas pela imprensa internacional, menos de 50% dos israelenses apoiam o plano. Netanyahu e Trump estão com pressa, o primeiro enrolado com justiça e o segundo sem garantia de reeleição.

Na corrida científica por uma vacina contra o novo coronavírus despontam duas fabricantes. A Biotec da China e a AstraZeneca do Reino Unido junto com a Universidade de Oxford. Segundo um anúncio feito ontem (28) pela China, as doses experimentais da vacina induziram a criação de anticorpos de “alto nível” em todos os participantes inoculados durante as Fases 1 e 2 dos ensaios clínicos com mais de mil voluntários. Enquanto isso, a vacina da AstraZeneca/Oxford já iniciou Fase 3 dos testes com a participação do Brasil. O fato do Brasil ser hoje o país número 1 em novos infectados com o coronavírus o transformou em terreno propício para os testes. Já existe um acordo para a produção de 30 milhões de doses da vacina da Oxford por aqui até o final de 2020. Segundo o CEO da AstraZeneca, a vacina daria cobertura contra a Covid-19 por um ano.

Ontem, 28 de junho, foi mundialmente celebrado o Dia do Orgulho LGBTIQA+ (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, intersex, queer, assexuados). A data é uma referência a um episódio ocorrido em Nova Iorque em 1969 no bar Stonewall Inn quando houve a organização de uma resistência às frequentes batidas policiais de cunho homofóbico feitas no lugar. No ano seguinte, 1970, em 1º. de julho, foi organizada a primeira Parada do Orgulho LGBT para lembrar o episódio. Desde então, várias paradas são realizadas em todo o mundo para marcar a luta da comunidade LGBT contra a discriminação e a violência sistematicamente praticada seja pelo Estado ou por setores da sociedade. No Brasil, dados de 2019 mostram que a cada 16 horas uma pessoa é vítima de homofobia. Ontem, pela primeira vez na história, o Congresso Nacional em Brasília foi iluminado com as cores do arco-íris símbolo da diversidade e da luta contra o preconceito do dia do Orgulho LGBTQIA+.

O Facebook e outras redes sociais estão perdendo muito dinheiro com um boicote global puxado por movimentos antirracistas e anti discriminação de modo geral. A campanha se chama Stop Hate for Profit e anunciantes de peso estão deixando de patrocinar as redes enquanto não houver ações contra racismo, discursos de ódio e fake news nas plataformas. O estopim da campanha foi com a recusa por parte do Facebook de criar alertas específicos para fake news e ameaças à democracia publicadas pelo presidente Trump. O custo maior para a rede, além do financeiro, pode ser de imagem.

A carta de fundação da ONU em São Francisco fez aniversário de 75 anos no último dia 26 de junho. Uma das participantes, a brasileira Bertha Lutz, foi uma das responsáveis para que a carta se referisse com especificidade sobre os direitos das mulheres. Na celebração, tímida por conta da pandemia, o atual secretário geral, António Guterres, se referiu ao momento pós-segunda guerra em que nasceu a carta para fazer uma comparação com o atual momento da humanidade, em meio a uma pandemia, e a oportunidade de repactuar o multilateralismo em novas bases.

Um filme distribuído pela Netflix e sob a direção do francês Olivier Assayas, chamado Wasp Network – Rede de Espiões, e que conta a história de dois dos Cinco Heróis Cubanos sequestrados e presos por 16 anos nos EUA, vem causando incômodo aos EUA. O filme conta com a participação de duas estrelas do cinema, Penélope Cruz e Gael Garcia Bernal na representação da história dos agentes de segurança de Estado de Cuba que se infiltraram em organizações terroristas dos EUA que planejavam atentados contra a ilha. Segundo um dos cinco cubanos, o filme não gera mais temor do que a verdade histórica em si.

Veja o trailer do filme:

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