Indícios de fraude e rixa com Moro marcam escolha de Bolsonaro ao STF

Acusado de plágio e outras inconsistências, Kassio Marques não será poupado em sua sabatina no Senado, agendada para o dia 21

O primeiro nome indicado pelo presidente Jair Bolsonaro a uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal) “queimou a largada”. Os indícios de fraude no currículo do desembargador Kassio Marques geraram constrangimento nos meios jurídico e político, conforme reportagem desta quinta-feira (8) do jornal Valor Econômico.

Acusado de plágio e outras inconsistências, Kassio não será poupado em sua sabatina no Senado, agendada para o dia 21, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). A oposição adiantou que vai questioná-lo.

“O fato de o desembargador ter plagiado trechos de sua dissertação de mestrado e turbinado seu currículo com pós-doutorados relâmpagos é profundamente constrangedor”, diz o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE). “Mas o que choca o cidadão brasileiro é ver o indicado plagiando a conduta típica dos habitantes do submundo da política de Brasília, materializada nas figuras notórias do Centrão.”

A revista Crusoé identificou possíveis plágios na dissertação de mestrado do desembargador. Pelo menos três trechos são idênticos a artigos escritos por outro autor, Saul Tourinho Leal, sobre o mesmo tema – o direito à saúde.

Além disso, segundo o jornal O Globo, Kassio teria turbinado o currículo em relação aos títulos de pós-doutor em Direito Constitucional pela Universidade de Messina, na Itália, e pós-doutor pela Universidad de La Coruña, na Espanha. As universidades informaram que o curso italiano foi uma especialização, equivalente a um ciclo de seminários, e o espanhol foi apenas um curso de extensão.

O episódio constrangeu os futuros colegas de Kassio no STF. Ministros não quiseram fazer comentários abertamente, embora um deles tenha se declarado “impressionado” com as denúncias. O presidente da Corte, Luiz Fux – que foi “escanteado” do processo de escolha do próximo membro do STF – afirmou a interlocutores que a indicação de Kassio não corre risco, mas o suposto plágio pode dificultar sua sabatina no Senado.

Já o Blog da Andréia Sadi afirma que a marca da tumultuada indicação de Bolsonaro é a tentativa de neutralizar o potencial eleitoral do ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, homem-símbolo da operação Lava-Jato. Bolsonaro chegou a rebater críticas de defensores da operação à escolha do desembargador e declarou não querer “acabar” com a força-tarefa. Mas se contradisse com mais uma fake news: “Eu acabei com a Lava-Jato porque não tem mais corrupção no governo”.

Segundo Andréia Sadi, o presidente quer “apagar a imagem” do ex-juiz “para a eleição de 2022”. Tudo porque, mesmo depois de se demitir do Ministério da Justiça, “Moro não convenceu o governo de que está fora da sucessão presidencial. Por isso, o ex-juiz e seu legado continuam na mira do Planalto”.

Para garantir a reeleição do presidente de extrema-direita, os governistas apostam em uma nova disputa polarizada entre PT e Bolsonaro. “Moro, se candidato, atrapalha os planos, pois racha a base bolsonarista”. Mas a frase anti-Lava-Jato é ambígua: “Apesar da estratégia de Bolsonaro, analistas acreditam que a fala pode ter efeito colateral reverso. Ao invés de ‘apagar’ o ex-juiz, acabe oferecendo uma bandeira para Moro”.

Com informações do Valor Econômico e do G1

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