Índices de mortes/contágios apontam para queda “cautelosa” na pandemia

Média de mortes por Covid-19 no país atinge menor patamar desde abril. Outubro foi o mês com menos mortes desde abril. Comportamento da população ajuda, mas falta de testagem atrapalha.

Dia de Finados em cemitério de Brasília. Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Governo parou de atualizar dados, mas Fiocruz e imprensa observam queda inédita na média móvel de mortes pela doença, em 345 registros. Pela primeira vez, desde abril, país registra menos de 20 mil mortes por Covid-19 em um mês, indicam secretarias estaduais de Saúde. Os números positivos, no entanto, precisam estar contextualizados internacionalmente. O alarme disparado na Europa, por exemplo, se deu quando houve um aumento de contágio muito abaixo dos números atuais no Brasil.

Devido a problemas técnicos no banco de dados do Ministério da Saúde, causado por ataque tracker, os dados estatísticos da pandemia não estão sendo atualizados, desde a última quarta-feira (4). Apesar disso, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o consórcio da imprensa têm mantido os cálculos de média móvel, mesmo com as dificuldades, principalmente no Amapá, onde a energia elétrica, a internet e o abastecimento entraram em colapso devido ao incêndio na distribuidora de energia elétrica.

Curva de óbitos é animadora, embora mantida em patamares muito altos para o resto do mundo.

Segundo o cálculo da Fiocruz, o Brasil registrou nesta sexta-feira (6) a média de 345 mortes diárias por Covid-19, de acordo com o critério de média móvel de sete dias. O dado mostra que esse é o menor patamar de óbitos desde 28 de abril, quando o país registrou uma média de 331,43 mortes diárias.

Menor número de mortes num mês

O Brasil fechou o mês de outubro com 16.016 mortes pela Covid-19, mostram dados apurados pelo consórcio de veículos de imprensa junto às secretarias de Saúde do país. É a primeira vez desde abril que o país termina um mês com menos de 20 mil mortes pela doença, e o terceiro mês consecutivo com queda no número de óbitos pela Covid-19. 

O recorde de óbitos no país foi visto em julho, quando 32.912 pessoas perderam a vida para a doença causada pelo novo coronavírus. 

Comportamento da população

Na comparação com a sexta-feira anterior (30 de outubro), a média de mortes registrada ontem apresentou uma queda de 21,5%. Já na comparação com o dia 6 de outubro, o recuo foi de 47%. Isto representa um controle significativo na circulação do vírus na maior parte do país, depois de dois meses seguidos de queda lenta. A curva de queda começou a ocorrer no final de agosto, depois de 12 semanas seguidas com cerca de mil mortes diárias.

O pico de mortes por Covid-19, de acordo com a média móvel de sete dias, foi registrado no país em 25 de julho, quando foi computada uma média de 1.095,14 óbitos, ou seja, três vezes a mais do que o número apresentado ontem pela Fiocruz. Foram três meses (13 semanas) com patamares próximos de mil óbitos por dia, entre início de junho e final de agosto.

A média móvel de pessoas infectadas chegou ontem a 15.733,43 por dia, a menor desde 21 de maio deste ano, quando foram confirmados 15.324,29 casos da doença no país. Na comparação com a semana anterior, houve uma queda de 33,3%. Já em relação ao mês anterior, houve uma redução de 42,3% dos casos.

Curva de contágios mostra queda gradual após longo período de platô com cerca de mil óbitos diários.

Os dados de contágios são ainda mais otimistas, pois têm reflexos em óbitos nas semanas seguintes. A queda no contágio significa um cuidado preventivo maior da população, enquanto a queda nas mortes pode estar relacionada também com o padrão de atendimento hospitalar, que tem avançado cada vez mais, conforme a medicina compreende melhor o agravamento da doença e seu tratamento. 

Para além do importante uso da máscara e relativo distanciamento social mantido devido a restrições no comércio, home office e ensino à distancia, outro elemento que explica a redução no contágio, segundo epidemiologistas, é o alto número de doentes, que vai aumentando a imunidade da população, enquanto reduz a circulação do vírus.

Risco de aumento

A pandemia no Brasil é conduzida no fio da navalha, com lenta variação para baixo (ou para cima) e risco constante de explosão, devido à falta de políticas claras de combate e desinformação por parte do próprio governo. 

Apesar dessa aparente queda nos números, na terça-feira (3), pela primeira vez em seis semanas, a taxa de transmissão do novo coronavírus no Brasil ficou acima de 1, segundo o Imperial College de Londres. O índice, simbolizado por Rt, ficou em 1,01 – o que significa dizer que cada 100 pessoas infectadas transmitem a doença para outras 101. Isso significa, na prática, um avanço no contágio da doença.

Segundo a margem de erro do monitoramento britânico, a taxa de transmissão no país pode ser maior (Rt de até 1,09) ou menor (Rt de até 0,92). Nesses cenários, cada 100 pessoas com o vírus infectariam outras 109 ou 92, respectivamente. 

É bom compreender que todos os índices mencionados aqui, inclusive o Rt, são cálculos nacionalizados. Regiões ou estados podem estar com índices muito diferentes, como revelam a queda no contágio no Nordeste e Sudeste, por exemplo, e o aumento na região Sul.

Santa Catarina é o estado com os principais aumentos de contágio e morte no país, há semanas, assim como as capitais de Alagoas e Paraíba. Outras capitais de Norte e Nordeste despertam cuidado, assim como São Paulo parou de apresentar queda.

Segundo infectologistas, apesar da queda que tem sido vista no número de mortes, ter o R acima de 1 novamente é preocupante, pois significa que todo o progresso obtido pode ser perdido se o R se mantiver crescendo.

Brasil no mundo

A curva brasileira da epidemia está saindo do perfil alarmante que tinha antes, embora mantenha patamares muito altos comparativamente.

Atualmente, os países com maior número de novos contágios são os EUA, a França, a Índia, a Itália, a Polônia, com o Brasil na décima colocação. O país também aparece em 12º. no ranking de novas mortes, depois de países como EUA, França, Índia, México e Itália. O Brasil permaneceu por meses no segundo lugar em todos os índices, depois dos EUA, saiu desse patamar, enquanto os americanos continuam liderando os piores índices.

Apesar da melhora, o Brasil continua sendo um dos países que menos testam a população (95º.), enquanto outros países têm melhorado sua testagem, mesmo países muito mais pobres. Um aumento da testagem da população seria fundamental para um controle maior do contágio, pois, da testagem, depende a vigilância sanitária. Infelizmente, o governo federal restringe a testagem a pacientes sintomáticos. Quando há campanhas de testagem ampliadas, são iniciativas de governos estaduais. 

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