PCdoB quer convocar Ernesto Araújo para explicar visita de Mike Pompeo

Legenda vê com preocupação visita do secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, à região da tríplice fronteira e cobra explicações do ministro de Relações Exteriores

Mike Pompeo durante entrevista coletiva no Palácio do Itamaraty (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O PCdoB protocolou nesta segunda-feira (21) um requerimento de convocação do ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, para que ele explique o encontro com o secretário de Estados dos Estados Unidos, Mike Pompeo, na última semana, e os eventuais compromissos assumidos em nome do país.

Na sexta (18), Pompeo visitou as instalações da Operação Acolhida, em Roraima, na fronteira com a Venezuela, e que recebe venezuelanos que migraram para o Brasil.

A legenda vê com preocupação a visita e afirma que houve demonstração de submissão do governo Bolsonaro aos EUA e um desrespeito à soberania brasileira com aval do chanceler Ernesto Araújo.

“Estamos convocando Ernesto Araújo na Câmara dos Deputados para que explique ações contra os interesses nacionais, que botam o Brasil em posição de submissão aos EUA, ao permitir o uso do nosso território para agredir nações vizinhas, como a Venezuela, e afrontar parceiros comerciais importantes, como a China. O comportamento do ministro é contrário à nossa autodeterminação e soberania e não podemos aceitar isso”, destacou a líder da bancada do PCdoB, deputada Perpétua Almeida (AC).

Para ela, o Brasil precisa não pode aceitar que os interesses de superpotências se sobreponham aos interesses nacionais. “Não podemos aceitar que interesses de superpotências tragam seus conflitos para nossa vizinhança, como parece fazer o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo. Fico preocupada com o casuísmo da visita, que pode ser entendida como uma ameaça à soberania nacional na Amazônia ou um ato hostil à Venezuela, e isso, certamente, não contribui para a resolução dos conflitos com o país vizinho. Somos um país pacífico. Zelamos pela manutenção de uma boa relação com nossos vizinhos, respeitando à autodeterminação de seus povos e cooperação para o progresso de todos. Não aceitamos ingerência externa que coloque em risco os preceitos da integração pacífica em nossa região”, completou a parlamentar.

Em discurso na Câmara, a líder do PCdoB pediu apoio à convocação aos líderes dos demais partidos e elogiou a manifestação do presidente da Casa, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ).

“Rodrigo Maia foi veemente ao se manifestar por meio de nota sobre a visita. Foi o único chefe de Poder que o fez, defendendo nossa soberania”, destacou. Em sua nota, Maia afirmou que a visita de Pompeo, faltando 46 dias para a eleição presidencial norte-americana, “não condiz com a boa prática diplomática internacional e afronta as tradições de autonomia e altivez de nossas políticas externa e de defesa”.

O presidente da Câmara disse ainda que o Brasil “deve preservar a estabilidade de fronteiras e o convívio pacífico com os países vizinhos” e citou a Constituição para reafirmar que o país precisa seguir os princípios de independência nacional, autodeterminação dos povos, não intervenção e defesa da paz nas suas relações com outros países. Os princípios citados pelo Presidente Rodrigo Maia encontram-se expressos no art. 4º da Constituição da República.

Durante a visita, ao lado de Ernesto Araújo, Pompeo criticou, por exemplo, o regime de Nicolás Maduro. “Nossa missão é garantir que a Venezuela tenha uma democracia”, disse o secretário de Estado norte-americano.

Na madrugada deste domingo (20), Bolsonaro saiu em defesa da visita de Pompeo a Roraima. Nas suas redes sociais escreveu que a visita representa o quanto Brasil e EUA “estão alinhados na busca do bem comum”.

“Parabenizo o presidente Donald Trump pela determinação de seguir trabalhando, junto com o Brasil e outros países, para restaurar a democracia na Venezuela”, escreveu Bolsonaro.

Para o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), para “afagar Trump, Bolsonaro coloca o Brasil como ponte para ameaças à Venezuela e vincula o país a um projeto eleitoral com risco de ser derrotado em meses”. “Como ficarão as relações se Biden ganhar? O Itamaraty trata de questões de Estado, não é brinquedo para moleques. A subserviência de Bolsonaro a Trump chega a dar náusea. É puramente ideológica e em nada contribui para o Brasil. Aliás, prejudica, porque a contrapartida tem sido ruim para nossas exportações. A visita de Mike Pompeo é um novo capítulo da humilhação nacional”, afirmou.

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