Atlas da Violência 2020 revela que a perversidade permanece no Brasil

Sindicalistas avaliam o documento elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Ativistas da Anistia Internacional encenam a morte de jovens, pretos e pobres na periferia das grandes cidades. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil.

De acordo com o Atlas da Violência 2020, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ocorreram 57.956 homicídios no Brasil em 2018, o menor índice desde 2015. Mas o que era para ser otimismo, estampa o racismo, a cultura do estupro e e o ódio à juventude, essencialmente pobres e moradores da periferia.

Além disso, os especialistas apontam o crescimento de 25,6% de homicídios sem causa definida como o fator desse recrudescimento de homicídios. Foram 12.310 mortes sem que a justiça consiga definir a causa em 2018, ficando atrás somente das mortes sem causa definida registradas em 2009, com 13.253 mortes.

Mais de 70% dos crimes ocorreram por armas de fogo, isso antes de Jair Bolsonaro assumir a Presidência com a sua defesa enfática da utilização de armas por qualquer indivíduo como política de segurança pública.

Veja o Atlas da Violência 2020 completo.

“Os números são graves e ainda antes do desgoverno Bolsonaro assumir, o que pode ter piorado e muito a situação, além do sucessivo crescimento de violência doméstica durante a pandemia”, alega Vânia Marques Pinto, secretária de Políticas Sociais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

A sindicalista justifica sua preocupação com o discurso beligerante do atual presidente e com o avanço da crise econômica. “A quarentena provocada pela pandemia do coronavírus desnudou a face cruel da sociedade contra as mulheres, os jovens, a população negra, principalmente entre os mais pobres”, diz.

As preocupações dela têm sentido porque entre os homicídios de 2018, 53,3% da vítimas foram pessoas entre 15 e 29 anos, 75,7% das vítimas eram negras. Além desse número exorbitante houve crescimento de 11,5% de homicídios de pessoas negras ao mesmo tempo em que ocorreu diminuição de 12,9% desses crimes entre os não negros.

“Os números destacam mais uma vez a necessidade urgente de políticas afirmativas para dar visibilidade e oportunidades à população negra”, acentua Mônica Custódio, secretária de Igualdade Racial da CTB. “Se não forem adotadas essas medidas para conter esse verdadeiro genocídio de negros, principalmente entres os jovens, o Brasil continuará perdendo vidas de pessoas que poderiam estar ajudando o país a sair da crise”, reforça.

Apesar do alto número de jovens assassinados, o estudo mostra que sem o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a situação seria muito pior. Antes do ECA o crescimento anual de assassinatos de jovens era de 7,8% e depois da legislação ser adotada em 1990, o índice passou a ser de 3,1%, menos da metade.

Para Luiza Bezerra, secretária da Juventude Trabalhadora da CTB, os números evidenciam a importância de leis de proteção às populações mais vulneráveis. “O problema está em que o atual desgoverno insufla o ódio, defende mais repressão, o trabalho infantil e corta investimentos em educação, cultura, esportes, o que só pode piorar as coisas”.

Foto: Felipe Carneiro/Sul 21

Para ela, o movimento sindical, os movimentos sociais e os partidos políticos democráticos devem “precisamos de mais cultura, mais educação, mais saúde, mais esporte, mais lazer, mais livros e menos armas”, defende. “É importante somar esforços para garantir políticas públicas que promovam a paz e o avanço civilizacional para o Brasil superar de uma vez suas mazelas”.

Outra questão fundamental se refere ao crescimento de assassinatos de mulheres. Em 2018, uma mulher foi assassinada a cada duas horas no país, num total de 4.519 vítimas, 68% delas mulheres negras.

Além disso, 30,4% dos assassinatos foram classificados como feminicídios (assassinatos de mulheres pelo fato de serem mulheres) e a maioria ocorreu dentro de casa. “Imagine a situação das mulheres em quarentena nesta pandemia?”, questiona Celina Arêas, secretária da Mulher Trabalhadora da CTB.

Em relação a 2017, houve crescimento de 6,6% no número de feminicídios aponta o estudo. Além do crescimento nos feminicídios – a cada 6h23 uma mulher foi morta dentro de casa, em 2018 –, ocorreram 1.685 denúncias de violência contra a população LGBT. Lembrando que o Brasil é país mais violento contra os LGBTs.

Para Vânia, é preciso romper coma lógica do se dar bem a qualquer custo. “Sem solidariedade e entendimento de que todas as pessoas que vivem do trabalho estão no mesmo barco, não há saída para a superação desse sistema injusto e desumano no qual vivemos”.

Segundo Celina, “o Brasil precisa acordar para o Brasil”. Para a sindicalista, “vivemos uma verdadeira guerra civil, onde a população mais pobre, os negros, os indígenas, os jovens, as mulheres levam sempre a pior” porque “o Estado protege o patrimônio em vez da vida e da dignidade humana”.

Fonte: Portal CTB

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