Hospital das Clínicas investiga casos de reinfecção por coronavírus

Max Igor Banks afirma que estudos sobre reinfecção por coronavírus podem impactar positivamente na dinâmica das vacinas, mesmo sem a OMS reconhecer oficialmente esses casos

Testagem para Covid-19 em Salvador. Foto: Josenildo Almeida

O professor Max Igor Banks, do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM) da USP, falou hoje sobre os casos de reinfecção pelo novo coronavírus, especificamente aqueles acompanhados por especialistas do HC. A unidade tem um ambulatório exclusivo para investigação desses casos, pelo qual Banks é responsável. 

“Como é comum no campo médico”, explica Banks, “a necessidade parte dos pacientes: pessoas com suspeita de reinfecção surgiram, uma situação inédita e inusitada, e a partir disso entendemos que era necessária a criação de um espaço para a análise desses casos”. Desde meados do mês de agosto, uma unidade com espaço de tempo e equipe está dedicada à avaliação desses casos. Os 16 pacientes que vêm sendo acompanhados são pessoas que tiveram sintomas de Covid-19 em meses anteriores, testaram positivo, “o RT-PCR positivo”, como explica Banks, “ficaram bem e, depois de um tempo, voltaram a ficar doentes, com outro teste positivo para Covid-19”. 

Ele diz que, do ponto de vista médico, determinar se há ou não uma reinfecção é complicado, já que, para se comprovar, é preciso que o vírus da primeira vez tenha diferenças substanciais em relação ao da segunda infecção. “Trata-se do mesmo vírus, mas não tem identidade genética exatamente igual. Como o coronavírus acumula mutações lentamente, presume-se que, quando encontramos um vírus diferente do primeiro contágio, foram momentos diferentes de infecção – o que confirmaria a reinfecção”, detalha o especialista. A dificuldade, segundo Banks, é justamente ter amostras dos dois contágios, a fim de compará-las por um teste de sequenciamento.

Por isso, é possível que alguns casos de reinfecção não sejam comprovados, em razão da falta de amostras antigas para recuperação. “Mas não basta só discutir se é reinfecção ou não. Se alguém fica doente por Covid-19 uma segunda vez, é preciso avaliar. Pode ser um caso de reativação, ou seja, o vírus ficou no corpo e, por alguma razão, começou a multiplicar”, explica Banks. Para ele, a possibilidade de se ter uma nova doença por Covid-19 é importante do ponto de vista médico, para estudo e classificação desses casos. 

A maioria dos pacientes do laboratório de reinfecção é relativamente jovem, predominando os profissionais da saúde. Segundo o médico, isso tem uma razão: são pessoas mais expostas ao vírus, que, provavelmente, se infectaram de forma mais precoce e continuaram tendo o risco. Por isso, é fundamental que a proteção continue, já que a reinfecção pode depender tão somente de uma nova exposição ao vírus. 

Apesar de não haver uma posição oficial da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a possibilidade de reinfecção, os estudos caminham para a conclusão de que esses casos estão ocorrendo. Esses estudos, segundo Banks, podem ter inclusive impactos na dinâmica das vacinas que estão sendo preparadas e testadas, em relação à quantidade e ao comportamento de anticorpos nas situações de reinfecção. 

Edição de entrevista à Rádio USP

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