Governo golpista da Bolívia impede voto de Evo Morales

O ex-presidente da Bolívia foi impedido de votar na Argentina, onde vive exilado, por ordem do governo golpista boliviano, que o inabilitou como eleitor, informou a assessoria de imprensa de Morales em comunicado.

Evo Morales - AFP

De acordo com o jornal boliviano La Época, citado pela Sputnik Brasil, o comunicado assinala que Morales “não poderá exercer seu direito ao voto devido à inabilitação, por motivos políticos, que o impediu de se registrar em Buenos Aires”. A nota acrescenta que o ex-mandatário disse em uma mensagem que “o povo boliviano viverá um dia histórico, pois irá às urnas pela esperança de um futuro melhor, com alegria e paz”.

Segundo os observadores internacionais e as autoridades bolivianas, as eleições no país andino transcorrem de forma pacífica, com longas filas nos centros de votação, devido às medidas de precaução contra a Covid-19, e incidentes “normais” em todo o processo democrático.

“Estamos vendo um bom processo eleitoral, pacífico e que se desenvolve com os incidentes normais de um processo eleitoral, aprendendo o que é organizar eleições na pandemia”, disse o chefe dos observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA), Francisco Guerrero, aos jornalistas.

O presidente do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), Salvador Romero, também fez um balanço positivo da votação, especialmente pela disciplina demonstrada pelos cidadãos, que esperavam pacientemente para votar, cumprindo com as normas sanitárias e de distanciamento social. “Com a exceção dessas filas, o que era previsível devido à necessidade de responder aos desafios do coronavírus, a votação transcorre em paz, com tranquilidade e calma, e isso é algo que devemos destacar”, declarou Romero em uma coletiva de imprensa.

Contagem rápida

O Supremo Tribunal Eleitoral (TSE) da Bolívia decidiu não utilizar o novo sistema informatizado de contagem rápida de votos algumas horas antes do início das eleições presidenciais, informou o presidente do TSE, Salvador Romero, segundo o jornal Página Siete, também citado pela Sputnik Brasil.

O Direpre (novo sistema de Divulgação de Resultados Preliminares), anteriormente apresentado pelo TSE, foi criticado pelo candidato presidencial Luis Arce, do Movimento ao Socialismo (MAS), entre outros. As críticas se devem ao atraso na publicação das fotografias dos boletins de urna. De acordo com as novas regras, as fotos só poderiam ser publicadas após verificação nos centros de processamento de dados.

“Nas últimas semanas, o TSE realizou testes e simulações do Direpre e gostaríamos de informar ao país que os resultados dos testes não nos permitem ter segurança em uma difusão completa dos dados que ofereçam certeza ao país. É por isso que, com seriedade técnica e motivado pela responsabilidade, o TSE decidiu retirar o Direpre do dia da votação”, explicou Romero à mídia.

O presidente do TSE garantiu, no entanto, que a contagem dos votos será realizada de acordo com a lei, de forma segura e transparente, e que todos poderão observar o processo de contagem dos votos. “Qualquer cidadão poderá fotografar os boletins de urna, as organizações políticas que possuem delegados têm direito a uma cópia do boletim, e a contagem e escrutínio serão realizados em público”, disse Romero.

De acordo com o presidente do TSE, a fim de comunicar os resultados oficiais, o trabalho será feito “toda a noite de domingo [18] e tantas horas na segunda-feira [19] quantas forem necessárias”. Mais de sete milhões de bolivianos estavam aptos a irem às urnas no domingo (18) para eleger o novo presidente do país, o culminar de um longo processo para restaurar a ordem constitucional após o golpe de Estado que depôs o ex-presidente Evo Morales.

Pedido de Evo Morales

Em comunicado, Morales conclamou o povo bolivianos a participar das eleições com tranquilidade, sem cair em provocações e com o sentimento de assegurar a volta da democracia ao país. Leia a Íntegra:

1. Desde a cidade de Buenos Aires, neste dia histórico, domingo, acompanho o nosso povo no compromisso com a pátria, com a nossa democracia e com o futuro da nossa querida Bolívia, para exercer seu direito de votar seguindo os acontecimentos em nosso país. 

2. Saúdo o espírito democrático e pacífico com que transcorre a eleição.

3. Diante da quantidade boatos sobre o que vou fazer, quero dizer-lhe que a minha prioridade é exclusivamente a recuperação da democracia.

4. Eu quero pedir que não caiamos em nenhum tipo de provocação. A grande lição que nunca devemos esquecer é que violência só gera violência e que com ela todos perdemos.

5. Por este motivo, convoco as Forças Armadas e a Polícia para que cumpram fielmente seu importante papel constitucional.

6. Diante da decisão do Tribunal Superior Eleitoral de suspender o sistema DIREPRE (Divulgação de Resultados Preliminares) passando diretamente para a contagem oficial, eu quero informá-los de que, felizmente, o MAS tem seu próprio sistema de controle eleitoral e que nossas delegadas e delegados irão monitorar e registrar cada ato eleitoral em cada mesa.

7. O povo também nos acompanhará nesta tarefa de compromisso com a democracia, como fez muitas vezes, ao que agradecemos.

8. É muito importante que todas e todos os bolivianos e partidos políticos, aguardemos com tranquilidade que cada um dos votos, tanto das cidades quanto da área rural, seja contabilizado e que o resultado das eleições seja respeitado por todos.

9. Neste domingo, no campo, nas cidades, no altiplano, nos vales, nas planícies, na Amazônia e na região do chaco; em cada canto de nossa querida Bolívia e nos vários países do exterior, cada família e cada pessoa participará com alegria e com a tranquilidade da recuperação da democracia.

10. Corresponde no futuro que todos os bolivianos, incluindo a minha pessoa, estamos empenhados à tarefa principal de consolidar a democracia, a paz e a reconstrução econômica da Bolívia.

Jallalla Bolivia!

Buenos Aires, 18 de outubro de 2020.

Evo Morales